terça-feira, dezembro 02, 2008

Xiii... Deu branco!

 

O enfrentamento das provas dos vestibulares mais concorridos do país talvez seja o primeiro grande desafio profissional dos jovens. É fácil mensurarmos esse desafio: a conquista de uma vaga em uma universidade pública no curso de medicina, por exemplo, significa obter um prêmio de cerca de R$ 225.000,00 – preço médio que o aluno pagaria pelo curso em uma universidade particular. Um candidato que não apresentar um grau de excelência nos quesitos técnico (conhecimento do conteúdo programático) e psicológico (administrar a ansiedade no momento da prova) terá sérias dificuldades para obtenção de êxito. Nesse espaço, estou preocupado com o equilíbrio psicológico. Por que tanta gente “derrapa” no momento da prova? O que faz com que candidatos capacitados em termos de conhecimento fiquem tão nervosos que não consigam reverter em pontos o que sabem – têm brancos e sensações físicas como: taquicardia, suor excessivo, tremores, entre outros?
Inicio a reflexão sobre isso com um pensamento:

“Os homens são perturbados não pelas coisas em si, mas pelo que pensam sobre elas”. (Epitectus, 70 a.C.)

Exatamente isso. São os pensamentos que contam. Sempre que você experimenta um estado de ansiedade intensa, existem pensamentos que definem e fortalecem esse estado. Alguns leitores podem estar questionando se é possível os pensamentos produzirem as reações físicas observadas durante o nervosismo. Não é difícil comprovarmos isso: imagine um limão bem suculento. Agora, mentalmente corte esse limão, pegue uma das metades e esprema-a em sua boca. Se você fez esse exercício com concentração, provavelmente salivou. Isso comprova que os pensamentos produzem reações físicas. Mas como isso pode ocorrer durante a prova? Observe:

batimento cardíaco um pouco aumentado
(reação física)

estou ficando nervoso
(pensamento)

respiração superficial e aceleração dos batimentos cardíacos
(reações físicas)

não estou me lembrando de nada, não vou conseguir
(pensamento)

respiração mais superficial e menos oxigênio para o cérebro
(reações físicas)

eu sabia que ia ficar nervoso, me deu branco!
(pensamento)

Observe que uma seqüência de pensamentos intensificou as reações físicas e culminou no famoso branco. Mas como impedir que isso aconteça? É importante que você identifique o que está pensando e verifique a veracidade dos seus pensamentos antes de agir:

batimento cardíaco um pouco aumentado
(reação física)

estou ficando nervoso
(pensamento)

é perfeitamente comum ficar um pouco nervoso no início de uma prova. Tenho certeza de que quem está levando essa prova a sério também está nervoso.
(pensamento compensador)

.............

não estou me lembrando de nada, não vou conseguir
(pensamento)

é impossível se lembrar de tudo. Não me lembrar de alguns assuntos não quer dizer que eu não vou conseguir. Vou dar o máximo de mim.
(pensamento compensador)

Estar vigilante aos pensamentos e considerar o maior número possível de ângulos de um determinado problema pode levar a pessoa a novas conclusões e desfechos. É importante ter em mente que:

  • se para ter paz, você precisa da certeza de que irá passar, então você nunca terá paz, pois essa certeza é impossível;

  • se para ter paz, você precisa lembrar-se de tudo, então você jamais terá paz, pois é impossível se lembrar de tudo;

  • se para ter paz, você acredita ser necessário dar tudo certo no dia da prova, então você não terá paz. É perfeitamente possível que algo dê errado sem que isso o prejudique a ponto de impedir a conquista de sua vaga.

Embora a identificação e a modificação dos pensamentos sejam um ponto central para a diminuição da ansiedade, colocá-las em prática exige treino e vigilância. Treine bastante e boas provas!

Celso Lopes de Souza

  • Médico formado pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP).

  • Membro do grupo de estudos de TDAH (Transtorno do Déficit da Atenção/ Hiperatividade) da UNIAD/UNIFESP.

  • Ministra palestras na área de psiquiatria – incluindo o tabagismo.
  • Autor de artigos técnicos sobre os mecanismos cerebrais de dependência da nicotina, além de dirigir uma clínica antitabagista.
  • Autor do livro
    A Última Tragada, publicado pela editora HARBRA.

sábado, outubro 25, 2008

Aulas de adaptação para imigrantes é apartheid, acusa revista italiana Famiglia Cristiana


Quinta-Feira - 23/10/2008

A revista italiana Família Cristã, uma das mais importantes publicações italianas voltadas ao público católico, divulgou matéria condenando  a proposta de aulas de adaptação para crianças imigrantes, definido-as como "aulas-gueto" e "a primeira medida racial do Parlamento". Segundo a Revista, "A moção aproxima perigosamente a escola da segregação e da discriminação".

Em agosto passado, a Revista, vinculada  à Società Apostolato San Paolo, criou uma forte polêmica ao destacar, em editorial, que a Itália corria o risco de retornar ao fascismo. O texto, assinado por Beppe Del Colle, apontando vários argumentos para indicar o renascimento do fascismo em função de medidas tomadas pelo atual governo, levou o Vaticano a negar que a publicação tivesse habilitação para exprimir o pensamento da Santa Sé.  A revista é acusada por políticos de centro-direita de seguir a cartilha do comunismo.

Agora, reagindo à intenção do governo de criar classes especiais para imigrantes, a revista frisa que  “o problema da inclusão dos estrangeiros na escola é real, mas as respostas não são de integração. Quem pensa em um 'desenvolvimento separado' na Itália, saiba que esse conceito em outra língua se chama apartheid".

Ainda conforme a famiglia Cristiana, oO governo poderia substituir e derrubar (por amor à pátria) a primeira moção racial aprovada pelo Parlamento italiano. Ou observar experiências como em Florença, onde um ônibus leva as crianças estrangeiras da escola para aulas de italiano e depois as leva de volta às salas de aula."

A medida do governo  prevê que as crianças imigrantes, além da língua italiana, devam aprender o respeito às tradições territoriais e regionais, à diversidade moral e à cultura religiosa do país que as acolhe, o apoio à vida democrática e a compreensão de direitos e deveres. "Alguém sabe dizer como explicar isso a uma criança de 5 ou 6 anos, que deve ainda aprender italiano?", questionou a revista.

Família Cristã recordou que, nos anos 60, quando crianças napolitanas, calabresas ou sicilianas iam à escola em Novara (cidade da região do Piemonte, norte da Itália), ninguém pensou em colocá-las em uma "classe diferencial" para que aprendessem italiano, costumes e tradições do Norte, nem fazer um teste de ingresso. Por que agora se pensa nessas medidas?", concluiu a publicação. (Com RV)

Desemprego e falta de oportunidades: as queixas de imigrantes estrangeiros na Itália

Quinta-Feira - 23/10/2008

A Itália conheceu, em 2008, o maior índice de imigração estrangeira da história do país. Fotos: Mara Rocha

Por Mara Rocha

No início do século XX, muitos italianos deixaram a sua terra natal, fugindo de uma Itália castigada pelas guerras. Criaram raízes em países promissores como os Estados Unidos, Argentina e Brasil. Desembarcaram em terras estrangeiras com as malas de papelão repletas de histórias e sonhos. Acrescentaram aos seus locais de destino os seus costumes e tradições. Quase um século depois, o processo se inverte e a Itália conhece, em 2008, o maior índice de imigração estrangeira da história do país. Provenientes da Europa do Leste, África, América Latina, Ásia, os imigrantes estrangeiros chegam em solo italiano, muitos sem falar a língua local, e precisam enfrentar as adversidades culturais, a nostalgia de casa e os problemas sociais da Itália em tempos de crise.

Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (ISTAT), são 3.432.651 cidadãos estrangeiros registrados nas “anagrafi” das 8.101 prefeituras – um aumento de 16,8% (493.729) com relação ao ano passado – e 570 mil clandestinos – quase 1% da população italiana – nas contas da Comissão da União Européia (Ue). No auge da crise financeira mundial, a economia italiana se encontra instável, e o “boom” nas imigrações agrava os problemas sociais do país despreparado para tal crescimento populacional. No primeiro semestre de 2008, o desemprego atingiu a marca de 6,7% (trezentas mil pessoas sem emprego), o maior índice dos últimos dois anos, divulgou o ISTAT.

Como conseqüência, aumentaram também os casos de racismo. No último mês, o chinês Tong Hong-Shen (36) foi agredido, em Roma, por uma gang de adolescentes e o afrodescendente Abdoul Guiebre (19) foi assassinado a pauladas, em Milão, por Fausto Cristofoli e seu filho Daniele. No mesmo período, o ganese Emmanuel Bonsu (22) foi preso por engano em Parma e chamado de negro porco, enquanto apanhava dos policiais.

Os crimes cometidos por estrangeiros é um outro agravante da intolerância racial. De acordo com o Ministero dell’Interno, cerca de 35% dos crimes na Itália (um a cada três) são cometidos por imigrantes, principalmente clandestinos.

Como medida de controle da entrada de clandestinos e ação dos imigrantes estrangeiros na Itália, o governo lançou este ano o projeto de lei chamado “pacchetto sicurezza”. Dentre as medidas do “pacchetto”, estão as penas de seis meses a quatro anos de prisão para o imigrante clandestino (clandestinidade agora é crime) e a expulsão do estrangeiro condenado a dois ou mais anos de reclusão (antes, o mínimo era de dez anos). O cidadão que alugar um imóvel a um estrangeiro sem visto de permanência terá a propriedade confiscada pelo governo. Maior fiscalização para casamentos entre italianos e estrangeiros: antes da oficialização do matrimônio, o casal precisará de uma permissão que sairá após dois anos de convivência, evitando assim os casamentos de conveniência. Quanto às transferências internacionais de dinheiro, as agências deverão exigir a cópia do documento de identidade italiano do cliente para não serem fechadas.

No livro "Viaggio in un’Italia diversa", de Bruno Vespa, o presidente da Câmara dos Deputados Gianfranco Fini (Alleanza Nazionale) defendeu uma maior facilitação nos processos de visto de permanência para os clandestinos com trabalho e sem problemas com a Justiça italiana. Segundo Fini, é o único modo para evitar peripécias inúteis dos clandestinos para conseguirem um visto de ingresso na Itália. O presidente da Câmera se refere aos estrangeiros como a brasileira R.S. (36), que entrou na Itália como turista (tempo de permanência máximo permitido é de três meses), onde mora clandestinamente já há um ano. R.S. trabalha sem carteira assinada como faxineira e babá para algumas famílias italianas e divide apartamento com outros dois estrangeiros na mesma condição dela. Com o dinheiro arrecadado pela brasileira (1.200 euros), ela sustenta os seus três filhos no Brasil.

Provenientes do Leste Europeu, África, América Latina e Ásia, imigrantes estrangeiros chegam a Itália, muitos sem falar a língua local, e se inserem nos problemas sociais enfrentados pelo país em tempos de crise

“Envio, todos os meses, oitocentos euros para casa”, conta. Um dos patrões de R.S. deu entrada no processo de visto de trabalho da funcionária sete meses atrás, mas a brasileira ainda não obteve uma resposta das autoridades italianas. Enquanto aguarda o visto, R.S. planeja o futuro: “uma vez com meus documentos italianos, vou fazer um curso de enfermagem. Quero buscar uma profissão que me dê uma vida digna” - preconiza.

O equatoriano P.G. (30) chegou na Itália em 2005. Sem falar italiano nem conhecer ninguém, viu-se desempregado e passou a se prostituir em uma sauna gay. Em uma noite, já chegou a fazer quatorze programas. “Um recorde na sauna em que trabalho”, conta. Recebe, em média, quatro mil euros por mês e paga quinhentos euros ao dono da sauna para dormir em um quarto com outras cinco pessoas. No Equador, somente uma de suas irmãs conhece a sua atividade na Itália. P.G. reclama da solidão de sua vida clandestina. “Não possuo amigos e quando vou à rua, me sinto julgado pelos desconhecidos à minha volta”, desabafa. O equatoriano sonha com o retorno ao seu país de origem, mas tem medo de voltar e ficar sem emprego. “Pretendo juntar dinheiro para não voltar com uma mão na frente e outra atrás”.

Margit Nagy deixou a Hungria há nove anos. Entrou como turista, quando a Hungria ainda não fazia parte da União Européia (ingressou em 2003). Por três anos, permaneceu na Itália como clandestina. Na ocasião, dirigiu um Centro de Estética sem possuir a documentação italiana. Teve a carteira assinada quando trabalhou como doméstica para uma empresa de limpeza e, mais tarde, em uma creche. Agora, casada e com a cidadania italiana, não consegue emprego. “Achei que com a minha cidadania, conseguiria um trabalho, mas não é tão fácil. Só consigo “bicos”, reclama.

A nigeriana Thomas Esther (38) também entrou na Itália como turista, em 1990, e ficou clandestinamente. Sem os documentos italianos, fez “bicos” como faxineira e garçonete, ganhando o suficiente para sobreviver. No início, passou por dificuldades por não falar italiano e ser clandestina em uma Itália ainda desacostumada com a imigração africana. “A vida foi muito difícil para todos os negros dos anos 90. Fomos os primeiros a chegar aqui. No ônibus, as senhoras, antes de se sentarem, limpavam os bancos quando se levantava um negro”, conta. O visto de permanência da nigeriana chegou quatro anos depois quando ela se casou com um italiano, com quem teve três filhos. Hoje, possui uma loja de produtos alimentícios importados. “Estou bem agora. Trabalhei muito, fiz muitos cursos e depois preferi voltar às minhas origens. Trabalho em uma galeria cheia de estrangeiros e vendo produtos do mundo inteiro”.

Esther não esqueceu dos momentos de dificuldade vividos na Itália e ajuda muitos estrangeiros que não tiveram a sua mesma sorte dando abrigo e bons conselhos. Aos estrangeiros que sonham em morar na Itália, ela adverte “É preciso se preparar para o futuro, porque depois se chegará aos 60 anos. Não dá para trabalhar como garçonete a vida inteira ou sonhar com o príncipe encantado italiano. Quem chega aqui sem instrução não consegue nada. Se não tiver uma profissão, venha com a idéia de estudar e seguir uma carreira”.

maraorocha@yahoo.com.br

Redação revista eletrônica Oriundi

A relação entre as finanças e a economia da produção e do consumo

 

Matéria da Editoria:
Economia
25/10/2008

PAUL SINGER

 

Para superar a crise financeira e impedir que ela lance a economia real em recessão, é essencial que o crédito seja restaurado, o que possivelmente exigirá uma intervenção efetiva do poder público nos bancos. Se os governos não fizerem isso, é provável que o dinheiro público injetado nos bancos seja entesourado, porque é o que todos os agentes privados fazem enquanto o pânico perdura.

Paul Singer

Data: 23/10/2008

O mistério do interrelacionamento entre as finanças e a economia da produção e do consumo
É nos momentos de crise financeira que a opinião pública se volta a este tema: como se interrelacionam o mundo financeiro com suas vicissitudes especulativas e o mundo da produção e consumo de valores de uso. São dois mundos distintos: no primeiro circulam valores monetários denominados genericamente de ativos porque são créditos, a cada um dos quais corresponde um débito (ou passivo); no segundo circulam bens e serviços que satisfazem necessidades de seres humanos, que por isso se dispõem a pagar para adquiri-los. Estes bens e serviços são mercadorias – produtos do trabalho humano destinados à venda, à troca por dinheiro - e neste sentido também são valores monetários. A diferença entre ativos e mercadorias é que os primeiros são valores virtuais, isto é, não satisfazem qualquer necessidade diretamente, ao passo que os últimos são valores reais, prontos para serem utilizados ou consumidos.
As finanças prestam serviços à economia real: recebem em depósito a poupança de famílias e empresas (sem falar dos governos) e lhes oferecem empréstimos. Serviços financeiros são basicamente de intermediação entre famílias e empresas que têm poupanças e outras que necessitam de dinheiro. As finanças recolhem o dinheiro sobrante das primeiras e o emprestam às últimas. Mas, sua atividade principal é emprestar a governos e empresas para que possam fazer investimentos. Embora as compras a prazo dos consumidores sejam importantes – sobretudo o crédito hipotecário - a maior parte dos ativos se destina a financiar investimentos do poder público e das empresas capitalistas, sobretudo de grande porte.
Além disso, boa parte da poupança captada pelas finanças são delas mesmas. A atividade financeira expandiu-se acentuadamente nos últimos decênios de globalização e neo-liberalismo, usufruindo de lucros extraordinários, parte dos quais alimentam as remunerações milionárias dos altos executivos financeiros. Uma parte crescente do capital total da economia capitalista globalizada gira no mundo financeiro e nas fases de alta dos ciclos de conjuntura usufrui de inegável hipertrofia.
São muitas as modalidades de empréstimos praticados pelas finanças: depósitos bancários, títulos negociados em Bolsas de Valores, emissões de títulos por governos, grandes empresas, companhias de seguros (apólices), emissão de cartões de crédito e de débito e assim por diante. O que efetivamente importa é que os intermediários podem emprestar mais dinheiro do que captaram do público ou de outros intermediários. Eles podem fazer isso porque gozam de crédito por parte do público que aceita em pagamento os ativos avalizados por bancos. É assim que funcionam os cheques e os cartões eletrônicos: são ordens de pagamento que o cliente do banco emite para que determinadas dívidas, que ele faz junto a lojas, restaurantes etc., sejam pagas pelo seu banco. A grande maioria das transações dos agentes da economia real é liquidada por meio de instrumentos chamados meios de pagamento emitidos por bancos. Só transações de pouco valor são liquidadas por meio da moeda oficial emitida pela Autoridade Monetária, que pode ser o Banco Central ou o Tesouro do governo nacional.
Os bancos ganham dinheiro fazendo empréstimos, pelos quais cobram juros. Os serviços que prestam aos depositantes só lhes dão despesas. Os bancos precisam dos depósitos porque eles constituem o lastro dos empréstimos que fazem. O Banco Central exige que os bancos comerciais mantenham um encaixe mínimo que serve para cobrir os saques dos depositantes. Os prestatários (que recebem os empréstimos) sacam rapidamente os valores acrescentados aos seus saldos para pagar os fornecedores de equipamentos, instalações, matérias primas etc. que são os elementos materiais de seus investimentos. Os fornecedores, por sua vez, depositam imediatamente o dinheiro recebido em seus bancos, quando o dinheiro não é transferido diretamente para suas contas. O que significa que o dinheiro utilizado pelos agentes da economia real para liquidar transações entre eles circula incessantemente entre os bancos, ou seja, no âmbito financeiro.
Quando todos os bancos, no afã de ganhar mais, ampliam os empréstimos a agentes da economia real, os depósitos de todos eles aumentam. O efeito importante é sobre a economia real, que se expande na medida em que os investimentos crescem, o que ocasiona a ampliação do emprego, da produção e do consumo. A expansão da economia real se auto-alimenta na medida em que desempregados conseguem trabalho, os gastos do público aumentam, o que suscita mais investimentos, mais emprego e mais produção.
O ciclo de conjuntura
A fase de alta do ciclo se origina mais frequentemente na economia real do que no âmbito financeiro. Ela é desencadeada geralmente por inovações tecnológicas de grande impacto sobre a produção e/ou consumo ou por mudanças institucionais, como a instauração de sistemas de previdência social, de assistência à saúde ou de transferência de rendimentos à população mais pobre. A realização de inovações tecnológicas exige investimentos vultosos, o que eleva as demandas de financiamento por parte das empresas. O mesmo se dá quando iniciativas governamentais de redistribuição de renda elevam os gastos de consumo de amplos setores da sociedade, o que também requer investimentos para ampliação da capacidade de produção dos bens e serviços consumidos por aqueles setores.
O crescimento da demanda por empréstimos normalmente evoca resposta favorável das finanças, que farejam oportunidades para bons negócios. É conhecida a tendência dos intermediários financeiros de agir como rebanhos: quando a alta cíclica da economia real acontece, todos os banqueiros se entusiasmam, convictos de que os riscos de que os empréstimos deixem de ser pagos tornaram-se insignificantes. Na medida em que as expectativas otimistas se revelam verdadeiras – os financiamentos são pagos pontualmente – o entusiasmo cresce até se tornar euforia. Microempresas, incapazes de oferecer garantias reais normalmente exigidas, acabam por receber empréstimos em função do seu potencial, representado algumas vezes por não muito mais do que uma boa idéia.
A euforia é contagiante. Ela pode ter começado na economia real e contaminado as finanças ou vice-versa. Seja como for, enquanto o potencial das inovações tecnológicas ou das mudanças institucionais não estiver esgotado, a fase de alta do ciclo se eleva cada vez mais, graças à interação simbiótica das finanças com a economia real. Até que ela bate num teto. Este pode ter por causa o esgotamento da capacidade de expansão da oferta de mercadorias, por falta de mão-de-obra ou de oferta de energia ou de capacidade de transporte e armazenagem ou de tudo isso em conjunto.
Outra origem do teto para a alta pode ser o esgotamento da necessidade das mercadorias cuja produção está em perene aceleração. Este foi o caso da bolha imobiliária, que está na origem da atual crise financeira. A demanda por habitação costuma ser grande, mas certamente não é infinita. A alta da atividade de construção tem elevado poder de irradiação por toda economia, na medida em que ela implica em procura crescente por material de construção, equipamentos e mão-de-obra, além de mobília, eletrodomésticos, objetos de decoração etc., etc.. Como a construção de casas e prédios é relativamente prolongada, quando o esgotamento da demanda se torna manifesto, a quantidade de construções em andamento está no auge. Interrompê-las pode ser extremamente custoso, mas levá-las a cabo implica em mais investimentos numa mercadoria que provavelmente se tornará invendável, a não ser por um preço muito abaixo do custo.
O estouro duma bolha imobiliária atinge em cheio as finanças porque imóveis são objetos privilegiados para a especulação, particularmente porque os investimentos parecem protegidos por elevada garantia material, qual seja, os próprios imóveis. Uma parte da intermediação financeira se especializa no financiamento hipotecário e quando a bolha atinge seu apogeu este setor atrai enorme quantidade de dinheiro, parte do qual é investida na especulação fundiária. Quando finalmente a oferta de residências ultrapassa a demanda solvável, o preço tanto dos terrenos como das construções despenca, acarretando grandes prejuízos não só aos investidores, mas também às instituições que os financiam. No caso da atual crise financeira, a peculiaridade é que, durante a alta, instituições financeiras fizeram empréstimos à população de baixa renda, que implicam riscos maiores do que os normais. Por isso os títulos de crédito destas operações recebem a classificação de subprime, o que significa algo como “abaixo dos melhores”.
Para poder vender estes títulos ao público sem deságio, as instituições os empacotaram com outros títulos de risco considerado menor, numa manobra conhecida como de diluição de riscos. A operação aparentemente foi um sucesso: títulos no valor de muitos bilhões de dólares foram incorporados às carteiras de ativos de numerosos bancos de investimento, não só dos Estados Unidos, mas também da Europa. Quando o ciclo imobiliário entrou em baixa, o preço das residências e o aluguel das mesmas sofreram forte queda, tornando desproporcionalmente onerosa a dívida assumida por milhões de famílias pobres. Em outras palavras, o prejuízo causado pelo estouro da bolha foi colocado sobre os ombros de quem menos podia suportá-lo. Os devedores deixaram de honrar suas dívidas, arriscando-se a perder suas casas e apartamentos, cada vez mais desvalorizados. Desta maneira o prejuízo bilionário da crise imobiliária voltou ao colo dos especuladores financeiros, que se mostraram igualmente incapazes de suportá-lo. Um grande banco estadunidense faliu e diversos outros foram provisoriamente estatizados, tanto na América do Norte como na Europa.
Crises que se originam no âmbito financeiro
Há crises que se originam no próprio setor financeiro, sem envolver inicialmente a economia real. Uma crise deste tipo ocorreu em 2000, nos Estados Unidos, por ocasião da grande euforia ocasionada pela criação da Internet e a conseqüente revelação de suas inegáveis potencialidades. A criação de empresas de informática muito lucrativas e capazes de expansão fulminante provocou uma corrida nas Bolsas de Valores por ações de firmas em setores de alta tecnologia. As ações passaram a se valorizar cada vez mais, proporcionando ganhos milionários aos especuladores institucionais – fundos de investimento, fundos de pensão, companhias de seguro etc. – e também a um crescente número de pessoas físicas, que passaram a arriscar suas economias neste jogo.
O Federal Reserve – o banco central dos Estados Unidos – resolveu intervir para deter a bolha, certamente para limitar as perdas quando seu inevitável estouro tivesse lugar. Para tanto, o Federal Reserve começou a elevar paulatinamente a taxa oficial de juros, encarecendo deliberadamente o crédito em geral. Esta ação levou meses, até que a taxa de juros para investimento praticamente ‘sem risco’ chegasse a um patamar que levasse investidores a preferir aplicações a juros em lugar de comprar ações, cujo rendimento depende da lucratividade da firma que as emite. A partir deste momento o volume de recursos aplicados em ações começou a diminuir, o que fez com que os seus preços passassem a crescer cada vez menos. Subitamente, o humor dos especuladores mudou inteiramente e um número cada vez maior deles começou a vender suas ações, tendo em vista aplicar o dinheiro em outros ativos. O que causou uma débâcle nas Bolsas, não só dos EUA, mas também do resto do mundo, com queda vertical das cotações.
Os prejuízos dos intermediários financeiros foram enormes, com a perda de trilhões de dólares no valor das empresas. Ficou evidente que as cotações haviam atingido níveis muito maiores do que a lucratividade destas empresas justificaria. O Federal Reserve imediatamente inverteu sua política, passando a reduzir também paulatinamente a taxa de juros, para tentar evitar que a crise das bolsas afetasse a economia real. Mas, apesar da notável agilidade do Federal Reserve, a economia real estadunidense entrou em recessão. O débâcle dos mercados de ações ocasionou fortes perdas aos fundos, cujos investidores passaram a conter seus gastos, o mesmo acontecendo com os milhões de particulares que arriscaram suas economias no jogo especulativo. E o crédito mais restrito e caro também impediu que muitos investimentos planejados fossem executados.
A queda na demanda dos consumidores e na realização de investimentos causou uma queda na atividade econômica, que foi enfrentada pela Autoridade Monetária mediante injeções de dinheiro, que ajudaram a financiar o setor imobiliário. A recessão de 2000/2001, agravada pelo ataque às Torres Gêmeas de Nova Iorque, foi superada pela persistente alta dos preços dos imóveis e a expansão da atividade construtiva, que constitui o pano de fundo da crise financeira começada em 2007 e que atualmente (2008) começa a afetar a economia real estadunidense e européia.
O inter-relacionamento entre as finanças e a economia real
Historicamente, as finanças modernas surgiram desde o século XIV, na Europa Ocidental para financiar os governos monárquicos, principalmente suas guerras e suas alianças matrimoniais. Em muitos países, os primeiros bancos eram oficiais, possuídos por autoridades nacionais ou locais. No Brasil, nosso primeiro banco foi criado por D.João VI no início do século XIX e permaneceu sob controle do governo imperial até a Proclamação da República, sendo a criação de bancos privados mal tolerada pelo poder público.
A conhecida propensão das finanças entrarem em crise, como vimos acima, provoca praticamente sempre uma forte intervenção estatal no setor, tendo em vista preservar a normalidade dos negócios financeiros e muitas vezes com o propósito explícito de proteger a economia real das emanações destrutivas da crise financeira. Em diversos países, todos os intermediários financeiros chegaram a ser estatizados e ficaram nesta condição por anos, até que algum governo resolveu reprivatizá-los..
Sem considerar o papel do Estado é impossível compreender o inter-relacionamento entre as finanças e a economia real. Atualmente, as finanças de cada país são constituídas majoritariamente por entidades privadas, mas sob controle e fiscalização do Banco Central. As finanças são quase sempre dominadas por um número reduzido de grandes entidades, que constituem complexos financeiros com atuação em quase todas modalidades financeiras, desde os bancos de varejo e os bancos de investimento atacadistas (que lidam apenas com grandes inversores) até as companhias de seguro, os fundos de investimentos, as companhias de cartões eletrônicos etc..
Com o advento da globalização financeira, produto da abertura total da circulação dos capitais sobre as fronteiras nacionais de numerosos países, o poder do Estado nacional sobre as finanças foi consideravelmente erodido, porque se algum governo nacional vier a tomar medidas que contrariem os interesses das firmas financeiras privadas, ele se defrontaria imediatamente com forte fuga de capitais para paraísos fiscais, que lhes garantem liberdade total de ação a custo muito baixo. Para que os governos nacionais possam recuperar o controle sobre o capital financeiro, a primeira medida teria que ser o restabelecimento do controle sobre a movimentação internacional dos capitais privados.
A economia real também é dominada por um punhado de transnacionais de grande porte. Para não ter de se submeter aos complexos financeiros, estas firmas criaram seus próprios braços financeiros, semelhantes aos complexos financeiros independentes. As estruturas das finanças e da economia real se assemelham, sobretudo em seus aspectos oligopólicos e transnacionais. Mas, a economia real é muito mais diversificada e é composta por um número muito maior de empreendimentos de pequeno porte do que o setor financeiro. Por isso, na maior parte dos países, a intervenção do Estado na economia real é mais dispersa e muito mais diversificada, consistindo em geral na concessão de incentivos e imposição de proibições de atividades que violam a concorrência, os direitos dos trabalhadores ou a preservação de recursos naturais não renováveis.
A economia real é instável e imprevisível por causa da ausência de qualquer tentativa de coordenação da produção e do consumo, distribuídos hoje em dia por milhares de mercados distintos. Tentativas de coordenar as ações de todas as empresas de determinado setor são consideradas formação de cartel e portanto ameaças à competição, o que é punível por lei. Decisões devem ser tomadas isoladamente por cada empresa, para que a competição nos diversos mercados seja livre.
Para tornar a economia real mais estável e previsível a cartelização de determinados ramos deveria ser não só permitida, mas fomentada e controlada pelo poder público, para tornar as decisões estratégicas das empresas mutuamente congruentes e portanto mais eficazes. O controle público teria por objetivo impedir que o ganho de eficiência seja apoderado apenas pelo segmento mais forte, mas compartilhado com todas as empresas da cadeia produtiva e com os consumidores dos produtos.
A instabilidade e imprevisibilidade do mundo financeiro são, em certa medida, reflexos destas características da economia real. Mas, no mundo financeiro a imprevisibilidade é condição indispensável para que possa haver especulação, que constitui a razão de ser de parte considerável (Bolsas de Valores e de Mercadorias) deste mundo. Isso faz com que a instabilidade e a incerteza quanto ao futuro, nas finanças, sejam muito maiores do que na economia real. Os ativos com que lidam as finanças, são contratos a serem executados num futuro, que no capitalismo é inevitavelmente incerto.
Além disso, há outra diferença entre as finanças e a economia real que torna a instabilidade e imprevisibilidade muito maior no âmbito financeiro: é que este está sujeito a ondas de otimismo ou pessimismo que arrastam o conjunto de operadores numa ou noutra direção, maximizando ganhos e perdas sempre que o rebanho muda bruscamente de direção. A especulação na economia real se funda mais em informações específicas sobre determinados setores de produção e consumo. Por isso, a economia real é menos propensa a se lançar inteira em ondas de otimismo ou pessimismo, provocadas por apreciações apenas subjetivas.
A crise financeira, por tudo isso, pode ser considerada inevitável, pelo menos enquanto a desregulação das finanças permanecer em vigor. A crise faz com que a prestação de serviços financeiros à economia real se contraia cada vez mais até cessar ao todo, a partir do momento em que a crise alcança a maior parte dos bancos e demais intermediários. O trancamento das fontes de crédito obriga as empresas que não dispõem de reservas líquidas abundantes a suspender o pagamento de suas dívidas e se a crise se prolongar elas acabam por falir. Os rombos deixados pelas falidas arrastam suas credoras à inadimplência por sua vez. Desta maneira, a crise financeira contamina a economia real, podendo lançá-la em recessão em pouco tempo.
Então, o que fazer?
Trata-se de circunscrever a crise financeira, num primeiro momento, para evitar que ela venha a paralisar a economia real. Uma eventual crise da economia real tem conseqüências sociais e políticas muito mais amplas porque ela começa por lançar no desemprego e logo mais na miséria uma parcela substancial da sociedade. Uma crise da economia real é muito mais difícil de reverter por medidas de Estado, porque não basta recuperar a confiança da população em determinadas instituições. Seria necessário criar novas atividades capazes de reinserir milhões de pessoas na economia mediante políticas de fomento e incentivo que somente poderão ser definidas por um processo prolongado de tentativa e erro. A grande crise de 1929 levou uma década para ser superada e mesmo assim graças ao “auxílio” de uma guerra mundial.
Como a crise da economia real não aconteceu ainda e tão pouco é fatal, partiremos do pressuposto de que é possível preveni-la desde que sejam adotadas políticas capazes de resolver em curto prazo a atual crise financeira e ao mesmo tempo lancem fundamentos de uma nova estrutura institucional capaz de evitar novas crises financeiras no futuro. Convém lembrar que o sistema monetário internacional implantado nos anos 1930, e consolidado e sistematizado na Conferência de Bretton Woods em 1944, livrou o mundo de crises financeiras internacionais por mais de 40 anos.
Ao contrário da política do governo de Bush, que se dispõe a resgatar os bancos falidos comprando seus créditos podres, e por isso sem valor, por preços que evitem a bancarrota gastando algo como 700 bilhões de dólares do erário público, o Estado deveria se apossar dos bancos falidos e só então reabilitá-los com recursos do tesouro. Se os governos não fizerem isso, é provável que o dinheiro público injetado nos bancos seja entesourado, porque é o que todos os agentes privados fazem enquanto o pânico perdura. Mas, para superar a crise financeira e impedir que ela lance a economia real em recessão, é essencial que o crédito seja restaurado, o que possivelmente exigirá uma intervenção efetiva do poder público nos bancos.
Uma vez superada a crise, uma reformulação em profundidade das finanças deveria ser pautada. Há bons argumentos a favor da estatização perene de todos os bancos que emitem os meios de pagamento do país, não só para preservar o meio circulante da especulação mas, sobretudo, para garantir os valores dos depositantes e fazer com que sejam aplicados onde são mais necessários do ponto de vista do interesse geral da sociedade. O que pode implicar numa governança participativa do novo sistema financeiro, com forte presença dos assalariados, trabalhadores da economia solidária, além dos setores empresariais de praxe.
Se as finanças fossem todas colocadas sob um comando unificado, elas poderiam controlar a economia real inteira, impondo-lhe diretrizes sobre o que e quanto produzir e consumir, de forma semelhante ao que foi feito nos países do ‘socialismo real’ no afã de planejar centralmente todas as atividades econômicas. Este não é um modelo que permitiria a paulatina construção duma economia socialista autogestionária. Em lugar dele algo como um parlamento econômico, composto por representantes eleitos dos diferentes modos de produção – capitalismo, pequena produção de mercadorias, economia solidária, economia pública local, regional e nacional etc.. – certamente seria mais adequado.
Finalmente, o mercado de capitais teria de ser reformulado, tendo em vista não só coibir a especulação, mas também reconstruir os laços entre o investidor privado e o empreendimento em que ele é sócio. Neste sentido, seria necessário retirar a presente “liquidez” dos investimentos, que hoje podem ser colocados numa firma e retirados depois num piscar de olhos e quase sem custos. Entre as idéias que me ocorrem uma seria limitar o número de sócios de cada firma, de modo que seja possível a cada um participar efetivamente da administração da mesma, pelo menos na condição de membro duma assembléia de acionistas com influência real sobre a empresa. Só assim, propostas de cogestão de empresas por proprietários, empregados e representantes dos clientes p.ex. poderiam ser viáveis.
(*) Paul Singer é economista, Secretário Nacional de Economia Solidária

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15322&boletim_id=479&componente_id=8426

sexta-feira, setembro 26, 2008

Síntese de países

O Mundo em síntese num ótimo esquema informações variadas de todos os países do Mundo você em com neste sítio

IBGE - Países@

Vale a pena conferir e consultar quando necessário.

quarta-feira, setembro 17, 2008

O BRASIL TREME

 

O País sofre com terremotos em diversas regiões - e já investe em uma moderna rede de sismógrafos
Cai por terra a velha teoria de que no Brasil, ainda que as coisas nem sempre andem bem, “pelo menos não tem terremoto”. Nos últimos dias, a natureza falou por si. E os cientistas apenas confirmaram: o solo brasileiro treme constantemente. No interior do planeta, na fronteira entre a crosta terrestre e os mantos de magma, há placas tectônicas que se encaixam como peças de um quebra-cabeça. Em algumas áreas do globo, como é o caso do continente sul-americano, essas placas deslizam umas sobre as outras e essa dança gera um atrito tão forte que empurra a crosta terrestre para cima, gerando terremotos. O resultado dessa “dança” espalhou pânico entre moradores de cidades como Sobral, no Ceará, onde em apenas três dias foram registrados 507 tremores de terra. “A intensidade não foi alta (3,9 graus na escala americana Richter, que vai até 9 graus), mas foi o suficiente para destelhar casas e fazer a população ir dormir nas ruas, em barracas e redes improvisadas”, disse à ISTOÉ Lucas Vieira Barros, chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), que controla 300 estações sismológicas do País. Apesar de centenas dessas estações monitorarem o solo brasileiro, a verdade é que os atuais equipamentos precisam ser modernizados para que possam alertar em tempo real a população sobre os possíveis danos que os tremores possam causar – é isso que fez a Petrobras investir R$ 20 milhões no Observatório Nacional para a implantação dos mais modernos equipamentos feitos na Suíça e nos EUA. Serão ao todo 50 estações do Sul ao Nordeste do Brasil. “Entraremos no rol das nações desenvolvidas do ponto de vista de estudos geofísicos”, diz Sérgio Luiz Fontes, diretor do Observatório Nacional.
Nos últimos meses, o Brasil nunca tremeu tanto. O geólogo Barros explica que as falhas geológicas que cruzam o solo do País geraram 30 sismos com magnitude acima de 5 graus. Os primeiros abalos registrados foram no ano de 1955, em Mato Grosso e no Espírito Santo. Depois disso, as maiores incidências estão no Ceará e no Rio Grande do Norte. Para evitar que um terremoto aconteça sem que a população esteja preparada, como ocorreu em dezembro de 2007 na comunidade rural mineira de Caraíbas, onde uma criança morreu e dezenas de casas foram completamente destruídas, o Observatório Nacional irá utilizar um moderno sismógrafo. Trata-se de um aparelho que usa sensores para registrar ondas sísmicas geradas no interior do Planeta, antes mesmo de chegar à superfície. Outra novidade serão os sistemas de posicionamento de satélites que conseguem mapear quaisquer movimentos horizontais da Terra. Por fim, as estações serão equipadas com gravímetros, para medir a aceleração da gravidade do globo terrestre.
A idéia do projeto é que os dados sejam recebidos via satélite, de forma a ter “quase em tempo real” uma medida da atividade sísmica. “Produziremos relatórios quando houver tremores de maior magnitude, acima de 4 pontos na escala Richter”, afirma Fontes. Há, no entanto, uma pedra no meio do caminho. Possivelmente o registro de sismos deverá ser ajustado para detectar abalos de menos de 4 graus de intensidade. “Em locais onde as construções são precárias, 3 graus já serão suficientes para causar rachaduras e queda de telhas”, diz Barros. Esse será um dos detalhes que o Observatório Nacional terá de revisar antes de colocar os equipamentos em operação. Em 2009, as primeiras 11 estações serão instaladas em Linhares (ES), Cananéia (SP), Tubarão (SC), Vassouras e Angra dos Reis (RJ).


Revista Istoé


Edição 2001 - 12 DE MARÇO/2008

OS BIOCOMBUSTÍVEIS, O ETANOL E A FOME NO MUNDO

 

No primeiro caso, estão as preocupações de caráter ambiental que derivam da crescente busca para a redução de emissões de gases que aceleram o efeito estufa. Quanto aos governos, a segurança energética relaciona-se com a redução da dependência da importação de petróleo, bem cada vez mais escasso e cujos principais países exportadores encontram-se em regiões com freqüentes instabilidades políticas. É nesse contexto que a experiência brasileira no uso do álcool derivado da cana-de-açúcar desperta a atenção mundial.
O Brasil está, há pelo menos três décadas, na vanguarda da corrida dos biocombustíveis, em decorrência não só da enorme quantidade de terras e recursos hídricos disponíveis, como também por seu domínio tecnológico na produção de cana, a mais importante das matérias-primas utilizadas para produzir açúcar, etanol e eletricidade de forma competitiva.
A decisão dos governos dos Estados Unidos (EUA) e dos países da União Européia (UE) em pelo menos duplicar o seu consumo de biocombustíveis nos próximos anos não só acirrou inúmeros interesses, como também ensejou grandes polêmicas.
Uma das principais polêmicas é aquela que discute o impacto que o crescimento das culturas agrícolas ligadas à produção de biocombustíveis causariam à produção de alimentos. De início deve-se ressaltar que a importância dos combustíveis de origem agrícola no mercado global de energia é pequena, visto não representarem mais do que 1% da produção de combustíveis fósseis.
Mas, o crescente impacto do boom agroenergético tem afetado, de forma mais ou menos significativa, certos mercados agrícolas, especialmente o do milho, a principal matéria prima usada para produção de etanol nos EUA. A produção norte-americana do etanol já consome cerca de 20% do milho produzido no país e esta cultura vem avançando gradativamente sobre áreas de outros plantios, especialmente os dedicados à soja. Isso tem ocasionado aumento dos preços de certos produtos agrícolas e causado desequilíbrios na estrutura dos mercados agropecuários (especialmente os de rações), além de afetar as exportações (os EUA são os maiores exportadores mundiais).
Já o impacto da expansão da agroenergia nos mercados agrícolas é muito menor em países como o Brasil, que produzem álcool a partir da cana. Mais eficiente que o milho ou qualquer outra cultura agrícola, a produtividade da cana é duas vezes maior que a do milho e seu custo de produção é 30% menor.
Do total de terras aráveis do Brasil (aproximadamente 340 milhões de hectares), cerca de 2,0% são usadas para o cultivo de cana, metade delas dedicadas à produção de etanol. A cultura da cana deverá se ampliar nos próximos anos às custas das terras dedicadas ao plantio de soja (cerca de 6,0% das terras aráveis) e milho (3,2%) e também sobre as áreas de pastos que correspondem a quase 60% das terras aráveis. Mas, não há certeza que, em algumas áreas, a cana não possa se expandir em detrimento a algumas culturas alimentares. Daí, a ferrenha oposição setores da sociedade em relação a essa expansão.
Estimativas para a safra de cana de 2007/2008 indicam que ela crescerá 15% em relação a de 2006/2007 e o aumento se verificará em quase todas as unidades federativas. Os estados que apresentarão o maior crescimento porcentual serão a Bahia (75,9%) e Tocantins (73,5%). Todavia, em volume, a produção de cana é bem concentrada. Cerca de 85% dela verifica-se no Centro-Sul, com destaque para São Paulo com aproximadamente 70% do total regional. O Paraná (porção norte), Minas Gerais (região do Triângulo Mineiro), Mato Grosso Sul (leste) e centro-sul de Goiás completam o quadro.
Há estudos em andamento no Ministério da Agricultura no sentido de se estabelecer um zoneamento agroecológico do setor sucroalcooleiro cujo objetivo seria o de definir as áreas disponíveis para a ampliação da produção levando em conta não só os índices de produtividade, mas também os impactos ambientais e socioeconômicos dessa expansão.
Os EUA e o Brasil são, nessa ordem, os maiores produtores mundiais de etanol, sendo os norte-americanos os maiores importadores do produto e nosso país o maior exportador. Todavia, o Brasil não possui as limitações de expansão de área cultivada como os EUA, já que a cana pode, a princípio, se expandir especialmente em áreas de cerrado, que tradicionalmente têm sido utilizadas para pastagens ou produção de soja. O Brasil, por exemplo, poderia produzir 132 milhões de litros de etanol, volume necessário para substituir 15% da gasolina nos EUA, com cerca de 30 milhões de hectares de cana-de-açúcar, o triplo da área atual de cana, porém apenas 10% da nossa reserva de pastagens.
Se produzida com alta tecnologia, a agroenergia representa uma extraordinária oportunidade para os países subdesenvolvidos da América Latina, África e parte da Ásia. O Brasil, em particular, tem uma chance de ouro para estar à frente dos demais países no contexto global da bioenergia, buscando consolidar o álcool (e também o biodiesel) como commodities globais, produzidas de forma ambiental e socialmente correta.
A expressiva alta dos alimentos nos últimos dois anos e a crise alimentar que vem afetando muitos países pobres como o Haiti, Burkina Fasso, Níger, entre outros levou vários especialistas ligados a organismos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a afirmar que esses problemas, que poderiam se alastrar por outros países eram causados pela expansão dos cultivos dedicados a produção de biocombustíveis (o etanol em particular) em detrimento daqueles dedicados a alimentação humana. Na verdade, o problema tem como causas uma combinação de fatores que atuam de forma diferenciada em vários países.
Genericamente seriam cinco os principais fatores que explicam, em termos mundiais, a situação atual. O aumento da produção de biocombustíveis e a manutenção dos subsídios agrícolas em países ricos, como os EUA e países da UE. O aumento dos custos da produção agrícola como decorrência do aumento do petróleo e dos fertilizantes. O forte incremento do consumo de alimentos por parte de países emergentes de grande população como são os casos da China, Índia, Brasil e México. A quebra de safras em vários países produtores de grãos cujo exemplo mais evidente é o da Austrália, atingida por secas prolongadas nos últimos anos. A crise financeira dos EUA que levou investidores a apostar em contratos de mercadorias, contribuindo também para o aumento de preços dos alimentos.

Nelson Bacic Olic
Revista Pangea, 29/4/2008

quarta-feira, agosto 06, 2008

Indianos querem reclassificar casta

 

Piya Kochkar*

17-06-2008

No complexo sistema de castas da Índia, pessoas são tratadas e divididas em classes sociais de acordo com a hierarquia. A casta denominada Gujjar ocupava uma posição inferior na escala social, apesar de não estar em último lugar. No entanto, eles agora lutam pelo direito de reclassificação como cidadãos inferiores, num conflito que já deixou dezenas de mortos.

Esse sistema de castas foi oficialmente abolido e tiveram início ações e programas afirmativos, para favorecer os grupos menos favorecidos. A idéia é de que o tratamento preferencial irá ajudá-los a melhorar economicamente.

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Os Gujjars também querem os benefícios
concedidos às castas menos favorecidas
Foto: Lakshman Anand

Pobreza

O governo indiano afirma que os Gujjars estão numa escala social alta demais para receber esses benefícios. No entanto, os Gujjars dizem que estão na pobreza. No último mês, eles tomaram as ruas das comunidades na província de Rajasthan para exigir o status inferior.
Na semana passada, houve revoltas nas ruas de Nova Délhi e em outras regiões da Índia. Pessoas morreram nas lutas, mas para alguns, foi só mais um inconveniente, atrasando o horário do trabalho. A revolta era de membros da comunidade Gujjar, que tinham tomado as ruas exigindo benefícios do sistema de cotas do governo, uma política afirmativa para castas e etnias esmagadas ou atrasadas.
A revolta não é nova. Trata-se de um grupo de pessoas exigindo direitos fundamentais, como à educação, por empregos e por vida digna. Alguns indianos lamentam pela frustração e desespero da população, que resultaram nessa violência. Outros acham que a violência não é o caminho.
Contribuinte
Avinash Kalla trabalha em Nova Délhi, mas é de Rajasthan. Seu estado-natal abriga a maior população Gujjar da Índia, e a mais pobre também. São os Gujjars em Rajasthan que estão liderando as lutas por mais cotas. E pedem reservas especiais em empregos públicos e universidades estatais.

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A sociedade indiana é
dividida por castas

No entanto, para Avinash Kalla, "eles não trabalham, não vão à escola. Eles só querem acesso fácil a tudo. Então você está degradando o sistema, abaixando a qualidade. Se você tem que protestar, então faça isso direito. Não tem graça fazer agitação e tomar as ruas", queixa-se.
Desespero
A.K. Varma é membro da comunidade Gujjar e é professor aposentado de Ciências Políticas. O professor acha que os membros dessa casta só se tornaram violentos em resposta à violência policial. Ele concorda com seus colegas Gujjars em Rajasthan, a quem foi prometido, nas eleições de 2003, uma grande quantidade de empregos públicos. Mas a promessa nunca foi cumprida. Segundo Varma, a luta é um último recurso, uma luta de desespero.
"Em uma democracia, é nosso direito fundamental lutar por nossas conquistas por meios pacíficos. E é isso que temos feito. Em 1942, Ghandi disse: 'Ingleses, saiam da Índia ou então nós, indianos, faremos algo, faremos ou morreremos'. A mesma idéia é adotada pelos Gujjars. Nós sacrificaremos nossas vidas. Para quê viver se não temos comida? É melhor morrer. Deus ajuda aqueles que se ajudam. Se não lutarmos, quem irá ajudar-nos?"
Eleições
Bina Singh faz trabalho social em favelas de Nova Délhi. Antes, ela trabalhava para o governo na defesa do bem-estar juvenil e social.
"Se os protestos podem fazer a diferença para uma família, uma pessoa, eu acho que vale a pena. Uma família que tem quatro ou cinco crianças, se elas podem ser educadas e a vida delas melhora, vão dar um exemplo para outras pessoas da comunidade. Então, realmente surte efeito. As pessoas pensam: o quê esses poucos Gujjars podem fazer, eles são só cinco por cento da comunidade? Mas eles são cidadãos deste país, e cinco por cento é muita gente".
Cinqüenta pessoas já morreram nas agitações dos Gujjars. Em meados de junho, o governo finalmente resolveu ouvir representantes da casta. Coincidentemente, as eleições estão chegando, fazendo parecer que esse encontro possa ser mais uma tentativa de angariar votos.
*Adaptação: Railda Herrero

Líder maoísta substitui rei no Nepal

 

Lucia de Vries*

30-05-2008

Milhares de pessoas se reuniram em Katmandu, capital do Nepal, para festejar a partida do rei Gyanendra de seu palácio e o fim de uma monarquia de mais de 240 anos, após a proclamação da república no país asiático. O novo governante nepalês é o líder maoísta Prachanda, que assume o cargo de primeiro-ministro.

O rei nepalês, uma figura até pouco tempo intocável, teve que deixar o palácio e renunciar. Em 2001, durante a coroação de Gyanendra, grupos na multidão que assistia à cerimônia gritaram "assassino". Mas sua impopularidade ganhou força em 2004, quando conseguiu mais poder como rei. Em 2006, após inúmeros protestos da população, ele teve que ceder e voltar atrás, o que significou o início de seu fim como monarca.

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O rei Gyanendra agora faz parte
do passado político do Nepal

Há meses que os rumores de sua saída correm pelas ruas estreitas de Katmandu. Também foram feitas brincadeiras, tais como a sugestão do jornal Nepali Times: "Porque não transformamos o palácio em museu, com a figura de Gyanendra, atrás de sua mesa, feita de cera?". No entanto, as provocações não alteraram a tranqüilidade do rei. Na semana passada, ele ainda visitou um templo e assistiu ao sacrifício de cinco animais, o que provocou protestos de organização nepalesa de proteção aos animais. A monarquia nepalesa é conhecida por este costume antigo de oferendas de animais sacrificados, realizadas, na maioria das vezes, em público.
Alívio e festa
A maioria dos nepaleses está aliviada. Embora recentes pesquisas apontassem que quase 50% dos habitantes queriam manter a monarquia, Gyanendra não era amado pelos seus súditos, e o seu filho, Paras, um tipo "playboy", era odiado pela população. E no dia 28 de maio, milhares de nepaleses maoístas se dirigiram à Katmandu para festejar a proclamação da república.
A dinastia Shah, em seus 240 anos de existência, não foi um exemplo de monarquia que evitava atos de violência. Em 2001, aconteceu uma tragédia entre os muros do palácio. O adorado rei Birendra e vários membros de sua família foram assassinados. Segundo a versão oficial, eles teriam sido mortos, com uma metralhadora, pelo príncipe herdeiro, Dipendra, que logo depois também se matou. O irmão do rei, Gyanendra, e sua família, foram os únicos sobreviventes deste banho de sangue. Logo depois, o povo tirou sua própria conclusão: a matança teria sido organizada por Gyanendra, já que, na mesma semana, tornou-se rei do Nepal.
Em 2004, a Federação Mundial Hindu corou o rei Gyanendra como o "o único rei hindu do mundo". Durante a cerimônia, o presidente Ashok Singhal disse que "o papel dos 900 milhões de hindus em todo o mundo é oferecer a proteção ao rei hindu. Deus o criou para proteger a nossa religião". No mesmo ano, Gyanendra pegou todo o poder para si, destituindo o parlamento e outros membros do governo. Em princípio, o ato foi bem recebido pelo povo, que pensava que, desta maneira, se colocaria um fim ao longo conflito entre o governo e os rebeldes maoistas. Mas logo o rei nepalês perdeu por completo sua credibilidade junto à população.
Meio século de luta
Durante a assembléia de 601 membros nepaleses, a república foi declarada. "Este é um dia histórico para a nação. Os nepaleses lutaram 50 anos para o fim da monarquia", disse Prachanda, recém-eleito para conduzir a política do país. A partir de agora, comenta o líder maoísta, Gyanendra será um cidadão comum e pagará todos os impostos, além de perder parte de sua fortuna com o pagamento de vários impostos sonegados.
Em diversos sites pela internet, iniciou-se uma discussão sobre a mudança política no Nepal, com opiniões diversas, entre críticas e defesas ao rei. Trata-se de um debate que mostra o contraste entre o velho e o novo Nepal - tema dos maoístas numa das eleições passadas. Apesar de a monarquia ainda ser respeitada pelos hindus tradicionalistas, o líder maoísta Prachanda também é muito querido pelo povo nepalês, que o apoiou em massa nas eleições de abril passado.
E sua gestão dará espaço para as mulheres, que participarão com 33% dos membros do governo "Novo Nepal". Além disso, especialistas garantem que todas as religiões, castas e etnias estarão representadas nesta primeira administração histórica da República Nepalesa.
*Tradução: Luís Henrique de Freitas Pádua

Campos de gás do Zimbábue são os maiores do Sul e do Leste da África

 

Documento do Departamento de Estado, obtido pelo escritor norte-americano William Engdahl, revelou que o Zimbábue tem “os maiores campos de gás até agora conhecidos no Sul e no Leste da África”.

Esses campos de gás, acrescentou o relatório, foram “descobertos recentemente na província de Matabeleland”. O mesmo documento enumera as riquezas minerais do país: ouro, platina, cromo, níquel, cobre e carvão. Distraidamente, esqueceram-se de incluir, como o escritor notou, “reservas de urânio ainda não quantificadas”.

Ucrânia: tropas da Otan são recebidas a pedradas

 

Centenas de manifestantes ucranianos tentaram impedir, com paus e pedras, um exercício militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Criméia, sul do país, no dia 24 do mês passado.

Os cidadãos conseguiram bloquear brevemente três blindados, subindo em cima deles, segundo imagens transmitidas pela rede de TV Canal 5.
Os militares dispararam granadas sôni-cas contra os manifestantes. Duas pessoas ficaram feridas, entre eles um deputado comunista, segundo Canal 5. A Ucrânia não faz parte da Otan, que organizou o exercício apelidado de “Brisa do Mar”.
Os manifestantes estiveram acampados na região das manobras desde antes do início dos exercícios, no dia 14 de julho.
Em um dos dias de protesto, os manifestantes realizaram uma “marcha naval” com uma dezena de barcos e lanchas ao longo da costa exibindo bandeiras e faixas contra a Otan.

O exercício “Brisa do Mar” terminou no dia 26 de julho e foi necessário a aprovação de uma lei especial do Parlamento para autorizar a permanência, durante 25 dias, em território ucraniano de mil militares norte-americanos e de outros países. A Otan vai decidir em dezembro se inclui a Ucrânia.

EUA cobiçam ouro, gás, urânio, cromo e platina do Zimbábue

 

“Essa é a verdadeira razão para a intervenção do governo Bush no país”, assinalou o escritor norte-americano William Engdahl. “Robert Mugabe preside um dos tesouros minerais mais ricos do mundo”

“Robert Mugabe, o presidente do Zimbábue, preside um dos tesouros minerais mais ricos do mundo”, afirmou o escritor norte-americano William Engdahl, autor de “Um Século de Guerra: a Política de Petróleo Anglo-Americana e a Nova Ordem Mundial”, e que mantém na internet uma página sobre “geopolítica do petróleo”.

Essa riqueza está concentrada na região do ‘Great Dyke’, com uma franja geológica que atravessa todo o território, de noroeste a sudeste. Essa é a verdadeira razão para a intervenção do governo Bush no país, assinalou o escritor, que obteve um documento do Departamento de Estado que detalha tais riquezas. Não qualquer “piedosa preocupação” com a situação dos “direitos humanos no Zimbábue”; suposta “fraude eleitoral”; ou, ainda, “a expropriação de fazendas de brancos”, registrou em seu artigo “O grande pecado de Mugabe”.

RIQUEZA MINERAL

Eis o que revela esse documento do Departamento de Estado reproduzido por Engdahl: “O Zimbábue conta com ricos recursos minerais. As exportações de ouro, asbestos, cromo, carvão, platina, níquel e cobre poderiam levar um dia a uma recuperação econômica”. Mais adiante, o documento abre o jogo: “Os bolsões de gás recentemente descobertos na província de Matabeleland são os maiores campos de gás até agora conhecidos no sul e no leste da África”. Admite, ainda, que o Zimbábue “tem abundantes reservas de carvão” e “considerável potencial de energia hidroelétrica”. A essa compilação das riquezas do Zimbábue, Engdahl acrescenta, ainda, “reservas de urânio ainda não quantificadas”. Quanto às reservas de cromo, revelou o artigo mais adiante, “são as segundas maiores do mundo, atrás apenas das da África do Sul”. O cobre vem sendo explorado desde os tempos do aventureiro Rhodes.

Após ironizar as manipulações da Casa Branca e de Londres, para apresentarem Mugabe como “um homem muito, muito mau”, “um ditador” e “merecedor de estar na lista de honra dos vilões”, Engdahl afirmou que “não é essa a razão” que os levou a tornar a “mudança de regime”, isto é, sua derrubada, “a prioridade número 1” de sua política para a África. O suposto pecado de Mugabe, apontou, “tem mais a ver com suas tentativas de escapar da dependência e servidão neocolonial anglo-americana e buscar um desenvolvimento econômico nacional independente do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial”.

O que, no entender do escritor, tem se dado por meio do estreitamento de laços econômicos com a China, que tem oferecido aos países africanos empréstimos e investimentos “em condições muito mais brandas” do que os oferecidos pelos EUA, Inglaterra, FMI e Banco Mundial, e sem os condicionamentos impostos, “ajustes” e cortes de programas sociais. “Ultimamente, ficou muito claro que talvez o tenaz Mugabe controle as coisas, os sócios comerciais preferidos do Zimbábue não são os anglo-americanos, mas sim os chineses. Esse parece ser o pecado maior de Mugabe. Não está seguindo o programa traçado por George W. Bush e seus amigos. Seu pecado real parece ser o de haver-se voltado para o Oriente, ao invés de ao Ocidente, em busca de ajuda econômica e investimentos”.

SANÇÕES

A bem da precisão, as operações de desestabilização e as sanções contra o governo de Mugabe, levadas a cabo pela Casa Branca e por Londres, antecederam em muito esse estreitamento de relações econômicas com a China – pelo menos cinco anos. (Pode-se, inclusive, inferir, que o citado estreitamento é uma conseqüência dessa tentativa, em curso, de estrangulamento da economia zimbabuense).

O próprio Engdahl apontou que “retrocedendo a julho de 2005, enquanto Tony Blair apertava ainda mais as sanções contra o Zimbábue, Mugabe voou a Pequim para reunir-se com altos dirigentes chineses”, onde obteve um empréstimo de emergência de US$ 1 bilhão de dólares. “Em junho de 2006, empresas estatais do Zimbábue firmaram com empresas chinesas uma série de acordos nos campos de energia, mineração e agricultura, no valor de bilhões de dólares”. Também foi formada uma empresa mista no setor de mineração do cromo. A mineração, acrescentou, “já gera metade das receitas de exportação do Zimbábue”, sendo que “as companhias ocidentais com concessões de lavras não as estão explorando”.

ANTONIO PIMENTA

Fim da era Olmert

 

Joop Meijers*

04-08-2008

Não totalmente inesperado, o primeiro-ministro israelense Ehuld Olmert, acusado de corrupção, anunciou a sua renúncia. Num curto pronunciamento pela televisão, Olmert informou que no próximo 17 de setembro estará deixando o seu cargo e a presidência do partido dele, o Kadima. Nesta data será escolhido um novo presidente do partido e, possivelmente, o novo primeiro-ministro de Israel.
olmertEm seu discurso, denominado pela mídia israelense de dramático, Olmert alegou estar convencido de sua inocência. "Devido as acusações e todo o processo, inclusive de funcionários do governo que querem a minha saída, decidi deixar o cargo e me concentrar na defesa de minha inocência", disse.
Olmert está sendo acusado de ter recebido dinheiro ilegal de um filantropo norte-americano. Além disso, o premier teria se deixado comprar por transações imobiliárias e viagens de férias para si e sua família, pagas pelo Estado. Ele é ainda acusado de ter apresentado notas falsas de despesas.
Caos
O anúncio da saída de Olmert veio no final de um dia em que o seu partido, Kadima, sofreu várias derrotas no parlamento. A unidade e a disciplina da fraca coalizão governamental caiu como um castelo de cartas. O ministro da Defesa descreveu a atmosfera no parlamento israelense como caótica.
Segundo as pesquisas de opinião, feitas pela televisão israelense, a popularidade de Olmert, que se tornou premier em abril de 2006, atingiu o mais baixo nível - 77% dos entrevistados se manifestaram descontentes com o seu trabalho.
Se as eleições fossem realizadas agora, o líder da oposição e antigo premier, Benjamin Netanyahu, do partido de direita Likud, receberia 36% dos votos; a vice-premier e atual ministra do exterior, do Kadima, Tzipi Livni, receberia 25%; e o líder do Partido Trabalhista e ministro da Defesa, Ehud Barak, apenas 12%.
Nova luta
A luta pela liderança dentro do partido Kadima ocorre entre a vice-premiere Shaul Mofaz, que em 2006 deixou o partido Likud. Tzipi Livni, que lidera o grupo que negocia a paz com os palestinos, é vista com uma política da nova safra. Já o antigo ministro da Defesa, Shaul Mofaz, tem a reputação de ser um duro da velha guarda. Em princípio, o novo líder do partido Kadima deve formar um novo governo de coalizão após a saída de Olmert. Caso não seja possível, novas eleições serão convocadas em Israel dentro de um prazo de três meses.
O primeiro-ministro Olmert disse que até a sua saída, ele continuará as negociações com os palestinos e a Síria. Devido ao pouco apoio político dentro de Israel, é improvável que essas negociações cheguem a algum ponto de entendimento.
De acordo com muitos políticos, existem grandes chances de que o Kadima, depois de escolher um novo líder, forme uma coalizão com o Partido Trabalhista israelense, para evitar que Netanyahu, do partido Likud, se torne novamente premier do país.
*Tradução: Luís Henrique de Freitas Pádua

quinta-feira, julho 31, 2008

4ª Frota é afronta à integração soberana da América do Sul

 

Reunidos em Montevidéo, os parlamentares do Mercosul consideraram “inoportuna” a reativação da frota de guerra e contestaram o argumento de “combate ao narcotráfico”

A reativação da Quarta Frota da Marinha de Guerra dos EUA é inteiramente inoportuna e desnecessária, dadas as atuais circunstâncias mundiais e regionais que conformam a América do Sul como uma região pacífica e democrática”, afirma a declaração aprovada no Parlamento do Mercosul (Parlasul) na sessão do dia 29.

Ao aprovar a moção, de autoria do senador Aloísio Mercadante e da deputada uruguaia Adriana Peña, o Parlasul contestou as falsas alegações de “combate ao tráfico” utilizadas pelo governo norte-americano para justificar a reinstalação da frota, que havia sido desativada em 1950.

“O imprescindível combate ao narcotráfico pode e deve ser feito dentro dos parâmetros já estabelecidos em inúmeros acordos bilaterais e multilaterais, num ambiente de cooperação diplomática pacífica e em estrita observância à soberania de todos os países”, destaca a declaração aprovada em Montevidéu, que atenta para a inconsistência do surrado argumento. O “combate ao narcotráfico” foi o apelo central usado para instalar bases pelo continente afora, como ocorreu no famigerado Plano Colômbia ou no acordo para a utilização - por tropas norte-americanas - da base de Manta, em vias de revogação pelo novo governo do Equador (ver matéria nesta página).

A Quarta Frota foi constituída em 1943 com a finalidade de unir esforços dos países aliados da região na guerra contra o nazi-fascismo. Tanto assim, que a mesma foi desativada pouco tempo depois do final da Segunda Guerra Mundial.

PROVOCAÇÃO

O Parlasul reúne parlamentares do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A sessão que rejeitou a recriação da frota ianque teve o senador brasileiro Dr. Rosinha (PT) como presidente. O parlamentar destacou: “Entendemos que a reativação da Quarta Frota é uma agressão à soberania dos países da América do Sul. É uma provocação militar”.

O parlamentar argentino Roberto Godoy afirmou que a aprovação da proposta atende a motivos baseados na História. “Já ocorreram no nosso continente intervenções diretas, que resultaram em ditaduras militares e depois intervenções indiretas”. O parlamentar Saúl Ortega, da Venezuela, também apoiou a declaração, considerando a reativação da Quarta Frota “uma provocação e uma ameaça à paz regional”.

Os parlamentares alertaram que a reativação da frota implica em “militarização de conflitos e problemas regionais” e pode gerar “uma insegurança hemisférica”, além de afrontar os “esforços de integração soberana da América do Sul”.

A 4ª Frota conta hoje com os 11 navios de guerra que integravam o Comando Sul, comandados pelo porta-aviões nuclear George Washington. O governo dos EUA anunciou que as manobras de seus navios de guerra iniciam este mês.

PETRÓLEO

Na 35ª Reunião de Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada de 30 de junho em Tucumán, Argentina, diversos chefes de Estado se pronunciaram contra esta ação provocativa. O presidente Lula informou que o governo brasileiro está acompanhando esses desdobramentos e de que dera instruções ao Itamaraty e ao Ministério da Defesa para que exigissem explicações, por parte do governo dos EUA, a respeito do relançamento da frota. “Descobrimos petróleo em toda a costa marítima brasileira. Queremos que os EUA expliquem isto, porque vivemos numa região totalmente pacífica. Nossa única guerra é contra a pobreza e a fome”, afirmou Lula.

“Devemos questionar, em bloco, o governo dos EUA por estar mandando a Quarta Frota à nossa região”, enfatizou o presidente da Venezuela, alertando para os “objetivos dos EUA de apropriar-se dos recursos naturais dos países da região”.

“Isso é uma ameaça para todos os países da região, temos que ficar atentos”, acrescentou Hugo Chávez.

A anfitriã do encontro, a presidente Cristina Kirchner, destacou a importância de que os países da região preservem e defendam seus recursos naturais, “hoje na mira das grandes potências mundiais”. O presidente da Bolívia, Evo Morales, declarou: “A iniciativa dos EUA é intervencionista”.

Para demonstrar o “caráter humanitário” (como afirmou Condollezza Rice sobre a iniciativa), a frota, sediada em Mayport, na Flórida, terá como comandante o almirante Joseph Kernan, que antes chefiava o Comando de Táticas Especiais de Guerra Naval.

Entre as tropas sob comando de Joseph Kernan, antes de assumir a Quarta Frota, estavam as Navy SEALs, unidades que, assim como os Boinas Verdes, “eram envolvidas nas ações diretas e encobertas da CIA com o entendimento de que as Convenções de Genebra e outras Leis Internacionais sobre Guerra deveriam ser postas de lado como necessidade para operações de sucesso”, afirma o tenente-coronel Daniel Marvin em seu texto “A jornada de um soldado dentro da guerra encoberta”.

O almirante James Stevenson, comandante das Forças Navais do Comando do Sul, declarou que “o restabelecimento da Quarta Frota mandará uma mensagem para toda a região, não apenas à Venezuela”.

“É uma frota de guerra”, alerta a ministra da Defesa da Argentina

A ministra da Defesa da Argentina, Nilda Garré, afirmou que é “inexplicável” que os Estados Unidos ativem sua “frota de guerra” em “uma região de paz”, como o continente americano.

“É inexplicável que tenhamos esse anúncio”, afirmou a ministra, “porque esta é uma região de paz e nos chama a atenção que um país extra-regional envie sua frota de guerra”.

A ministra se referiu à frota, que o governo dos EUA quer fazer navegar nas águas da Américas do Sul e do Caribe, rejeitando a enganosa manobra de encobrir as ameaças sob o argumento de que só será “usada para tarefas humanitárias”.

“Para nós, é uma frota de guerra”, reiterou a ministra Nilda Garré.

Hugo Chávez passa a limpo pendência com rei Juan Carlos

 

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi recebido pelo rei espanhol Juan Carlos, na sexta-feira 25, para discutir projetos de cooperação energética e para reconciliarem-se publicamente. O incidente em que o monarca perdeu a calma e pediu que Chávez se calasse ocorreu na Cúpula Ibero-Americana, em novembro do ano passado.

Durante a visita ao Palácio Marivent, em Mallorca, Chávez foi recebido por um sorridente Juan Carlos e ambos trocaram um forte aperto de mãos – fazendo questão de mostrar que colocaram um fim às desavenças.

“O rei e eu, Juan Carlos e eu, sempre fomos bons amigos, sempre, todos estes anos que levamos compartilhando funções de chefe de Estado”, afirmou Chávez em entrevista à televisão espanhola.

Chávez descreveu que durante o encontro foram discutidos “assuntos muito importantes, o tema energético e o da diretiva de retorno”, [a orientação aprovada no Parlamento Europeu para restringir a imigração].

“O rei é um senhor muito brincalhão, faz travessuras, e então me disse que ia me dar um presente”, explicou Chávez sobre a camisa que recebeu do rei espanhol com a frase “Por qué no te callas?”. Depois do encontro com Juan Carlos, o presidente venezuelano voou até Madri para reunir-se com o primeiro-ministro Zapatero, onde debateram a colaboração em áreas como imigração e energia. “Obrigado pelo carinho com que vocês nos receberam”, afirmou Chávez ao lado de Zapatero.

terça-feira, julho 15, 2008

Emergentes entram no jogo: BRICs X G8

A crise mundial está produzindo dois fenômenos envolvendo, de um lado, países desenvolvidos; e de outro, os emergentes (Brasil, China, Índia e Rússia).
O primeiro é sobre quem paga a conta da crise atual. O segundo, sobre como será o mundo daqui para diante, qual o novo perfil da economia mundial com uma crise que permitirá a emergência de novos atores globais.
projetobr.ig.com.br - Artigo

Rússia e China barram sanções contra Zimbábue no CS da ONU

 

“A situação no Zimbábue não ameaça a paz nem a segurança regional, muito menos a internacional”, afirmou o embaixador russo

A tentativa dos Estados Unidos de ampliar as sanções contra o Zimbábue, com base em não reconhecimento do processo eleitoral vivido recentemente pelo país africano que reelegeu o líder da libertação nacional, Robert Mugabe, foi barrada através do veto da Rússia e da China no Conselho de Segurança da ONU.

“A ONU teria criado um precedente perigoso, abrindo caminho para a interferência do Conselho de Segurança nos assuntos internos de Estados em conexão com eventos políticos em grosseira violação da Carta de Fundação da ONU”, destacou a delegação russa ao justificar sua decisão, tomada na reunião do dia 11 de julho, na sede da ONU em Nova Iorque.

“A situação no Zimbábue não ameaça a paz nem a segurança regional, muito menos a internacional”, acrescentou o embaixador da Rússia, Vitaly Churkin. “Estamos convencidos que os problemas internos do Zimbábue devam ser solucionados através do diálogo político entre o governo do Zimbábue e a oposição”, acrescentou Churkin.

G8

Depois de ter frustrada sua tentativa de aprovar críticas ao Zimbábue, sem obter aval da África do Sul e outros países do continente - chamados ao G8 para lhe fazer coro - e após colher nova derrota na ONU, o embaixador de Bush no organismo declarou que a posição Russa era “perturbadora” e tentou ameaçar:  “A posição da Rússia questiona sua confiabilidade como parceiro do G8”.

“As críticas dos EUA e da Inglaterra é que são inaceitáveis”, afirmou o embaixador russo. “Os representantes destes países declararam que o nosso voto traiu os acordos do G8 em Tóquio. É a representação dos EUA e Inglaterra de uma proposta de resolução inadequada, que fere a abordagem coletiva expressa no Japão, e que não menciona nenhum movimento como o que eles realizaram no Conselho de Segurança da ONU”.

A Rússia “está firmemente convencida de que os problemas do Zimbábue não podem ser resolvidos elevando-os à categoria de ameaça à paz e à segurança”, concluiu Churkin.

O veto da Rússia foi acompanhado pela China, cujo embaixador, Guangya Wang, afirmou: “A preocupação do meu governo é que a adoção desta resolução seria contraproducente para as iniciativas e esforços realizados pelos africanos para encontrar uma solução no Zimbábue. Neste momento, há negociações e diálogo na África do Sul que necessitam nossa ajuda, mas não com uma resolução deste tipo”.

A África do Sul, a Líbia e o Vietnã também se opuseram à resolução – que tampouco contou com o apoio da Indonésia, que preferiu se abster. Votaram com a proposta norte-americana, além da Inglaterra, Buskina Fasso, Costa Rica, Panamá, Croácia, Itália, França e Bélgica.

Com a proposta, os EUA queriam que as sanções impostas ao Zimbábue desde 2001 se ampliassem, que os ativos zimbabuanos fora do país fossem congelados e que o presidente Mugabe e outras 13 lideranças nacionais fossem impedidos de viajar para fora das fronteiras de seu país.

O embaixador do Zimbábue, Boniface Chidyausiku, destacou que a situação do país não representa uma ameaça à paz nem à segurança e portanto não compete sua discussão no Conselho de Segurança da ONU.

UNIDADE

Os governos dos EUA e da Inglaterra queriam anular a vitória da unidade do povo obtida no segundo turno das eleições presidenciais no Zimbábue, quando mais de 2 milhões votaram em Robert Mugabe, contra pouco mais de 200 mil a favor do candidato das duas potências imperiais, Morgan Tsvangirai. Pressentindo a derrota acachapante que o esperava, Tsvangirai retirou sua candidatura dias antes.

EUA e Inglaterra queriam expandir e legitimar através da resolução na ONU sua agressão ao Zimbábue com a imposição de sanções desde 2001, quando Mugabe comandou uma ampla reforma agrária distribuindo terras dos ex-colonos aos que compõem a maioria no campo.

Aliás, foram os próprios integrantes do partido de Tsvangirai que assumiram que a reforma seria desfeita uma vez conquistado o governo pelo MDC, seu partido. Declarações estas que serviram para alertar o povo para os riscos de volta do país à condição de colônia.

O intento de destruir a reforma agrária de Mugabe ficou evidente quando a própria resolução apresentada pelos EUA na ONU – cujo pretexto era a contraposição à violência governamental no processo eleitoral – destaca, no entanto, acusações ao ministro da Agricultura (no período em que ocorreu a reforma), Joseph Made, por supostamente “destruir o setor agrícola e o comércio rural”, acusação injusta e sem nenhuma relação com a alegada violência eleitoral que teria ocorrido durante o pleito recente.

O analista político zimbabuano, Maxwell Hove, em entrevista à revista Sunday Mail, publicada no país, defendeu a reforma e apontou as reais intenções dos que propuseram a resolução contra o país: “O que eles chamam de destruição da agricultura do Zimbábue foi o poder entregue ao povo. Assim sendo, as sanções são para atingir a reforma agrária e reverter suas conquistas”.

 

 

Governo Mugabe denuncia objetivo das sanções contra o país:

“Os EUA e a Inglaterra queriam usar a ONU para instalar um regime de marionetes em nosso país”

O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, afirmou estar “feliz” com o veto da China e da Rússia à tentativa de imposição de mais sanções ao país.

O ministro da Informação do Zimbábue, Sikhanysio Ndlovu, transmitiu em nome do governo o reconhecimento ao veto dos dois países no Conselho de Segurança.

“Gostaríamos de agradecer aos países que nos apoiaram nas Nações Unidas, e gostaríamos de dizer a estes países que não vamos desapontá-los no encaminhamento para uma solução própria de nossos problemas” afirmou o ministro.

“O veto de ontem nas Nações Unidas foi uma vitória diplomática internacional, não apenas para o Zimbábue, mas para toda a África, a Comunidade para o Desenvolvimento do Sul da África e os países em desenvolvimento”, acrescentou.

Ndlovu também transmitiu o agradecimento “ao presidente sul-africano Thabo Mbeki, que se mostrou um líder por excelência ao não se curvar às pressões internacionais e às maquinações lideradas pelos EUA e Inglaterra”.

O ministro disse que a vitória foi “bem-vinda, pois EUA e Inglaterra queriam usar a ONU com a finalidade de abrir espaço para instalar um regime de marionetes a seu serviço em nosso país. Queriam praticar o racismo internacional na ONU e a entidade se recusou a isso. Não somos uma colônia britânica, estamos felizes de que a razão prevaleceu, e esperamos que tais coisas nunca aconteçam novamente”.

A África do Sul também saudou o veto da Rússia e China. Ronnie Mamoepa, porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores da África do Sul, declarou que seu país votou contra a proposta dos EUA em acordo com a recente decisão da cúpula da União Africana de “encorajar o presidente Robert Mugabe e líderes do MDC a iniciarem o diálogo para a estabilidade e reconciliação do povo do Zimbábue”.

 

Alfabetização chega a 95% no Zimbábue

“Não foram a ONU, os Estados Unidos, a Grã Bretanha nem o G-8 os que expulsaram a ditadura dos racistas do poder no Zimbábue, mas a luta armada de dois movimentos de libertação; um liderado por Joshua Nkomo e outro por Robert Mugabe, que em 1976 se uniram para criar a Frente Patriótica, proclamando a independência em 1980” afirmou Jorge Gómez Barata, professor, jornalista e pesquisador cubano, se referindo à tentativa fracassada de Washington de aplicar mais sanções contra o país africano.

“O que os EUA e Londres querem não é um Zimbábue mais democrático, eles querem é um Zimbábue servil”, assinalou, mostrando que o verdadeiro motivo dos ataques é que as enormes riquezas minerais que existem na região são defendidas por um governo soberano, que não aceita voltar ao domínio colonial.

O professor cubano lembra que esteve no país em 1980. “Depois de um complicado processo e de uma intensa luta armada, catorze anos antes que Nelson Mandela saísse do cárcere, em meio à guerra em Angola, proclamou-se a independência do Zimbábue e Robert Mugabe, um negro, assumiu a Presidência num dos dois países governados por brancos na África Negra, alma gêmea da África do Sul”, sublinhou.

Ressaltando as dificuldades, o peso na economia e os privilégios dos brancos num país em que o apartheid tinha sido banido, mas ainda o marcava, Gómez apontou “a habilidade e inteligência de Mugabe para aplicar políticas econômicas e sociais apropriadas, com as quais a população negra conquistava impressionantes avanços”.

O governo tornou a educação um direito humano básico, construiu muitas escolas nas áreas rurais e bairros pobres urbanos e, hoje, o Zimbábue é a nação com mais alto índice de educação de toda a África, com o maior nível de alfabetização que atinge cerca de 95%. “Numa década se obtiveram enormes avanços sociais e culturais, se reduziu a mortalidade infantil a 60 por mil nascimentos, se atingiu a maior média de vida de toda a África e se avançou na luta contra a fome e a pobreza”, disse.

O jornalista assinalou que, “agravadas pela desintegração da União Soviética, na década de 90, fortes sanções inglesas e norte-americanas trouxeram tempos difíceis para o povo do Zimbábue, cujo governo reagiu no mesmo espírito revolucionário que o manteve e o levou à vitória durante a luta de libertação nacional. Diante da hostilidade imperialista, tem buscado desenvolver soluções nacionais para fazer com que o país cresça”.

O governo do presidente Mugabe dirigiu um programa acelerado de reforma agrária a partir do ano 2000, vinte anos depois da independência. A demora em iniciar este programa foi provocada pela Constituição imposta sobre o Zimbábue durante as negociações de paz de 1979. Foram negociações que levaram às eleições e à independência do país. Porém, a Constituição continha cláusulas que proibiam a aquisição e redistribuição de terras nos dez primeiros anos depois da independência. Após expirar as cláusulas restritivas nos anos 90, as tentativas do governo de adquirir e redistribuir terra se depararam com uma intransigência dos fazendeiros e do governo inglês, que se recusou a liberar recursos de acordo com seus compromissos firmados. Em 1998, camponeses e veteranos da guerra de libertação deram início à ocupação das terras dos fazendeiros em todo o país.

As dificuldades de contar com sementes, água, fertilizantes, ferramentas, técnicos, máquinas, e créditos, fruto da ingerência externa, atrasaram o desenvolvimento, “circunstância aproveitada por uma oposição oportunista que nunca fez nada pelo país e agora assume os interesses dos descendentes dos colonialistas e acena aos EUA e a Londres”, denunciou o professor cubano, frisando que a política do Zimbábue “concerne só ao seu povo”.