quinta-feira, março 30, 2006

A crise dos juros na Eurolândia

RNW: A crise dos juros na Eurolândia

Celulose divide Argentina e Uruguai


Mario de Freitas

30-03-2006

A construção de fábricas de celulose, matéria-prima do papel, na cidade fronteiriça de Fray Bentos, no Uruguai, seria o principal tema do encontro, da quarta-feira, entre os presidentes do Uruguai, Tabaré Vázquez, e da Argentina, Néstor Kirchner, e suspenso na última hora, mais uma vez por falta de acordo sobre como resolver esta questão, às margens do Rio da Prata, que vem dividindo os dois países.

Guerra verbal
Ambos os países, sócios com o Brasil e o Paraguai no Mercosul, e com governos de esquerda, recentemente eleitos, estão, há meses, numa guerra verbal e diplomática em razão deste conflito. Apresentado como uma questão de defesa do meio-ambiente, este caso tem caráter político e econômico. Quando estava na oposição, na chamada Frente Ampla, Tabaré Vázquez era contra as plantações de eucaliptos, matéria-prima da celulose. Em 2003, boicotou a inauguração das obras da Usina de Ence.

Fray Bentos e ponte internacional, imagem via SatéliteAs empresas finlandesas e espanholas estão investindo 1,8 bilhão de dólares nestas obras, equivalentes a 12 % do produto interno bruto do Uruguai. Atualmente, Tabaré defende a manutenção das fábricas de celulose em seu território. A cidade de Fray Bentos foi escolhida porque pode, tanto receber a madeira pelo rio da Prata, como exportar a celulose para a Europa e os Estados Unidos.

Nos últimos meses, ambientalistas argentinos fecharam diversas pontes internacionais e boicotam tudo o que se refere ao Uruguai.

O governo argentino possui uma posição ambígua, pois aceita e diz respeitar essas manifestações de protesto, mas mantém inúmeras outras indústrias de celulose, enquadradas entre as mais poluentes do globo terrestre. Sobre elas não exerce nenhum controle ambiental sério. Não somente os ambientalistas argentinos se opõem a estas fábricas poluentes. No Uruguai há inúmeras vozes, que vêem além dos interesses econômicos e políticos imediatos, como o filósofo Miguel Ángel Cabrera e os ambientalistas Ricardo Carrere e Carlos Pérez Arrarte.

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Ricardo Carrere, que é Coordenador internacional do Movimento Mundial pela Defesa das Florestas, deu detalhes sobre a indústria de Fray Bentos, explicando quais os danos negativos provocados pelas grandes fábricas de celulose. Ele ressaltou que o Uruguai é auto-suficiente. Com as 50 mil toneladas anuais de celulose produz o papel necessário para o consumo interno do país. As um milhão e meio de toneladas de toneladas que estas fábricas irão produzir se destinam à exportação.

Para Carrere, o problema não envolve apenas o Uruguai e a Argentina, pois é “decorrente do modelo de exploração dos países tropicais pobres, para garantir o enorme consumismo em países ricos”.

Ele ressaltou que seu país produz o papel necessário para o consumo. Para Carrere, o problema não envolve apenas o Uruguai e a Argentina, pois é "decorrente do modelo de exploração dos países tropicais pobres, para garantir o enorme consumismo em países ricos".

Rádio Holanda

segunda-feira, março 27, 2006

A revolta dos incluídos - Isto É, 29/03/2006


Estudantes franceses vão às ruas e entram em choque com a polícia para protestar contra lei do governo que flexibiliza o trabalho dos jovens


Por Fernando F. Kadaoka






A França está em convulsão. Conflitos entre a polícia e estudantes universitários, passeatas de sindicatos de trabalhadores e muitas bombas de gás lacrimogêneo tomaram conta das ruas nos últimos dias. O ápice da crise pode se dar nesta terça-feira 28 se for concretizada a ameaça das organizações estudantis e das centrais sindicais – juntas, elas prometem paralisar o país com uma gigantesca greve geral. O mundo já assistiu a semelhante filme em maio de 1968, quando das barricadas de Paris se irradiou a utopia socialista sob o lema “exigir o impossível”. Na crise atual, porém, esqueça-se a utopia. A revolta é essencialmente conservadora e pleiteia apenas a manutenção de direitos sociais já adquiridos. Os estudantes franceses brigam contra o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), lei recém-aprovada pelo governo do primeiro-ministro Dominique de Villepin. Ela determina que as empresas que contratarem jovens com menos de 26 anos poderão demiti-los sem aviso prévio ou pagamento de indenizações dentro de um prazo de até dois anos – para os trabalhadores em geral esse período de teste no emprego se limita a três meses. A lei faz parte do processo de desmonte do pesado estado de bem-estar social francês. O problema é que não apenas os estudantes, mas também a maioria dos franceses não deseja nenhuma mudança nesse status quo. No caso do CPE, cerca de 70% dos franceses são contrários a sua vigência.


Os estudantes fazem muito barulho como sempre. Na semana passada, mais da metade das 84 universidades do país parou. Cerca de 1,5 milhão de pessoas participaram dos atos de protesto – entre elas havia estudantes, professores, trabalhadores, aposentados, opositores do governo, neonazistas e baderneiros. O déjà vu de maio de 1968 ficou por conta somente da invasão da Sorbonne, a mais tradicional universidade francesa: com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, a polícia retirou de seu campus cerca de 200 universitários. “Nossa revolta não é para conseguir mais, é para não perder o que temos”, diz o estudante Nadjet Boubakeur. Um dos grandes líderes do movimento é o universitário Bruno Julliard. Ele ameaça: “Se até a noite de sábado (dia 25) o governo não tiver anulado essa lei, continuaremos com os protestos.” O primeiro-ministro, De Villepin, continua intransigente e admite apenas pequenas mudanças no texto da lei, mas não a sua extinção.

O CPE surgiu no esteio dos conflitos nos subúrbios franceses, quando o descontentamento dos jovens descendentes de imigrantes eclodiu numa enorme onda de violência e queima de automóveis. Enquanto a taxa de desemprego no país é de 9,6%, entre os menores de 26 anos ela alcança 23%. Em subúrbios das grandes cidades, o desemprego entre os jovens bate os 40%. “Para a esquerda, essa lei é o fim dos direitos trabalhistas. Para a direita, uma solução pragmática para o desemprego. Para mim, é o fim do sonho dos estudantes de classe média que esperavam ter as mesmas condições de trabalho dos pais”, disse a ISTOÉ Kalypso Nicolaidis, professora da Oxford University. O governo francês diz que a rigorosa legislação trabalhista desestimula a contratação de jovens, uma vez que as empresas têm de arcar com altos custos para funcionários ainda inexperientes. Faz sentido. Ocorre, porém, que benefícios sociais são um vespeiro difícil de mexer. Basta lembrar que até mesmo a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a “dama de ferro”, suou o tailleur para esmagar os sindicatos e implementar mudanças na área trabalhista.



Entenda o conflito

Quem são eles?

Estudantes universitários franceses, filhos da classe média, liderados por organizações estudantis como a União Nacional dos Estudantes da França (Unef)


O que querem?

Para iniciar o diálogo, os estudantes exigem a revogação do Contrato do Primeiro Emprego (CPE) – uma lei proposta pelo governo que dá aos empregadores o direito de demitir jovens com menos de 26 anos no prazo de dois anos sem indenização ou aviso prévio. Para os outros trabalhadores, esse prazo é de no máximo três meses


Quantos são?

Metade das 84 universidades públicas francesas parou total ou parcialmente. No protesto de sábado 18, 1,5 milhão de pessoas foram às ruas em mais de 150 passeatas por todo o país


Quem os apóia?

As principais centrais sindicais de esquerda, que controlam grande parte dos serviços públicos – entre eles os transportes coletivos –, como a CGT e a CFTC. Professores e aposentados também apóiam os estudantes


O que pode acontecer?


O primeiro-ministro De Villepin mostra-se irredutível em revogar a lei; aceita apenas fazer pequenas alterações que não modifiquem a estrutura. Os estudantes e os sindicatos prometem greve geral para o dia 28

sexta-feira, março 24, 2006

Amorim: disputa entre Chile e Bolívia por acesso ao mar é um tema bilateral


24/03/2006 20h32 - AFP

SANTIAGO, 24 mar (AFP) - O Brasil considera a disputa entre Chile e Bolívia por um acesso ao mar um tema bilateral, e que não cabe discuti-la no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), disse em Santiago o chanceler Celso Amorim.

"Entendemos perfeitamente a natureza bilateral desse tema", comentou Amorim após um encontro com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, no palácio presidencial de La Moneda. "Estaremos sempre dispostos a ajudar quando se considerar necessário facilitar o diálogo", assinalou.

Ontem, durante as comemorações pelo Dia do Mar, o presidente da Bolívia, Evo Morales, pediu uma reunião urgente da OEA para discutir a demanda centenária de seu país por uma saída para o mar pelo norte chileno. A disputa mantém as relações diplomáticas entre Chile e Bolívia estremecidas desde 1978.

"Falamos sobre a integração sul-americana, o papel da América do Sul no mundo, as relações bilaterais, o nosso papel compartilhado no Haiti, o sucesso que obtemos quando trabalhamos todos juntos", resumiu o chanceler sobre a reunião com Michelle. Amorim anunciou ainda que a presidente chilena fará uma visita ao Brasil no próximo dia 10 de abril.

Sobre a permanência das tropas brasileiras e chilenas no Haiti, como parte da força multinacional das Nações Unidas que colabora com a missão de paz, Amorim disse que elas serão mantidas enquanto for necessário: "Tanto o Brasil quanto o Chile permanecerão lá enquanto as Nações Unidas acharem necessário, e enquanto o governo do Haiti, que agora também será um governo eleito legitimamente, considerar necessário."

O chanceler brasileiro chegou ontem a Santiago, e encerra nesta sexta-feira a visita oficial.

quinta-feira, março 23, 2006

EUA - Ocaso de um império

Luiz Alberto Moniz Bandeira

Os Estados Unidos estão a precipitar-se em uma crise tanto econômica quanto política e moral, que só tende a agravar-se no curso dos próximos anos. Muitos políticos americanos, inclusive do Partido Republicano, já admitem publicamente que é impossível vencer a guerra no Afeganistão e no Iraque. Cresce o clamor pela retirada das tropas do Iraque. Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de Jimmy Carter (1977-1981), declarou que Washington deve “morder a bala” (bite the bullet), ou seja, enfrentar o problema e retirar “rapidamente”, no mais tardar até o fim de 2006, as tropas do Iraque (já morreram mais de 2.100 e mais de 15 mil ficaram feridos).

Com suas tropas atoladas no Iraque, George W. Bush e os neoconservadores não poderão levar adiante o Projeto para o Novo Século Americano, atacando a Síria e o Irã e outros países no Oriente Médio, a pretexto de implantar a democracia. O poderio militar dos americanos, como no Vietnã, mostra-se mais uma vez inútil, pois, se tudo pode destruir, não tem condições de estabelecer a paz. Os custos financeiros da guerra no Afeganistão e no Iraque igualmente se tornam cada vez mais elevados. A arrecadação dos EUA foi da ordem de US$ 1,8 trilhão, em 2004, mas suas despesas ultrapassaram o valor de US$ 2,3 trilhões. E a perspectiva é a de que o déficit fiscal e o déficit comercial continuem a crescer, o que deixa a economia americana cada vez mais vulnerável. E daí o enfraquecimento do dólar.

Dárcio de Jesus

De acordo com os dados do Departamento do Tesouro, em 30 junho de 2003, a dívida externa dos EUA em mãos de governos estrangeiros, bancos centrais, bancos privados e outros investidores já era de US$ 6,357 trilhões, o equivalente a 58,8% do PIB, e saltou para US$ 6,946 trilhões, em 31 de dezembro do mesmo ano, e em setembro de 2004 atingiu o montante de US$ 7,869 trilhões. O volume de dólares, em mãos dos bancos estrangeiros e/ou circulando no mercado mundial, é da ordem de US$ 44,2 trilhões, mais de quatro vezes maior do que o PIB americano, da ordem de US$ 11,7 trilhões, e maior do que o total da riqueza familiar, no montante de US$ 39 trilhões, segundo o método de paridade do poder de compra. Se todos esses valores retornassem aos EUA, o resultado seria uma enorme inflação, de conseqüências imprevisíveis para a economia mundial.

O que mais ameaça os EUA, portanto, não é o terrorismo, mas a crise fiscal e suas imensas dificuldades econômicas e financeiras, que, entre outros fatores, tornam cada vez mais difícil a sustentação do império por mais de poucas décadas. São uma superpotência altamente vulnerável, dependente de outros países tanto para o seu abastecimento energético, como petróleo, quanto do influxo de capitais para o financiamento de seus déficits e de sua dívida externa. E possivelmente até o ano 2020, conforme as previsões, serão ultrapassados pela China. Tudo indica que, com ou sem George W. Bush, o declínio americano será tão vertiginoso e violento quanto sua ascensão ao status de potência hegemônica.


Luiz Alberto Vianna Moniz Bandeira é doutor em Ciência Política, autor de vários livros sobre as relações EUA-Brasil. Seu último livro é Formação do Império Americano - da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque (Civilização Brasileira)

Senador Russ Feingold defende censura a Bush por espionar americanos


O senador democrata do estado de Wis-consin, nos EUA, Russ Feingold, apresentou ao senado um projeto de lei que visa censurar Bush por ordenar que novos grampos domésticos e outros métodos de espionagem de civis sejam realizados sem que haja mandato judicial.

Referindo-se à iniciativa cerceativa aos direitos civis, lançada pelo presidente como parte do Ato[anti]-Patriótico, o senador relatou que “Bush quebrou a lei e violou a constituição ao autorizar que a NSA (Agência de Segurança Nacional, em inglês) conduza espionagem sem mandato judicial”, por isso “o Congresso deve responder”.

“Uma censura formal pelo Congresso é um primeiro passo responsável e apropriado para assegurar ao público que quando um presidente pensa que pode violar qualquer lei sem conseqüências ele está errado”, explica o projeto de lei Feingold.

Temendo que o projeto entre em vigor, a casa branca vetou de imediato a resolução, alegando que a mesma tem “motivações políticas”. Ademais, muitos dos senadores presentes, incluindo democratas, não quiseram opinar sobre o projeto pois não o haviam lido, algo que é recorrente no país.

Eclipse Total do Sol Começa no Brasil

http://www.fatorgis.com.br
Vai acontecer no dia 29 de março de 2006, a partir das 05h:35 o primeiro eclipse total do Sol visível no Brasil neste século. Este fenômeno raro se repetirá no território brasileiro somente em 2045.

O melhor ponto para observar o eclipse será a região de Timbaú do Sul, próximo à Praia da Pipa no Rio Grande do Norte. O Eclipse Solar começa no interior do Rio Grande do Norte, passando pelo nordeste da África e Ásia Central e terminando na Mongólia.

O site da NASA sunearth.gsfcnasa.gov/eclipse/eclipse.html divulga previsões, mapas e figuras. No Brasil, o site www.geobusca.net também disponibiliza para download um arquivo completo do Google Earth com toda a trajetória do eclipse, horário e duração em cada ponto percorrido.

Imagem: O máximo do eclipse acontece às 10:10 UTC (meio-dia na Líbia). No início da tarde o eclipse chega ao Mediterrâneo e à Turquia, quando terá seu maior público.

Fonte: Geobusca

sexta-feira, março 10, 2006

Mercosul: a caminho da integração sul-americana

Vários acordos de integração ocorreram na América Latina. Muitos não passaram de tentativas integracionistas frustradas que não foram adiante, na maioria das vezes, pela grande diferença política e econômica entre os países acordados, como ocorreu com a Alalc. Outros persistem sem grande desenvoltura, como o Pacto Andino.

No entanto, o Mercosul vem ganhando corpo e destaque, consolidando-se cada vez mais como via de integração entre os países da América do Sul.

O texto abaixo, de Mônica Arroyo, professora do Departamento de Geografia da Universidad de Buenos Aires, mostra a complementaridade entre globalização e regionalização e faz uma análise da formação do Mercosul no atual contexto da América Latina, em particular, da Argentina e do Brasil.

Mercosul: novo território ou ampliação de velhas tendências?

Duas tendências concomitantes no sistema internacional contemporâneo têm se acentuado na última década: a globalização e a regionalização da economia. Elas se opõem quanto à direção do movimento que em cada uma está implícita. A globalização remete à idéia de um movimento que tem como "campo de ação" todo o planeta, um movimento que opera na escala mundial. A regionalização, por outro lado, mostra uma tendência a atuar em uma área limitada do planeta, em uma escala mais reduzida. Porém, na realidade, essa oposição é só aparente já que essas tendências complementam-se para dar respostas às mudanças estruturais que estão transformando paulatinamente o cenário mundial.

[...]

Algumas particularidades latino-americanas

A formação de um mercado comum no Cone Sul (Mercosul) é uma das iniciativas intra-regionais de caráter minilateral que se têm registrado na América Latina no início da década de 90. [...]

Efetivamente, a crise estrutural que tem afetado secularmente o continente se aprofunda com uma gravidade sem precedentes [...]. Isso se expressa claramente a partir de 1982, quando sucessivamente diferentes países latino-americanos declaram a moratória. A posterior aplicação de políticas de ajuste permite explicar o predomínio da estagnação, recessão e descapitalização que caracteriza a chamada "década perdida".

Esta denominação refere-se basicamente ao fato de que a América Latina está em um período de retardamento de seu processo de industrialização. "O modelo de crescimento com endividamento, após o choque dos juros, implicou, no início da década de 80, programas de estabilização que foram administrados por meio de contenção de demanda interna sem uma definição prévia de política industrial e sem priorizar setores, ou mesmo as áreas sociais, o que acabou por provocar uma desorganização econômica" (Cacciamali, 1991:226). É conveniente lembrar que tais receitas recessivas são tuteladas ou controladas pelo Fundo Monetário Internacional, que desde 1982 monitoriza o pagamento da dívida externa.

"Integração: uma tentativa de incremento comercial"

Diante desse contexto particular para o continente latino-americano e das mudanças estruturais do sistema econômico internacional, procuram-se conformar, como uma das formas de reativação econômica, associações minilaterais que dinamizem o comércio intrazonal.

Salienta-se que esses fatos têm seu correlato no plano político, pois a renovação dos numerosos governos no começo da década, indício da consolidação nos processos de transição democrática que vivem vários países da região, vem acompanhada por um desenho mais pragmático da política externa. Tentam-se transformar os processos de integração já em curso em um instrumento para dinamizar as relações econômicas exteriores.

"Em meio à estagnação, a integração"

Neste contexto situa-se o Mercosul, proposta de integração entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que surge com a assinatura do Tratado de Assunção em março de 1991. [Veja box.]

Optou-se por uma proposta que implica um importante aprofundamento no processo de integração econômica. Outras modalidades, como uma área de livre-comércio e uma união aduaneira, exigem um grau menos avançado de integração. Limitam-se ao tratamento da questão das barreiras ao comércio (dos membros da comunidade entre si e no seu relacionamento com o resto do mundo). O mercado comum, por sua parte, inclui a livre-mobilidade da mão-de-obra e de capital, o qual exige um importante esforço na coordenação das políticas internas dos países envolvidos. Sem dúvida, trata-se de proposta ambiciosa para cumprir em quatro anos.

Agora, para entender o Mercosul, a análise deve remontar a seu antecedente mais recente, o Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE) entre Argentina e Brasil, que foi assinado em 1986.

Os momentos da integração econômica no Cone Sul

O processo de integração no Cone Sul começa em 1985 com um encontro entre os presidentes Raúl Alfonsín (Argentina) e José Sarney (Brasil) em Foz do Iguaçu. Este fato é significativo já que se situa no processo de reabertura democrática iniciado nos dois países depois de traumáticos regimes militares, nos quais predominava uma relação de mútua desconfiança.

Assim sendo, começa-se a assinar uma série de acordos e protocolos bilaterais visando aprofundar um programa de negociações. Um dos objetivos mais significativos do PICE é promover uma especialização intra-setorial, na qual se prioriza o intercâmbio de bens análogos com certo grau de diferenciação. Isto implica uma divisão do trabalho por produtos mais que por ramos de produção, estimulando uma diversificação das estruturas produtivas e o aproveitamento das economias de escala.

Esta opção é uma tentativa de reverter o esquema predominante no comércio bilateral, que se baseia fundamentalmente na exportação de produtos primários com pouco grau de processamento por parte da Argentina diante das exportações brasileiras de manufaturas. Esquema clássico de especialização intersetorial, que, em uma situação de mercado ampliado, pode até provocar a desaparição de algum setor em um dos parceiros comerciais. Pelo contrário, o comércio intra-ramo promovido pelo PICE busca a criação de vantagens comparativas dinâmicas que incrementem a competitividade de alguns setores. Daí a preferência que se outorga às indústrias de bens de capital, alimentar e automobilística.

[...]

Além de estabelecer mecanismos progressivos de eliminação tarifária e de remoção de barreiras não-tarifárias, propõem-se medidas como a formação de empresas binacionais e a criação de um fundo de investimentos, visando estimular a complementaridade produtiva.

"Do livre-comércio ao mercado comum"

[...]

Como foi indicado [...], o processo de integração aprofunda-se no sentido de aspirar à constituição de um mercado comum e também alcança uma nova dinâmica. Estabelece uma redução tarifária generalizada, linear e automática, a partir de 20% de redução tarifária anual, junto a uma eliminação de barreiras não-tarifárias, que significa uma liberalização comercial de caráter universal (todos os produtos são submetidos automaticamente à redução tarifária), regida por prazos de cumprimento estrito. [...]

Esta decisão de acelerar o processo de formação de um mercado comum com o estabelecimento de calendários extremamente apertados é também uma forma de desconhecer as assimetrias entre os países envolvidos e, em conseqüência, das relações econômicas preexistentes. Dificilmente pode-se atender a essas dificuldades em um ritmo tão peremptório. A propósito, é bom lembrar que na Europa, sem crise de inflação e dívida externa, esse processo levou mais de quatro décadas.

No entender de Araújo (1990), "a decisão de encurtar os prazos do programa foi uma temeridade, posto que nenhum dos dois governos está preparado para enfrentar, nos próximos dois ou três anos, as dificuldades inerentes ao complicado exercício de harmonizar políticas. [...] Em outro de seus trabalhos (1991), acrescenta que "a fim de evitar que o Mercosul se torne mais um exemplo da longa lista de fracassos latino-americanos, seria conveniente, enquanto há tempo, reduzir transitoriamente seu escopo para um tratado de livre-comércio, e estabelecer prazos mais sensatos para a formação do mercado comum".

Um dilema ainda não resolvido

Um processo de integração econômica entre vários países responde, sem dúvida, a uma decisão de tipo político que imprime determinado conteúdo ao projeto. Este último depende principalmente dos processos políticos internos de cada país, da condução de seus governos e da participação dos diferentes segmentos da sociedade civil. Daí que vários autores falam dos possíveis cenários ou opções que o processo de integração pode enfrentar.

A respeito, Halperín (1991) aponta duas opções para os governos do Cone Sul: uma negociação de abertura maciça para o aproveitamento planificado dos mercados; ou uma abertura irrestrita com condições impostas pelas "forças do mercado".

A primeira opção exige uma regulação estatal mediante unificação e harmonização das políticas econômicas, incluindo previsões para os diferentes setores e ramos de produção e uma política externa comum. Pode-se assimilar este caminho ao cenário "industrialista" definido por Chudnosky e Porta (1990), os quais supõem uma liberalização comercial dentro de um projeto global de reestruturação industrial. Para isso, precisa-se de políticas industriais e tecnológicas ativas em cada país, e um esforço deliberado de harmonização das políticas econômicas além do plano cambial.

A segunda opção, ao contrário, implica uma elevada desregulação das atividades econômicas. Seria suficiente, neste caso, compatibilizar os regimes de promoção setorial e fixar algum mecanismo de paridade ou equivalência cambial de caráter permanente. Esta concepção assemelha-se à "comercialista" que apontam Chudnosky e Porta, na qual a coordenação das políticas econômicas centra-se basicamente no tipo de câmbio. A partir daí a reestruturação passa a ser orientada estritamente pelos mecanismos do mercado.

A diferença no grau de intervenção estatal que subjaz a cada uma das opções implica, também, resultados diferenciados. Uma implementação de políticas industriais e tecnológicas ativas, associada a uma liberalização comercial progressiva, permitiria orientar o processo de industrialização em face de um aumento de sua competitividade a partir de economias de escala e especialização. Ao contrário, uma abertura rápida e uma desregulação da economia podem conduzir a uma reconversão com um alto custo social e a um aprofundamento do esquema de especialização intersetorial.

Mercosul: velhas tendências

Neste sentido, deseja-se destacar que a possibilidade de atingir níveis crescentes de competitividade não depende exclusivamente dos esforços individuais dos agentes econômicos. Cada vez mais na experiência internacional torna-se central a idéia de "competitividade sistêmica" como base sólida para o desenvolvimento econômico. Segundo Kosakoff (1991), esta noção "substitui e, por sua vez, se superpõe aos esforços individuais, que, embora sejam condição necessária para atingir esse objetivo, devem estar acompanhados, necessaria-mente, por inumeráveis aspectos que conformam o entorno das firmas (desde a infra-estrutura física, o aparato científico-tecnológico, a rede de provedores e subcontratistas, os sistemas de distribuição e comercialização até os valores culturais, as instituições, o marco jurídico, etc.)".

Sem dúvida, as condições que conformam tal entorno dependem em grande medida da presença ativa do Estado, o único que pode facilitar a participação de todos os agentes econômicos no processo, fundamentalmente das pequenas e médias empresas.

Conforme observado, pode-se concluir que o enfoque do avanço gradual por setores, que predominou no primeiro momento do processo de integração entre Argentina e Brasil, corresponderia basicamente à via de tipo "industrialista". Pelo contrário, a inflexão produzida a partir de 1990 mostra que o novo esquema parece estar mais próximo da opção "comercialista", na qual o Estado aparece subordinado à lógica do mercado.

A partir desse suposto, pode-se inferir que em um cenário "comercialista" predominam as velhas tendências, isto é, um esquema de intercâmbio no qual só se beneficiam os setores mais concentrados, os que já detêm um importante grau de controle da economia.

ARROYO, Mônica. Mercosul: novo território ou ampliação de velhas tendências? In: SCARLATO, Francisco C.; SANTOS, Milton et al. (org.).
O novo mapa do mundo: globalização e espaço latino-americano. 4. ed. São Paulo: Hucitec/Annamblume, 2002. p. 123-129.

"Mercosul: criação do Tratado de Assunção"

De acordo com o Artigo no 1 desse Tratado, os Estados-parte decidem constituir um mercado comum, que deverá estar estabelecido a 31 de dezembro de 1994 e que implica as seguintes metas:
a) livre-circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países;
b) o estabelecimento de uma política comercial comum em relação a terceiros países;
c) a coordenação das políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados-membros; e
d) o compromisso de harmonizar as legislações nacionais nas áreas pertinentes.

ARROYO, Mônica. Mercosul: novo território ou ampliação de velhas tendências?
In: SCARLATO, Francisco C.; SANTOS, Milton et al. (org.). O novo mapa do mundo: globalização e espaço latino-americano. 4. ed. São Paulo: Hucitec/Annamblume, 2002. p. 125.

Estados americanos têm mais lojas de armas que postos de gasolina - 10/03/2006

Folha Online - Mundo - Estados americanos têm mais lojas de armas que postos de gasolina - 10/03/2006

O que é o Imposto de Renda?

Folha Online - Especial - 2006 - IR

Biólogos acham cerrado "molhado" em Goiás - 09/03/2006

Folha Online - Ciência - Biólogos acham cerrado "molhado" em Goiás - 09/03/2006

Ilha de Páscoa teve "civilização-relâmpago" - 10/03/2006

Folha Online - Ciência - Ilha de Páscoa teve "civilização-relâmpago" - 10/03/2006

Forte terremoto é registrado a 855 quilômetros do Brasil

Fenômeno ocorreu no Oceano Atlântico e chegou a seis graus na escala Richter

Forte terremoto é registrado a 855 quilômetros do Brasil
Fenômeno ocorreu no Oceano Atlântico e chegou a seis graus na escala Richter.Um terremoto de seis graus na escala Richter foi registrado no Oceano Atlântico ontem, um pouco antes das 15h do horário de Brasília. O fenômeno, de forte intensidade, foi detectado pelo US Geological Survey.

O local do tremor fica a 855 quilômetros da ponta leste do Brasil, na região da ilha de Fernando de Noronha e do Estado de Pernambuco. O terremoto ocorreu a 10 quilômetros de profundidade.

domingo, março 05, 2006

Para a realização dos estudos geográficos

Para a realização dos estudos e pesquisas geográficas, podemos ainda hoje, segundo o professor Manoel Correia de Andrade, utilizar os princípios científicos da geografia enriquecidos de novas reflexões metodológicas, bem como as técnicas modernas forneci­das pelo desenvolvimento tecnológico. Esses princípios são ferramentas que nos auxiliam no estudo dos fatos geográficos. São eles:

princípio da extensão - ao estudar um fato geográfico ou uma área, dever-se-ia, inicialmente, procurar localizá-la e estabelecer os seus limites, ou seja, delimitar e localizar os fatos estudados;

princípio da analogia - a área em estudo pode ser comparada com o que se observa em outras áreas, estabelecendo-se semelhanças e diferenças;

princípio da causalidade - observados os fatos, dever-se-ão procurar as causas que os determinaram, estabelecendo-se relações de causa e efeito;

princípio da conexidade - os fatos geográficos (físicos e humanos) não agem sozinhos e separadamente na formação da paisagem. Há uma interligação entre os fatores que explicam esses fatos. A idéia de interdisciplinaridade aparece neste princípio.

princípio da atividade - o fato geográfico é dinâmico, o espaço geográfico está em perpétua reorganização, em constante transformação, graças à ação ininterrupta de vários fatores. A compreensão do presente depende de uma análise do passa­do, ou seja, do estudo auxiliar da história.

Adaptado de: ANDRADE, M. C. de. Geografia Econômica. 7. ed. São Paulo: Atlas. 1981.


Para o geógrafo Milton Santos, o estudo da geografia faz parte da compreensão da sociedade, sendo então funda­mental a definição de seu objeto:

“A sociedade, que deve ser, finalmente, a preocupação fundamental de todo e qualquer ramo do saber humano, é uma sociedade total. Cada ciência particular se ocupa de um de seus aspectos. O fato de a sociedade ser global consagra o princípio da unidade da ciência. O fato de essa realidade total, que é a sociedade, não se apresentar a cada um de nós, em cada momento e em cada lugar, senão sob um ou alguns de seus aspectos, justifica a existência de disciplinas particulares. Isso não desdiz o principio da unidade da ciência, apenas entroniza outro princípio fundamental, que é o da divisão do trabalho científico. [...]”.

Em nosso caso particular isso supõe o reconhecimento de um objeto próprio ao estudo geográfico, mas isso não basta. [...] Se queremos alcançar bons resultados nesse exercício indispensável devemos centralizar nossas preocupações em torno da categoria - espaço - tal qual ele se apresenta, como um produto histórico. São os fatos referentes à Gênese, ao funcionamento e à evolução do espaço que nos interessam em primeiro lugar.”

Fonte: SANTOS, M. Por uma Geografia Nova. São Paulo: Hucitec, 1996.