quarta-feira, agosto 06, 2008

Líder maoísta substitui rei no Nepal

 

Lucia de Vries*

30-05-2008

Milhares de pessoas se reuniram em Katmandu, capital do Nepal, para festejar a partida do rei Gyanendra de seu palácio e o fim de uma monarquia de mais de 240 anos, após a proclamação da república no país asiático. O novo governante nepalês é o líder maoísta Prachanda, que assume o cargo de primeiro-ministro.

O rei nepalês, uma figura até pouco tempo intocável, teve que deixar o palácio e renunciar. Em 2001, durante a coroação de Gyanendra, grupos na multidão que assistia à cerimônia gritaram "assassino". Mas sua impopularidade ganhou força em 2004, quando conseguiu mais poder como rei. Em 2006, após inúmeros protestos da população, ele teve que ceder e voltar atrás, o que significou o início de seu fim como monarca.

nepalmed

O rei Gyanendra agora faz parte
do passado político do Nepal

Há meses que os rumores de sua saída correm pelas ruas estreitas de Katmandu. Também foram feitas brincadeiras, tais como a sugestão do jornal Nepali Times: "Porque não transformamos o palácio em museu, com a figura de Gyanendra, atrás de sua mesa, feita de cera?". No entanto, as provocações não alteraram a tranqüilidade do rei. Na semana passada, ele ainda visitou um templo e assistiu ao sacrifício de cinco animais, o que provocou protestos de organização nepalesa de proteção aos animais. A monarquia nepalesa é conhecida por este costume antigo de oferendas de animais sacrificados, realizadas, na maioria das vezes, em público.
Alívio e festa
A maioria dos nepaleses está aliviada. Embora recentes pesquisas apontassem que quase 50% dos habitantes queriam manter a monarquia, Gyanendra não era amado pelos seus súditos, e o seu filho, Paras, um tipo "playboy", era odiado pela população. E no dia 28 de maio, milhares de nepaleses maoístas se dirigiram à Katmandu para festejar a proclamação da república.
A dinastia Shah, em seus 240 anos de existência, não foi um exemplo de monarquia que evitava atos de violência. Em 2001, aconteceu uma tragédia entre os muros do palácio. O adorado rei Birendra e vários membros de sua família foram assassinados. Segundo a versão oficial, eles teriam sido mortos, com uma metralhadora, pelo príncipe herdeiro, Dipendra, que logo depois também se matou. O irmão do rei, Gyanendra, e sua família, foram os únicos sobreviventes deste banho de sangue. Logo depois, o povo tirou sua própria conclusão: a matança teria sido organizada por Gyanendra, já que, na mesma semana, tornou-se rei do Nepal.
Em 2004, a Federação Mundial Hindu corou o rei Gyanendra como o "o único rei hindu do mundo". Durante a cerimônia, o presidente Ashok Singhal disse que "o papel dos 900 milhões de hindus em todo o mundo é oferecer a proteção ao rei hindu. Deus o criou para proteger a nossa religião". No mesmo ano, Gyanendra pegou todo o poder para si, destituindo o parlamento e outros membros do governo. Em princípio, o ato foi bem recebido pelo povo, que pensava que, desta maneira, se colocaria um fim ao longo conflito entre o governo e os rebeldes maoistas. Mas logo o rei nepalês perdeu por completo sua credibilidade junto à população.
Meio século de luta
Durante a assembléia de 601 membros nepaleses, a república foi declarada. "Este é um dia histórico para a nação. Os nepaleses lutaram 50 anos para o fim da monarquia", disse Prachanda, recém-eleito para conduzir a política do país. A partir de agora, comenta o líder maoísta, Gyanendra será um cidadão comum e pagará todos os impostos, além de perder parte de sua fortuna com o pagamento de vários impostos sonegados.
Em diversos sites pela internet, iniciou-se uma discussão sobre a mudança política no Nepal, com opiniões diversas, entre críticas e defesas ao rei. Trata-se de um debate que mostra o contraste entre o velho e o novo Nepal - tema dos maoístas numa das eleições passadas. Apesar de a monarquia ainda ser respeitada pelos hindus tradicionalistas, o líder maoísta Prachanda também é muito querido pelo povo nepalês, que o apoiou em massa nas eleições de abril passado.
E sua gestão dará espaço para as mulheres, que participarão com 33% dos membros do governo "Novo Nepal". Além disso, especialistas garantem que todas as religiões, castas e etnias estarão representadas nesta primeira administração histórica da República Nepalesa.
*Tradução: Luís Henrique de Freitas Pádua

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