terça-feira, maio 28, 2013

Darci Ribeiro O Povo Brasileiro Dica de estudo!

México x Brasil: dois modelos em disputa – Escrevinhador

México x Brasil: dois modelos em disputa

publicada segunda-feira, 27/05/2013 às 15:52 e atualizada segunda-feira, 27/05/2013 às 15:52
Por Marcelo Zero 
Os conservadores brasileiros têm um novo fetiche: a Aliança do Pacífico. Trata-se um novo bloco econômico comercial que pretende agregar, numa área de livre comércio, Chile, Peru, Colômbia, México e Costa Rica.
Conforme as notícias que lemos na grande imprensa, a Aliança do Pacífico foi criada para servir de contrapeso ao Mercosul, um bloco de economias “estatizadas” e “pouco dinâmicas”, que rejeitam as benesses do livre-comércio. Ainda de acordo com nossos determinados paleoliberais, que persistem em suas crenças panglossianas mesmo após a crise do capitalismo desregulado, o futuro pertence à Aliança, ao passo que ao Mercosul caberia o atraso, a estagnação e o isolamento.
Bom, em primeiro lugar, é preciso observar que qualquer bloco econômico da América do Sul ou da América Latina que não inclua o Brasil não terá maior relevância regional. O Brasil é a sexta economia mundial e o Mercosul, em seu conjunto, já representa a quarta economia mundial, à frente de gigantes como Alemanha e Japão. Em contrapartida, o México, a grande economia da Aliança do Pacífico, é a décima quarta economia do mundo (dados de 2011) e a Aliança como um todo representaria a novena economia do planeta. Ademais, nenhum país da Aliança chega perto do peso demográfico, geográfico e geopolítico que o Brasil tem hoje no mundo.
Alguns argumentam que a Aliança exporta mais que o Mercosul. É verdade. Em razão das grandes exportações do México, fruto essencialmente da sua participação no NAFTA, esse bloco efetivamente exporta mais. Porém, esses defensores da Aliança não mencionam que a balança comercial do México é deficitária. Entre 2002 e 2011, segundo dados da ALADI, o México acumulou cerca de US$ 72 bilhões de déficit em sua balança comercial. Não é muito, se levarmos em consideração o volume da corrente de comércio mexicana, mas é algo significativo. Em contraste, o Brasil acumulou, no mesmo período, um superávit de US$ 303 bilhões, que muito contribuiu para a superação da vulnerabilidade externa de nossa economia.
Em segundo lugar, o Brasil e o Mercosul já têm livre comércio ou comércio bastante facilitado com todos os países da América do Sul que aderiram à Aliança do Pacífico. Em alguns casos, há muito tempo. O Chile, por exemplo, formalizou sua associação à área de livre comércio do Mercosul já em 1996, com a assinatura do Acordo de Complementação Econômica Mercosul-Chile (ACE Nº35). O Peru, por sua vez, aderiu à zona de livre comércio do Mercosul em 2003, com a assinatura do Acordo de Complementação Econômica Mercosul-Peru (ACE Nº 58/03). E a Colômbia, junto com Equador e Venezuela, tornou-se membro associado do Mercosul em 2004, mediante a assinatura do Acordo de Complementação Econômica Mercosul-Colômbia, Equador e Venezuela (ACE Nº 59/04).
Ou seja, todos esses países da Aliança, e mais todos os demais países da América do Sul (à exceção de Guina e Suriname), já fazem parte, em maior ou menor grau, da zona de livre comércio do Mercosul. A única grande diferença, em relação aos membros plenos do bloco (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela), é que eles não fazem parte da união aduaneira do Mercosul e nem participam de suas instituições políticas.
Como resultado dessa integração, as exportações do Brasil para essas nações aumentaram exponencialmente. Para a Colômbia, as exportações brasileiras aumentaram de US$ 638 milhões, em 2002, para US$ 2,83 bilhões, em 2012. Em relação ao Peru, nossas exportações subiram de apenas US$ 438 milhões para US$ 2,4 bilhões, no mesmo período. No que tange ao Chile, as exportações brasileiras aumentaram de US$ 1,4 bilhão, em 2002, para US$ 5,4 bilhões, em 2011. Diga-se de passagem, o Brasil tem alentados superávits com todos esses países.
Além disso, esses países da América do Sul que participam da Aliança do Pacífico já têm, por forças desses acordos citados e dos acordos firmados no âmbito da Comunidade Andina, livre comércio entre si. Portanto, a única novidade da Aliança é a proposta de livre comércio entre esses países e o México. Nesse sentido, a Aliança do Pacífico nada mais é, pelo menos por enquanto, do que um acordo de livre comércio entre o México e alguns países remanescentes da Comunidade Andina, já que Equador, Bolívia e Venezuela não pretendem aderir. Não se pense, aliás, que a Aliança do Pacífico vai conseguir acesso facilitado ao mercado norte-americano. Qualquer acordo com os EUA terá de passar pelo crivo draconiano do Congresso norte-americano, que exigirá, dos países da Aliança, bem mais do que livre comércio.
Much ado about nothing, diria o dramaturgo de Stratford-upon-Avon.
Em relação ao México, o Brasil firmou o Acordo de Complementação Econômica nº 53, ainda em 2002. Tal acordo, embora menos ambicioso que os demais citados aqui, estabeleceu preferências tarifárias em cerca de 800 itens da pauta exportadora. Ademais, o Brasil e o México firmaram, também em 2002, o Acordo de Complementação Econômica nº 55/02, destinado unicamente a estabelecer um maior intercâmbio comercial de automóveis.
Por conseguinte, a Aliança do Pacífico não tem nenhum impacto significativo sobre a realidade econômico-comercial da América do Sul e América Latina. E nem sobre o Brasil e o Mercosul. A não ser que os demais países da região abandonem o Mercosul, coisa altamente improvável, ela não representa ameaça real ao Brasil e ao autêntico processo de integração. Seu impacto maior é apenas político-ideológico: ela representa simbolicamente a aposta estratégica e incondicional no livre-cambismo, como solução mágica para os problemas econômicos e sociais de nossa região. Com a crise do capitalismo desregulado, essa pauta já deveria estar definitivamente enterrada, mas, como a fênix, ela ressurge teimosamente das suas próprias cinzas para enganar os incautos.
Relativamente a esse assunto, é interessante cotejar a experiência recente do México com a do Brasil.
O México, além de aderir ao acordo inteiramente assimétrico do NAFTA, já em 1992, firmou nada menos que 32 acordos de livre comércio. Trata-se do país campeão em livre comércio, o que mais celebrou acordos desse tipo em todo o mundo.
Se os teóricos do livre-cambismo estivessem certos, o México seria a economia mais dinâmica e inovadora do mundo. Contudo, os resultados efetivos são, para dizer o mínimo, duvidosos.
Após um período inicial de euforia com os novos investimentos norte-americanos e com o grande aumento do seu comércio internacional, principalmente com a criação de empresas “maquiladoras” na fronteira com os EUA, os inevitáveis efeitos negativos da integração tão assimétrica com a maior economia mundial se tornaram cada vez mais evidentes.
No campo industrial, houve grande esfacelamento da estrutura produtiva nacional. Muitas empresas mexicanas não conseguiram sobreviver à concorrência da produção industrial dos EUA. E as que conseguiram foram, em boa parte, compradas a baixos preços por grupos econômicos norte-americanos. Isso aconteceu de modo especialmente intenso na outrora pujante indústria têxtil mexicana, que passou a orbitar a cadeia produtiva dos EUA.
Na área agrícola, houve a geração de notável insegurança alimentar. O México, que era exportador de grãos, no período pré-Nafta, passou a importá-los dos EUA em sua quase de totalidade. Tal processo de destruição das culturas agrícolas se deu inclusive no que tange ao milho, base da alimentação e culinária mexicanas. Hoje em dia, o milho utilizado no México é quase todo colhido nos EUA, que subsidia fortemente a sua produção. Embora a agricultura mais moderna e irrigada tenha sobrevivido, a agricultura familiar foi muito afetada.
Ademais, houve fragilização da proteção jurídica ao meio ambiente e “precarização” das relações trabalhistas, em virtude dos privilégios concedidos aos investidores norte-americanos, no capítulo sobre investimentos do Nafta.
A consequência mais relevante foi, contudo, o aumento das desigualdades regionais e sociais no México. Houve poucos “ganhadores” mexicanos com a integração aos EUA e com os demais acordos de livre comércio, concentrados principalmente no Norte do país. As demais regiões, principalmente a região Sul do México, e a grande massa dos trabalhadores urbanos e rurais mexicanos não se beneficiaram na mesma medida, como se esperava. Na realidade, ocorreu significativo incremento das assimetrias regionais e sociais, impulsionado pelos efeitos econômicos desagregadores e destruidores da integração aos EUA.
Estudo feito pelo Banco Mundial, em 2007, intitulado Lessons from NAFTA for Latin America and the Caribbean Countries: A Summary of Research Findings (lições do NAFTA para os países da América Latina e do Caribe: resumo das conclusões da pesquisa), mostrou cabalmente que os efeitos da inserção internacional do México, ao longo do Nafta, foram significativamente regressivos.
Ademais, a economia mexicana tornou-se ainda mais dependente da economia dos EUA, dependência que não foi revertida com assinatura dos demais acordos de livre comércio. Com a crise, que afetou profundamente a economia norte-americana, o México praticamente não cresceu, em 2008, e, em 2009, seu PIB caiu quase 7%.
Nos primeiros 10 anos deste século, o PIB per capita (PPP) do México cresceu apenas 12%, bem abaixo do que cresceu o do Brasil (28%). Na realidade, o México só superou, nesse cômputo, a frágil Guatemala, o país que menos cresceu em toda a América Latina, com base nesse parâmetro específico. O recente crescimento do México, obtido graças, essencialmente, ao afluxo de capitais especulativos, não muda esse quadro estrutural.
Quanto aos imensos investimentos que o México esperava receber, em razão de suas concessões incondicionais ao livre-comércio, eles se dirigiram em volume incomensuravelmente maior para a China, uma economia bastante “estatizada”, porém extremamente dinâmica.
No que se refere à inovação tecnológica, o México, como reconhece a própria Academia Mexicana de Ciências (AMC), é um dos países mais atrasados do mundo. Para se ter uma ideia, as universidades chinesas conseguiram, em 2011, o reconhecimento de cerca de 35 mil patentes. As universidades mexicanas requereram apenas 70 e, desse total, somente 35 foram reconhecidas. Para quem pensava que a abertura da economia levaria automaticamente ao desenvolvimento tecnológico, o México é um gritante contraexemplo. Maquiladoras não geram inovação.
No Brasil, em contraste, a estratégia de inserção econômica no cenário mundial produziu resultados altamente progressivos. De fato, o Brasil adotou uma estratégia de inserção inversa à do México e a de outros países da região. A partir do governo Lula, o nosso país rejeitou claramente a proposta da ALCA ampla norte-americana, que continha cláusulas idênticas às do Nafta, e apostou na integração regional, via Mercosul e Unasul, na grande diversificação de suas parcerias estratégicas, especialmente com os demais BRICs, e na articulação geopolítica Sul-Sul, sem descuidar, porém, de suas boas relações com os países mais desenvolvidos.
O grande aumento das nossas exportações e os alentados superávits comerciais que tal estratégia proporcionou foram decisivos para reduzir substancialmente a nossa vulnerabilidade externa, zerar a dívida externa brasileira e criar um quadro econômico propício à redução das taxas de juros e à retomada do crescimento. Além disso, tal estratégia aumentou significativamente nosso protagonismo internacional e nossa autonomia político-diplomática. O resultado mais eloquente dessa inserção internacional, associada ao modelo de desenvolvimento brasileiro, tange ao fato de que, no Brasil, a maioria da população foi beneficiada.
Assim, ao contrário do México e de outros países da região, o Brasil é hoje ator mundial de primeira linha, que consegue articular exitosamente os interesses regionais e os anseios dos países em desenvolvimento em todos os foros internacionais relevantes. O nosso país fez a escolha estratégica acertada e soube aproveitar pragmaticamente as mudanças na ordem geoeconômica mundial, que deslocaram o centro dinâmico da economia internacional para os países emergentes. Já os países que apostaram na integração assimétrica aos EUA e às demais grandes economias internacionais não colheram, em geral, os frutos apregoados pelo ideário paleoliberal e se tornaram mais vulneráveis à crise mundial, que vem afetando mais intensamente as economias da Tríade (EUA, União Europeia e Japão).
A tendência, diga-se de passagem, é que os países emergentes continuem a apresentar maior dinamismo, o que recomenda o prosseguimento dessa estratégia exitosa, que nos transformou num autêntico global player, com uma corrente de comércio bastante diversificada.
A Aliança do Pacífico, o novo modismo do livre-cambismo regional, não passa, por conseguinte, de uma miragem paleoliberal.
Uma mistura de ideologia com fatos mal-assimilados. Uma Aliança do Factoide.



México x Brasil: dois modelos em disputa – Escrevinhador: "área "

'via Blog this'

domingo, maio 27, 2012

Instituto de Física da Rússia: "agora entramos na fase do esfriamento global"


"O esfriamento global já começou", afirmaram à agência ITAR-TASS cientistas do Instituto de Física da Academia de Ciências da Rússia, citando estudos realizados com o Observatório Metereológico do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos de Moscou.
Depois de um pico em 2005, a temperatura média da Terra diminuiu em 0,3 graus, nível dos anos 1996 e 1997, assinalou a pesquisa. Para os cientistas até 2015, a temperatura cairá mais 1,5  décimos de grau, clima do início dos anos 80. Em 2020, os habitantes do hemisfério Norte se lembrarão dos invernos rigorosos de 1978 e 1979.
As pesquisas mostram que a causa dessas mudanças climáticas tem origem espacial e não nas atividades humanas. Os cientistas apontam que entre 400 e 1000 toneladas de poeira espacial atingem diariamente a atmosfera terrestre, provocando a condensação de vapor d’água. Iúri Stojkov, do Instituto de Física, afirma que "ao se aproximarem do Sol, os cometas liberam seu ‘manto’ de pó e gás congelados, que entram na atmosfera terrestre e cai sobre a Terra".  A quantidade de pó espacial precipitada depende das posições dos planetas. "A mudança na concentração de poeira cósmica e do clima da Terra deve, portanto, obedecer a periodicidades semelhantes às registradas nas posições dos planetas".
 Assim, quanto mais poeira espacial cai na Terra, maior é a camada de nuvens que cobre o planeta e reflete a luz do sol ao espaço. O clima torna-se mais frio.
Os cientistas confrontaram periodicidades na posição de planetas com fases de mudança do clima da Terra e descobriram a relação entre as temperaturas e o tráfego de poeira cósmica. Com base nos resultados obtidos, puderam elaborar previsão de mudanças climáticas nos próximos 50 anos.
  Esses resultados foram confirmados pela análise de amostras de gelo extraídas de uma camada de gelo sobre o Lago Vostok, na Antártida.
 A análise da amostra permitiu conhecer mudanças de temperatura ao longo de 420 mil anos. Nesse tempo, a Terra sofreu pelo menos quatro grandes oscilações de temperatura com uma amplitude de 8 graus.

segunda-feira, maio 14, 2012

Trabalho 3º ano ISL - Porto Alegre

Agora é com vocês, depois de ter as informações pesquisadas anteriormente e com a observação dos links abaixo monte um dossiê em slides formato power point com os pontos favoráveis e contrários a construção da usina e posicionem-se em um texto fundamentando sua opinião.


Link's para o trabalho:

Hidroeletricidade:

http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://www.epa.gov/cleanrgy/energy-and-you/affect/hydro.html

http://hidroeletricidade.no.comunidades.net/

http://www.brasil.gov.br/sobre/economia/energia/setor-eletrico/hidroeletricidade

http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://www.nationalatlas.gov/articles/people/a_energy.html

Notícias :

http://www.youtube.com/watch?v=ML9TxHZYqBQ&feature=related

http://www.estadao.com.br/noticias/economia,minc-belo-monte-e-maior-e-mais-polemica-obra-do-pac,504863,0.htm

http://www.pac.gov.br/obra/9059

http://www.youtube.com/watch?v=YUb8f0k6TI0

http://noticias.uol.com.br/especiais/pac/ultnot/2010/02/04/dilma-destaca-importancia-do-projeto-da-usina-de-belo-monte-durante-balanco-do-pac.jhtm

http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/04/posicao-da-oea-sobre-belo-monte-e-absurda-diz-subcomissao-do-senado.html


Contrários:

http://www.movimentogotadagua.com.br/

http://www.internationalrivers.org/pt-br/campaigns/belo-monte-dam

http://www.youtube.com/watch?v=TWWwfL66MPs

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/10/belo-monte-nosso-dinheiro-e-o-bigode-do-sarney.html



Favoráveis:
http://www.blogbelomonte.com.br/tag/pac/

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/um-dossie-a-favor-de-belo-monte

http://www.youtube.com/watch?v=gVC_Y9drhGo&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=g4iEjL9RcS8&feature=related








segunda-feira, outubro 12, 2009

IPC-IG launches collection of ninety-nine One Pagers

 

This book aims at stimulating public policy debates on key inclusive development issues. Covering interrelated areas, such as access to basic services, cash transfers, gender equality, employment, and inclusive economic policies, it is a useful tool for policymakers, researchers, the civil society and the UN family. more

HONDURAS REPETE A GUATEMALA, 55 ANOS DEPOIS

 

Atualizado em 12 de outubro de 2009 às 13:35 | Publicado em 12 de outubro de 2009 às 13:07

por Luiz Carlos Azenha

Se me fosse dada a opção de escolher o currículo de formação de novos jornalistas, eu optaria por colocá-los para estudar História.

Não dá para ver o golpe em Honduras fora de seu contexto econômico e histórico internacional.

Do ponto-de-vista da economia, a crise nos Estados Unidos teve um tremendo impacto em toda a América Central. Nos Estados Unidos os centro-americanos cumprem o papel de derrubar os salários locais. E ajudam a sustentar as economias de seus países de origem com as remessas de dólares.

Com a crise, as elites locais da América Central, atreladas a interesses estrangeiros, não querem fazer qualquer concessão. O principal produto desses países é a mão-de-obra barata: os homens imigram, as mulheres trabalham nas maquilas, empresas que montam produtos exportáveis para os Estados Unidos.

Fazer concessões aos movimentos sociais implica em ameaçar a vantagem competitiva que esses países podem oferecer aos investidores estrangeiros: o trabalho semi-escravo.

De repente, surge na equação um sujeito chamado Hugo Chávez. Com o dinheiro do petróleo, pode equilibrar esse jogo. Todos esses países são dependentes de importação de energia. Além de acesso a petróleo mais barato, através de Chávez os governos podem obter financiamento externo para projetos de infraestrutura e programas sociais.

Ou seja, é uma perspectiva de autonomia numa região que sempre foi quintal político e econômico dos Estados Unidos, o que vale também para o grande vizinho ao Norte, o México.

Portanto, Manuel Zelaya era um exemplo a ser combatido.  Embora eleito por um partido de centro-direita, ameaçava romper o pacto das elites hondurenhas, assentado sobre a exploração da mão-de-obra local.

Zelaya, como vocês sabem, deu aumento de 65% no salário mínimo.

Quanto à conjuntura internacional, Honduras desempenha um papel importante como uma espécie de porta-aviões em terra para projetar o poder militar dos Estados Unidos na América Central.

Embora Zelaya não tenha falado em acabar com isso, as ideias dele representavam ameaça de médio prazo, especialmente num quadro em que a Venezuela se contrapõe abertamente aos Estados Unidos na América Central e no Caribe.

Engana-se quem acha que a transição do governo Bush para o governo Obama foi completa. Os neocons não deixaram o poder completamente nos Estados Unidos. Alguns deles são assessores de Hillary Clinton no Departamento de Estado. Outros lutam de dentro da burocracia estatal. E há a câmara de eco neocon nos institutos de estudos internacionais, revistas e jornais, que trava uma luta diária para influenciar a política externa. Eles são fortíssimos no Pentágono e na CIA.

Além de pregar a completa hegemonia política, econômica e militar dos Estados Unidos, os neocons agem em defesa de grandes interesses econômicos, os mesmos que sustentam seus institutos e publicações.

A História da América Central é a história da subordinação local a esses interesses.

Foi para combater a "ameaça comunista" que os Estados Unidos derrubaram o governo de Jacob Arbenz na Guatemala, em 1954, num período em que a United Fruit tinha o monopólio da produção de banana e era dona da maioria das terras; a subsidiária dela, International Railways of Central America (IRCA), controlava o transporte; e a Electric Bond and Share (EBS) controlava a produção e distribuição de energia.

"Vista no contexto da Guerra Fria, a intervenção dos Estados Unidos na Guatemala foi a primeira expressão na América Latina de uma política desenvolvida inicialmente na Grécia. No período depois da Segunda Guerra Mundial, o capital dos Estados Unidos estava se expandindo mundialmente em uma escala sem precedentes. Movimentos de trabalhadores nos Estados Unidos e no estrangeiro (especialmente os abertos às ideias comunistas) eram vistos como ameaça a essa expansão e portanto tinham que ser colocados sob controle. No estrangeiro, a intervenção de 1947 na Grécia foi o precedente. Os Estados Unidos jogaram centenas de milhões de dólares na Grécia para esmagar uma revolta revolucionária militarmente. A Doutrina Truman deu a justificativa, ao dizer que os Estados Unidos precisam 'apoiar povos livres que estão resistindo à subjugação por minorias armadas'. A Guatemala foi a primeira aplicação dessa lógica na América Latina (vista também na derrubada do governo nacionalista de Mossadegh no Irã). Nesse contexto, os Estados Unidos fizeram um teste na Guatemala de um modelo para reverter revoluções sociais na América Latina clandestinamente, sem mandar os fuzileiros navais. Muitos aspectos desse modelo foram aplicados na invasão da baía dos Porcos (Cuba) e em operações clandestinas subsequentes, inclusive na guerra dos contra nos anos 80 contra a Nicarágua". (Do livro The Battle for Guatemala, de Susanne Jones).

Hoje, os grandes interesses econômicos que colocam Barack Obama na parede representam o capital multinacional que prega a "flexibilização" do trabalho, o desmanche do estado, a criminalização dos movimentos sociais reinvindicatórios, o estado da segurança nacional, a guerra permanente e o acesso desimpedido às matérias primas.

A grande ameaça a esses interesses é o voto popular. A grande arma deles é a mídia. O golpe em Honduras resultou de uma conjuntura política interna, mas dentro de um contexto econômico e político internacional. É o neogolpe. A repetição da História, agora como farsa, na qual o antichavismo faz o papel do anticomunismo, para despistar os verdadeiros objetivos: garantir a completa subordinação da mão-de-obra. É a parte que nos cabe nesse latifúndio.

 

http://www.viomundo.com.br/opiniao/honduras-repete-a-guatemala-55-anos-depois/

quinta-feira, outubro 08, 2009

Concentração de terras no Brasil

 

1% das fazendas concentram 46% da terra produtiva

O IBGE divulgou há poucos dias o Censo Agropecuário de 2006. Em editorial, o jornal Brasil De Fato, fez um resumo de seus resultados. Pela importância, reproduzimos esse resumo.

Em relação ao Censo anterior, de 1996, “diminuiu o número de estabelecimentos com menos de 10 hectares. Eles representam os pobres do campo, e eram em 2006 cerca de 2,5 milhões de famílias. A área ocupada por eles baixou de 9,9 milhões de hectares para apenas 7,7 milhões, correspondendo a apenas 2,7% da área total brasileira. No outro lado, temos apenas 31.899 fazendeiros que dominam 48 milhões de hectares em áreas acima de mil hectares. E outros 15.012 fazendeiros com áreas superiores a 2.500 hectares, que totalizam 98 milhões de hectares. São os fazendeiros do agronegócio, que representam menos de 1% dos estabelecimentos, mas controlam 46% de todas as terras”.

“De um lado, a grande propriedade do agronegócio se especializou em produtos para exportação, como soja, milho, cana e pecuária, que dominam a maior parte das terras. Esses três produtos usam 32 milhões de hectares, enquanto os principais alimentos da dieta brasileira usam apenas 7 milhões de hectares para plantar arroz, feijão, mandioca e trigo”.

O agronegócio “ficou mais dependente do capital financeiro e das empresas transnacionais. O valor bruto da produção agrícola (PIB agrícola) foi de 141 bilhões de reais, em 2006. Destes, 91 bilhões produzidos pelo agronegócio, mas precisou de 80 bilhões de reais de credito rural dos bancos e da poupança nacional para poder produzir. Já a agricultura familiar, produziu 50 bilhões de reais, e utilizou apenas 6 bilhões de reais”, analisa.

“A agricultura familiar produziu comida, e para o mercado interno. O agronegócio produziu commodities, dólares, para o mercado externo. Por isso é dominada pelo controle das grandes empresas transnacionais que controlam o mercado e os preços. As 20 maiores empresas que atuam na agricultura tiveram um PIB de 112 bilhões no ano de 2007. Ou seja, praticamente toda produção do agronegócio é controlada na verdade por apenas 20 grandes empresas. E, em sua maioria, estrangeiras”.

Atualidades Enem 2009 Parte 01

Check out this SlideShare Presentation:

Atualidades Enem 2009 Parte 02

Check out this SlideShare Presentation:

3º Ano Atualidades Enem 2008

Check out this SlideShare Presentation:

Pré-sal: perguntas e respostas

Check out this SlideShare Presentation:

domingo, outubro 04, 2009

O vazamento do ENEM

 

 

Do Estadão
PF indicia empresário e DJ por vazamento de prova do Enem
Os 2 foram interrogados ontem em São Paulo; polícia procura terceiro homem suspeito de participar da fraude
Sergio Pompeu, Renata Cafardo e Fausto Macedo
A Polícia Federal indiciou ontem dois suspeitos de fraudarem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): o empresário e publicitário Luciano Rodrigues e o DJ Gregory Camillo de Oliveira Craid. A PF está convencida do envolvimento de ambos na trama do vazamento das provas. O exame foi cancelado na quinta-feira depois que o Estado avisou o Ministério da Educação (MEC) que havia tido acesso ao caderno de questões.
Rodrigues e Gregory foram interrogados à tarde na superintendência regional da PF em São Paulo. Depois dos depoimentos, eles foram liberados. A polícia não vê necessidade de pedir a prisão dos dois à Justiça. Gregory afirmou à PF que teria sido Felipe Pradella quem obteve as provas e as repassou a ele. Ainda não se sabe se Pradella é segurança do consórcio contratado para aplicação e logística do exame ou se tinha a função de coordenar o manuseio dos cadernos de questões.
O plano era vender os documentos “para repórteres” e “levantar um dinheiro”. A PF acredita que o escândalo que levou ao adiamento do Enem, que seria neste fim de semana, foi protagonizado por “um grupo amador”. Após 72 horas de investigação, o inquérito está praticamente fechado na avaliação da PF. Falta localizar Pradella.
A PF quer saber se ele teria agido sozinho ou se teve auxílio de alguém em posto mais graduado na equipe que atua no consórcio para que tivesse acesso ao cofre onde os papéis estavam guardados. A PF pretende estabelecer se o segurança conseguiu a prova “no exercício do cargo” ou se a furtou com a cumplicidade de algum superior.
Equipes policiais percorreram endereços do investigado. Se até amanhã ele não se apresentar, a PF vai requerer formalmente à Justiça Federal sua prisão e mandados de busca. A PF tem pressa. A Presidência da República pediu uma resposta o quanto antes. Por determinação de seu diretor-geral, delegado Luiz Fernando Corrêa, a PF quer concluir a missão no início da semana.
Na noite de sexta-feira, a equipe do delegado Marcelo Sabadin, que conduz a apuração, começou a procurar Gregory. Primeiro os agentes foram a uma danceteria em Osasco. Depois, bateram à porta da MySpace, balada no Itaim. O DJ atua rotineiramente nesses endereços.
Às 3 horas de ontem, a PF fez contato com o advogado Antônio José Craid, pai de Gregory. Os dois estavam reunidos na casa do advogado, em Barueri. “Estou me inteirando dos fatos”, disse ele à PF. O delegado convenceu Craid a apresentar o rapaz. Também foi antecipado o depoimento de Luciano Rodrigues, inicialmente marcado para amanhã. O empresário foi à PF acompanhado de seu advogado, Luiz Vicente Bezinelli.
VIOLAÇÃO DE SIGILO
Rodrigues e Gregory foram enquadrados no artigo 325 do Código de Processo Penal, que define o crime de violação de sigilo funcional – revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em silêncio. A pena prevista, em caso de condenação, é de 6 meses a dois anos de detenção. Eles foram indiciados também no artigo 327 que considera funcionário público, “para os efeitos penais”, quem, embora de maneira transitória ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública – neste caso a pena será aumentada da terça parte.
Gregory relatou à PF que, de posse das provas que lhe teriam sido entregues por Felipe Pradella, procurou Luciano Rodrigues, seu amigo e dono de uma pizzaria nos Jardins. O encontro na pizzaria ocorreu na terça-feira à noite. Ele declarou estar desempregado e contou que Pradella é seu amigo “há mais ou menos 4 ou 5 anos, empinaram pipa e jogaram futebol” nas ruas de Osasco e de Barueri, na Grande São Paulo.
“Esse amigo da gráfica sabia que eu tinha contato com a imprensa porque sou DJ e conheço muitos repórteres”, disse Gregory. Segundo a PF, ele admitiu que pretendia vender a papelada. Rodrigues afirmou que não sabia da venda dos documentos. Disse que pretendia apenas levar para a imprensa o que considerava “um furo jornalístico de grande importância”.
“O Luciano foi indiciado por divulgar documento público, não foi indiciado por ter participado do furto ou do vazamento”, declarou o advogado Luiz Bezinelli. “Estou achando um absurdo o indiciamento . Tanto que na segunda-feira vou impetrar habeas corpus para trancar o inquérito contra ele.”
Como_ser_o_enem_2009

sexta-feira, outubro 02, 2009

quinta-feira, setembro 24, 2009

O homem no centro da crise hondurenha: quem é Manuel Zelaya?

 

Filho de poderoso fazendeiro, Manuel Zelaya foi eleito em 2005 pelo Partido Nacional Hondurenho, de direita, com um programa também de centro-direita, num cenário em que poucas famílias da elite controlavam a economia local, e onde a esquerda havia sido escanteada do poder. Apesar disso, Zelaya promoveu reformas econômicas e sociais consideradas de esquerda, custando-lhe a perda do apoio da elite. O artigo é de Larissa Ramina.

Larissa Ramina (*)

Em 28 de junho, Manuel Zelaya fora expulso de seu país, que deixara vestindo pijamas. Destituído por um golpe de Estado, amplamente condenado pela comunidade internacional, refugiou-se na vizinha Nicarágua. Após 3 meses de tentativas frustradas, atravessou clandestinamente as fronteiras hondurenhas e abrigou-se na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, no dia 21 de setembro. Seu retorno ocorre em um momento crucial, na véspera da reunião da Assembléia Geral da ONU, que deverá reunir em Nova Iorque chefes de Estado de todo o planeta.
O governo golpista de Roberto Micheletti apressou-se em adotar medidas militares, dispersando violentamente os cerca de 4000 partidários de Zelaya reunidos no local. Um toque de recolher foi imposto na capital, e os aeroportos, escolas e comércio foram fechados. Água, luz e telefone da Embaixada foram cortados. A OEA adotou resolução pedindo a recondução do líder deposto ao poder e o respeito de sua integridade física. O governo brasileiro solicitou a intervenção do Conselho de Segurança da ONU para garantir a segurança da Embaixada.
Mas afinal, quem é Manuel Zelaya, o homem no centro da crise hondurenha?
Candidato conservador às eleições de 2006, Zelaya transformou-se após o golpe em herói popular, sendo tratado pela oposição como esquerdista e comunista. Todavia, o homem de chapéu estilo “cowboy”, camisa desabotoada, botas texanas e bigode marcante não é facilmente descrito.
Filho de poderoso fazendeiro, fora eleito em 2005 pelo Partido Nacional Hondurenho, de direita, com um programa também de centro-direita, num cenário em que poucas famílias da elite controlavam a economia local, e onde a esquerda havia sido escanteada do poder. Apesar disso, Zelaya promoveu reformas econômicas e sociais consideradas de esquerda, custando-lhe a perda do apoio da elite.
Diante de uma urgência financeira para concretizar reformas sociais no país em que 70% da população vive abaixo da linha da miséria, Zelaya buscou ajuda no setor privado, que firmemente lhe virou as costas. O Banco Mundial, por sua vez, ofereceu-lhe uma ajuda irrisória de U$ 10 milhões. O empréstimo relevante, de U$ 132 milhões, veio de Hugo Chávez.
A aliança com a Venezuela, sacramentada na adesão à Alternativa Bolivariana para as Américas, marcou a espetacular virada de Zelaya à esquerda, ilustrada pelo aumento de 65% do salário mínimo hondurenho, que passou de U$189 para U$ 289. Esse fato marcou o rompimento definitivo com o conservadorismo local. Não obstante, Zelaya foi o primeiro chefe de Estado hondurenho a visitar Cuba desde 1959, onde se desculpou publicamente com Fidel Castro pelo fato de seu país ter servido de base norte-americana para a luta contra a guerrilha; aproximou-se de Daniel Ortega na Nicarágua e protestou contra a ingerência dos EUA na Venezuela e na Bolívia. Para coroar sua posição, declarou na Assembléia Geral da ONU que o capitalismo estaria “devorando os seres humanos”.
Em seguida, isolado pelo patronato e por seu próprio partido, e já começando a inquietar os EUA, Manuel Zelaya insistiu no que chamou de “revolução pacífica” para a instauração de uma “democracia participativa”, convocando um referendo para consultar acerca da possibilidade de modificar a Constituição e permitir a reeleição do chefe de Estado. Essa empreitada, já iniciada por outros chefes de Estado na América Latina, entre os quais Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e também o conservador Álvaro Uribe, foi considerada ilegal pela Corte suprema hondurenha, apoiada por alguns membros do Congresso, por parte do Exército e pelos meios empresariais. Zelaya foi preso pelos militares na manhã do referendo, no dia 28 de junho de 2009. No Brasil, encontrou o apoio que lhe permitiu retornar a seu país. Porque o Brasil e não Venezuela? A resposta é estratégica, e o Presidente brasileiro tem reputação na Europa e nos EUA muito melhor do que o Presidente venezuelano.
O golpe de Estado dirigiu-se a um Presidente que fora eleito por um partido de direita, e que no decorrer do mandato deu uma guinada à esquerda. Micheletti anunciou que Zelaya seria preso e julgado por traição, caso entrasse em Honduras. O homem no centro da crise fora considerado, portanto, um traidor: um traidor da elite hondurenha.
Larissa Ramina, Doutora em Direito Internacional pela USP e Professora da UniBrasil.

segunda-feira, setembro 21, 2009

“EUA tem o maior orçamento militar do mundo e usa para tomar riquezas dos demais”

Pesquisadora Eva Golinger denuncia:

Os presidentes dos países que integram a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), reunidos em Kinshasa no dia 11, reivindicaram o imediato fim das sanções contra o Zimbábue.

O anfitrião do encontro, presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, denunciou que as sanções sabotam o desenvolvimento e o bem-estar do povo do Zimbábue.

O comunicado final do encontro afirma que “considerando os progressos gerados pela aplicação de um acordo político global, chamamos a comunidade internacional a levantar toda forma de sanção contra o Zimbábue”.

REFORMA AGRÁRIA

Para manter as sanções econômicas, que incluem a negação de fundos por instituições financeiras, os EUA seguem denunciando ataques à democracia.

O boicote contra a ex-colônia britânica, de 11 milhões de habitantes e com 73% de sua população em zonas rurais, fez-se mais forte desde o ano 2000, quando o presidente Robert Mugabe acelerou a reforma agrária.

Na reunião participaram os chefes de Estado Jacob Zuma, da África do Sul; Armando Guebuza, de Moçambique; Robert Mugabe, do Zimbábue, e Lucas Pohamba, da Namíbia, além de delegações dos demais integrantes da Comunidade, que são Angola, Botsuana, Lesoto, Mada-gascar, Malawi, Suazilândia, Tanzânia e Zâmbia.

Uma delegação da União Européia visitou o Zimbábue durante esta semana e foi recebida por Robert Mugabe, integrantes de seu partido Zanu-PF; pelo primeiro-ministro Morgan Tsvangirai e seu partido MDC-T.

O jornal do Zimbá-bue, The Herald, denunciou que Tsvangirai “pretende que a União Européia mantenha as sanções contra o Zimbábue” apesar do acordo firmado pelos dois partidos e apoiado pela União Africana e pela SADC denominado Global Political Agreement (GPA - Acordo Político Global), pelo qual Tsvangirai assumiu o posto de primeiro-ministro. Ele participou de um comício em Bulawyo, mesma cidade e no mesmo dia em que membros da delegação se encontraram com ele para dizer que No comício ele declarou que “o partido Zanu-PF continua a violar a lei, perseguir parlamentares nossos e a ignorar tratados internacionais”.

Integrantes do partido Zanu-PF também denunciaram que nos encontros com os europeus somente eles argumentavam contra as sanções enquanto que os do MDC-T “ficavam estra-nhamente em silêncio”.

O The Herald denuncia que Tsvangirai quer forçar o governo a lhe ceder mais postos do que o acordado. O ministro do Desenvolvimento da Suécia, Gumilla Carlson, defendeu Tsvan-girai dizendo que “as medidas restritivas são decididas pela União Européia” e que “não cabe ao primeiro-ministro [Tsvangirai] retirá-las”.

MUGABE

O presidente Mugabe esclareceu aos europeus que o Zanu-PF fez a sua parte e o governo procedeu à posse de Tsvangirai e demais ministros por ele indicados. Mugabe declarou que deputados do MDC-T foram presos sob acusação de sequestro e estupro “ofensas muito graves em qualquer país do mundo”.

“Ou os senhores pretendem que os deputados no Zimbábue estejam acima da lei?”, questionou o presidente. Mugabe esclareceu que o ministro do Interior, encarregado da polícia, foi indicação acordada pelo Zanu-PF e MDC-T. “Eu duvido que ele mandaria prender de forma arbitrária membros de seu próprio partido”, disse Mugabe.

O presidente Mu-gabe pediu aos europeus que prestassem atenção aos pontos de vista africanos sobre a questão do Zimbábue como referentes a um país soberano e independente. “A Europa deve se reportar a nós como um país africano e não como se fôssemos membros de sua comunidade. Nós não somos parte da Europa”.

segunda-feira, setembro 14, 2009

O primeiro 11 de setembro sem Bush e Cheney

 

Duas guerras sem final à vista e milhões de cadáveres depois (entre eles os de mais de 5 mil soldados americanos mortos, 4343 no Iraque e 824 no Afeganistão), os Estados Unidos de Barack Obama tentam distanciar-se ao menos da histeria belicista disseminada pela dupla Bush-Cheney. Como desta vez o ritual anual na área do WTC foi bem comportado, pode-se ainda fingir que não persistem as teimosas especulações paranóicas sobre suposta cumplicidade do governo anterior. O artigo é de Argemiro Ferreira.

Argemiro Ferreira

Apesar de marcar o 8º aniversário das ações terroristas de 2001, o 11/9 de 2009 baixou a bola. Pela 1ª vez a data foi lembrada sem as presenças nefastas, na Casa Branca, de George Bush e Dick Cheney - notórios beneficiários políticos dela, obstinados em manipular o episódio para extremar sua agenda neoconservadora exorcizada atualmente dentro e fora dos EUA.
Duas guerras sem final à vista e milhões de cadáveres depois (entre eles os de mais de 5 mil soldados americanos mortos, 4343 no Iraque e 824 no Afeganistão), os EUA de Barack Obama tentam distanciar-se ao menos da histeria belicista disseminada pela dupla Bush-Cheney. Neste ano 8 do 11 de setembro conformaram-se com menos exagero nas homenagens às vítimas das ações terroristas.
De Nova York o jornalista Sérgio Dávila enviou para a Folha de S.Paulo um texto que refletiu bem o novo clima, mais civilizado, mesmo com a repetição parcial do ritual cumprido a cada setembro desde 2001. Oito anos depois, explicou ele, “ninguém sabe o que fazer com o evento histórico, tanto de maneira literal como figurada”.
O presidente Barack Obama, depois de avisar que não iria ao World Trade Center de Nova York, ficou na capital e participou de ato em homenagem às vítimas do avião lançado sobre o Pentágono. Como desta vez o ritual anual na área do WTC foi bem comportado, pode-se ainda fingir que não persistem as teimosas especulações paranóicas sobre suposta cumplicidade do governo anterior.
Os equívocos da guerra ao terror
De tal forma Bush e Cheney exploraram em benefício próprio - e da agenda deles - o episódio traumático de 2001 que ficou difícil convencer críticos mais radicais (do governo, das guerras e da arrogância militar) de que nada tiveram a ver com as ações terroristas - simplesmente as abraçaram como pretexto para impor aquilo que em condições normais o país teria rejeitado.
Outra acusação relacionada ao 11/9 poderia sim - e ainda pode - ser feita ao governo Bush e à facção neoconservadora nele empoleirada graças ao papel preponderante do vice Cheney. Ou por negligência, ou ainda por arrogância, não teria deixado o país vulnerável ao subestimar o aviso grave do governo Clinton sobre a ameaça representada por Osama Bin Laden?
Já havia indícios disso antes mas na véspera deste último 11/9 surgiu mais um depoimento capaz de reforçar a suspeita: a entrevista à rede ABC de televisão de Elie Assaad, libanês de nascimento e informante durante 13 anos do FBI (Bureau Federal de Investigações). Sua história de sucesso foi a infiltração em pequena mesquita na periferia de Miami, que em 2006 levou à prisão de sete supostos terroristas.
Assaad relatou o episódio, tido como meritório, ao repórter Brian Ross da ABC. Oficialmente, uma operação sting contra “célula terrorista”. Mas contou ainda que o FBI, cultor de tais operações (armadilhas para apanhar muçulmanos ingênuos), o impedira no início de 2001, em Miami, de ir atrás da estrela maior do terrorismo - Mohammed Atta, o saudita que meses depois lideraria o ataque de 11/9.
“Podíamos ter impedido os ataques”
Assaad queixou-se agora de que teve a chance de desbaratar o complô para seqüestrar quatro aviões e lançá-los contra o World Trade Center de Nova York e o Pentágono na capital, sendo impedido pela política equivocada do FBI, que preferia concentrar-se em operações encobertas (sting), nas quais seus agentes empurravam gente despreparada para o extremismo.
No princípio de 2001 Assaad queria aceitar um convite para ir à casa de Adnan Shukrujumah, cujo pai dirigia a mesquita de Miami. Ali teria conhecido o plano do 11/9. Mas a idéia foi vetada pelo FBI, que o mandou evitar a visita e se limitar a alvos menores, meros terroristas potenciais (ironicamente, hoje o bureau oferece recompensa de US$5 milhões pela captura de Shukrujumah).
Durante a reportagem da ABC o repórter Brian Ross ouviu ainda Richard Clarke, que à época era o especialista em contra-terrorismo do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. “Aquilo foi mais um exemplo da maneira como o sistema, antes do 11/9, tinha entrado em colapso”, observou Clarke, autor de Against All Enemies, o livro que expôs o colapso.
Se o sistema tivesse funcionado, disse o especialista em contra-terrorismo, “teríamos sido capazes de identificar aquelas pessoas antes dos ataques”. Mas o FBI preferia que Assaad, usando o nome “Mohammed”, atraisse gente simples e oferecesse dinheiro, dizendo-se representante pessoal de Bin Laden, para tarefas específicas em favor da causa islâmica - como explodir bomba na própria sede do bureau em Miami.
Os terroristas que o FBI produz
Assaad contou que ao ser solicitado, logo após o 11/9, a examinar fotos dos 19 sequestradores do avião, reconheceu o líder Mohammed Atta. “Era a prova de que eu estava 100% certo, tinha de ter ido atrás de Shukrujumah e Atta, como queria. E não dos outros, menores, como mandou o FBI. Fiquei tão enlouquecido que, num acesso, destruí os móveis em minha casa”, contou.
Na queixa de agora o espião disse que o FBI insistia no seu modelo sting. A partir de 1996 Assaad operou em 10 estados do país e no exterior. Os alvos, apanhados em armadilhas, eram sem importância, mas com aquilo o bureau de investigações acreditava que podia mostrar serviços - êxitos aparentes. Só que nos julgamentos os advogados às vezes provavam ao júri que os réus eram na verdade vítimas do FBI.
Para a defesa, os réus, desinformados e ingênuos, tinham sido convencidos pelo próprio governo (o FBI), em troca de dinheiro, a cometer crimes. No caso célebre de Assaad, em 2006, os julgamentos de dois réus deram em nada (mistrial) enquanto cinco foram condenados por terrorismo nos demais. Mas Alberto González, Procurador Geral no governo Bush (e defensor da tortura), fez elogio público a Assaad pelas sete prisões.
Refere-se a esse caso conspícuo um vídeo obtido pela ABC e mostrado na entrevista do espião do FBI. Ali aparecem os sete fazendo juramentos de lealdade a Bin Laden e recebendo as boas vindas de Assaad à al-Qaeda. Em outro vídeo Assaad conta o dinheiro e o entrega a um do grupo. Obcecado em prolongar a histeria pos-11/9 o governo Bush festejava coisas assim, que prolongavam o estado de medo no país.
E hoje o ex-vice Cheney ainda defende a insanidade das políticas do governo Bush, como se coisas assim, juntamente com as torturas, fossem receita infalível contra o terrorismo.
Blog de Argemiro Ferreira

sexta-feira, setembro 04, 2009

A Nigéria e o perigo holandês

 

No oeste da África, no golfo da Guiné, entre o Benin e Camarões, o Níger e o Chade situa-se a Nigéria, um dos maiores países africanos – 923.768 Km2 de extensão territorial – com quase 150 milhões de habitantes. O mais populoso país do continente africano tem a maioria de sua população vivendo na miséria absoluta e só 25% dela está nas cidades.

Vários idiomas são falados no país, os das principais etinias que compõem 65% da população, os hussás, iorubas, ibos e fulanis. Os 35% restantes dividem-se em 245 pequenos grupos étnicos.

O idioma oficial é o inglês, herança da submissão à Inglaterra que colonizou o país até 1960 quando se tornou independente com o nome de República Federal da Nigéria e a capital em Lagos. Em 1991 a capital passou a ser a cidade de Abuja no centro geográfico do país.

A maioria da poluação, 50%, professa o islamismo, os outros 50% são cristãos católicos e protestantes ou professam os cultos tradicionais africanos.

71% dos nigerianos vivem com menos de 70 centavos de euros diários, a expectativa de vida é de 47 anos, 50% da população não tem acesso à água potável e o rio Níger é um dos mais poluídos do mundo pela ação predatória da industria química e petrolífera e pela mineração de urânio. 5,4% da população é vítima da epidemia de Aids.

Ao contrário do que demonstra a vida da maioria do povo nigeriano, a Nigéria não é um país pobre. Rica em petróleo é o oitavo produtor mundial – 2 milhões e 300 mil barris diários explorados e exportados por multinacionais.

A Nigéria não tem o controle sobre a produção da riqueza que responde por 95% das exportações e constitui-se em 80% de suas receitas. É membro da OPEP e possui imensas reservas de gás natural, as maiores da África, e que chegam a 190 trilhões de metros cúbicos embora estimativas apontem que elas podem ser ainda maiores. Há um projeto de construção de um gasoduto de 4.200km. passando pelo Níger e pela Argélia para levar gás à Europa para que ela seja menos dependente do gás vindo da Rússia.

O país sofre a escassez de gasolina, pois não sobra petróleo para ser refinado e abastecer o mercado interno, quase tudo o que é extraído é exportado. 40% da população não tem também acesso à eletricidade.

Seu solo é rico em ferro, estanho, carvão e urânio que também são explorados por empresas estrangeiras.

Sua agricultura produz apenas 20% das necessidades de consumo, tudo é importado e pago com a renda do petróleo.

Mas o petróleo é um recurso finito. Calcula-se que o petróleo nigeriano chegará ao máximo de produção em 2012 e a partir daí começará a declinar.

Em que situação ficará o país sem o mesmo nível de recursos gerados pelo petróleo se nada dessa riqueza imensa fica nas mãos dos nigerianos? Se ela não é investida no desenvolvimento industrial interno capaz de gerar empregos que permitam o fortalecimento do mercado interno e o desenvolvimento em outras esferas da atividade econômica que estimulem o país a crescer?

Estão na Nigéria todas as principais multinacionais petrolíferas do mundo e são elas que ditam as cartas do jogo no país. Como o petróleo não vai durar para sempre elas já buscam alternativas a ele na produção de agro-combustíveis e transgênicos. Para isso têm feito grandes investimentos na compra de terras para a produção de etanol.
A alemã Hoyer Co. Engenneering Gbr adquiriu 50 mil hectares de terras no fértil delta do Níger para produzir bio-combustível. A norte-americana Food For All International com apoio (e provavelmente com muito dinheiro) do governo nigeriano comprou milhares de hectares de terras também no delta do Níger para produzir combustível. Muitas empresas inglesas e algumas chinesas também já entraram nesse negócio.

ACORDOS LESIVOS

Toda a política do governo nigeriano é executada para cumprir acordos com os monopólios petrolíferos, que são isentos de todo tipo de taxas e impostos de importação sobre todo e qualquer produto relativo à produção do petróleo ou bio-combustível.

O governo não usa a riqueza do país, gerada pelo petróleo, para produzir outras riquezas e dotar o país de uma infra-estrutura capaz de promover o desenvolvimento e bem estar da população.

Tais acordos lesivos ao país e que permitem aos monopólios petrolíferos darem asas a sua ganância e auferirem superlucros, deixam um rastro de miséria, devastação, fome e desamparo de milhares de nigerianos, cuja diversidade étnica, cultural e religiosa é manipulada pelos prepostos e testas-de-ferro das multis para estimular conflitos de toda ordem em benefício de seus interesses econômicos no país.

A Nigéria está perdendo a chance de desenvolver-se enquanto ainda tem um pouco da riqueza proveniente do petróleo.

O governo não tem dinheiro para investir na industrialização, em educação, saúde, saneamento básico ou habitação e a injustiça generalizada na distribuição da riqueza do petróleo provoca uma grande tensão social.

Surgem guerrilhas que atacam as plataformas e oleodutos das multinacionais em vários pontos do país, mas em particular no delta do Níger.

SHELL

Movimentos sociais acusam a multinacional Shell de degradar o meio ambiente com a queima do gás a céu aberto nos poços de extração, o que vem causando graves prejuízos para saúde de milhares de nigerianos que sofrem de problemas respiratórios e câncer.

A Shell é acusada também de ser responsável pela poluição e degradação do rio Níger onde despeja detritos sem tratamento indiscriminadamente.

O “perigo holandês” no caso da Nigéria é proporcional ao seu tamanho e à sua população.

ROSANITA CAMPOS

quarta-feira, setembro 02, 2009

O tigre acuado pela crise

 

Um dos chamados Tigres Asiáticos sofrem com o colapso econômico global, que se reflete no aumento das taxas de desemprego

Um dos chamados Tigres Asiáticos sofrem com o colapso econômico global, que se reflete no aumento das taxas de desemprego

02/09/2009

Patrícia Benvenuti

da Redação

O rápido crescimento da Coreia do Sul, especialmente na década de 1990, em princípio parece um bom exemplo a ser seguido por países pobres que pretendem um fortalecimento de suas economias.

A atração de capital externo por meio de "benefícios" como mão-de-obra barata, isenção de impostos e baixos custos para instalação de empresas foi uma marca do crescimento sul-coreano, patrocinado, por mais de três décadas, pelos diferentes governos militares que se sucederam no país.

O mesmo modelo foi adotado por Taiwan, Hong Kong e Cingapura que, junto com a Coreia do Sul, ficaram conhecidos como Tigres Asiáticos, pela agressividade de suas manobras para alavancar a economia.

Os riscos da dependência em relação ao capital estrangeiro e ao neoliberalismo, porém, aparecem em momentos de instabilidade, como a atual crise econômica mundial. Segundo a ativista sul-coreana Aehwa Kim, integrante da Aliança Coreana de Movimentos Progressistas, o país está perto de alcançar a marca de um milhão de desempregados, e a expectativa é de que o número de demissões no país possa aumentar.

Ao lado de Seung-Hun Lee, integrante do Partido Democrático Trabalhista da Coreia do Sul, Aehwa veio ao Brasil para conhecer organizações de camponeses. Em entrevista ao Brasil de Fato, a ativista fala sobre as consequências do colapso econômico sobre os trabalhadores sul-coreanos, agravadas pelo conservadorismo do atual governo, e revela, ainda, alguns dos interesses que impedem a reunificação das duas Coreias.

Brasil de Fato – A senhora poderia comentar um pouco sobre a atual conjuntura político-econômica da Coreia do Sul?

Aehwa Kim – Acho que a Coreia não é um caso atípico em termos dessas questões. Nós tivemos os mesmos problemas que outros países. O governo sul-coreano, tanto o anterior como o atual, tem promovido tratados de livre comércio e políticas neoliberais. As questões políticas estão se tornando cada vez mais não democráticas e, no momento, temos uma situação econômica muito difícil como, por exemplo, o índice de desemprego no país. Estamos esperando que a população de desempregados na Coreia, como um todo, chegue a um milhão de pessoas, e nossa população total está por volta de 48 milhões de pessoas. Mas esses são os números que o governo está lançando. Dois anos atrás, o governo coreano aprovou uma lei sobre trabalhadores irregulares [temporários, que têm um contrato curto de trabalho]. Como nós temos muitos trabalhadores irregulares, o governo decidiu protegê-los. Então, fez uma nova lei limitando o período pelo qual estes seriam contratados. Como consequência, uma empresa só pode contratar um trabalhador por dois anos. Se você contratar um trabalhador irregular por mais de dois anos, a empresa tem que mudar sua condição, para regular. O governo acredita que essa é uma ideia excelente porque os trabalhadores irregulares continuariam trabalhando depois de dois anos, e com isso, reduziria seu número. Mas a realidade é muito diferente. Existe um vazio na lei, que os empregadores usam. Antes de dois anos, despedem os trabalhadores. Hoje, eles só estabelecem contratos irregulares com os trabalhadores por um ano ou, no máximo, menos de dois anos. Ou seja, ele nunca vai trabalhar esses dois anos para se tornar regular. Se a empresa não fizesse isso e não procedesse irregularmente, essa lei seria boa.

Julho deste ano seria o limite para que os trabalhadores irregulares se tornassem efetivos, mas o atual governo reinterpretou essa lei e disse: como a economia da Coreia não está boa, para ativá-la e para facilitar os negócios para as empresas, expandiu esse período que a lei prevê. Com isso, esse processo foi empurrado para frente, sem definir a próxima data [para entrar em vigor]. Há dois anos estávamos lutando contra essa lei porque sabíamos que as empresas usariam essa brecha. Em vez de melhorar essa lei, que já não era boa, o governo a piorou.

Outra questão é a lei de mídia. Nós temos televisão pública, temos jornais e uma lei que diz que empresas de jornal não podem ser donas de televisão. O atual governo quer mudar isso, sob a alegação de competitividade. Os movimentos sociais e o Partido Liberal criaram uma coalizão juntamente com o Partido dos Trabalhadores e os partidos menores mas, mesmo assim, não temos o número suficiente [no Parlamento] para deter essa lei através do processo regular. Como consequência, ocupamos a Assembleia Nacional porque não tínhamos outra opção. O governo está, então, usando a situação econômica para mudar as leis trabalhistas e as leis de mídia.

Como a crise tem atingido o país?

Temos o índice do desemprego, que é muito sério. Além disso, a maior parte dos trabalhadores hoje é irregular, e nem trabalho temporário está fácil de conseguir. A indústria de automóveis, principalmente, têm reduzido o número de trabalhadores, como a Hyundai e a Kia. Uma empresa de carros chamada Ssangyong reduziu o número de trabalhadores e, agora, por dois meses, estes entraram em greve, ocuparam a fábrica. Eles não causaram nenhum problema na produção, ninguém tinha causado qualquer problema para a empresa e, de repente, perderam o emprego, foram demitidos. Por que nós vamos ter que perder nosso trabalho e eles não vão perder nada? Eles despediram mais de mil trabalhadores, metade do total. Esse é um exemplo da crise e das consequências e ações dos trabalhadores.

Em termos de propostas, o que surge por parte da classe trabalhadora?

Os sindicatos querem que o governo disponibilize recursos públicos para que as empresas garantam os empregos dos trabalhadores. Essa é a proposta dos sindicatos. O governo também queria mudar a lei do salário mínimo. Nela, existe um item específico que fala que todos têm que receber o salário mínimo, com exceção das pessoas com deficiência física e as pessoas acima de 60 anos. Então, para estas pessoas, a empresa pode pagar menos do que o salário mínimo. O que quer o governo coreano é expandir essa cláusula, mas o que nós queremos é aumentar o salário mínimo e criar restrições para qualquer tipo de exceção. É um governo extremamente desumano, o salário mínimo já é para os mais pobres e eles ainda querem diminuir a renda daqueles que já são muito pobres. Esse é um exemplo em que a desculpa é sempre a situação econômica.

Como tem sido então a relação das organizações progressistas com o novo governo?

Até dezembro de 2007, quando o novo presidente [Lee Myung-bak] entrou no poder, a gente teve um período relativamente bom. O governo anterior considerava todas as pessoas como povo e tentava mostrar que tinha a intenção de trabalhar para as pessoas comuns. Mas, agora, o atual governo praticamente retrocedeu, em mais de dez anos, para o período militar da Coreia. É uma situação semelhante à situação que nós tínhamos então, e nós temos que lutar contra o atual governo para voltar a esses dez anos democráticos em questões trabalhistas, de direitos humanos, da mídia, em todas as áreas da sociedade. Se fazemos hoje um pequeno protesto, a reação do governo é nos prender, colocar na cadeia, o que não acontecia no período democrático. A repressão aumentou muito.

Como está a relação entre as duas Coreias?

É muito importante enfatizar a relação da Coreia do Norte com a Coreia do Sul. Nos últimos dez anos, estava progredindo. Tivemos duas cúpulas entre as duas Coreias e também desenvolvemos uma relação de cooperação econômica, criando uma zona econômica especial perto da fronteira, um complexo industrial em Kaesong, localizado na Coreia do Norte. As empresas da Coreia do Sul estão investindo e iniciando operações lá. Nos últimos dez anos, nós podíamos ir para Kaesong, podíamos ir também para a capital da Coreia do Norte, que é Pyongyang, mas a população da Coreia do Norte não podia descer [para a Coreia do Sul]. Mas, desde que o novo governo entrou no poder, está se tornando cada vez mais difícil ir para a Coreia do Norte. O atual governo está se tornando uma obstrução para a construção de relações entre os dois países. Há também a questão nuclear. A Coreia do Norte lançou alguns satélites e fizeram testes nucleares. Como consequência, algumas leis agora estão apertando o cerco contra a Coreia do Norte. Os Estados Unidos fortaleceram as sanções econômicas ao país, que está se tornando mais isolado na comunidade internacional também em consequência das ações do nosso atual governo. A fronteira da Coreia do Sul com a Coreia do Norte, na realidade, é um resíduo da Guerra Fria. É o único lugar no mundo onde ainda existe esse resíduo que, no resto do mundo, não tem mais.

Como as organizações progressistas agem em relação à Coreia do Norte? Que ações estão sendo feitas?

Sob nossa rede de organizações, a Aliança Coreana de Movimentos Progressistas, temos muitas organizações trabalhando nos movimentos de paz e nas questões de reunificação. Por exemplo, temos uma organização chamada Coalizão Pan-coreana, que promoveu a declaração de 15 de junho [em 2000], quando os líderes da Coreia do Norte e da Coreia do Sul se encontraram em uma cúpula. Nessa declaração, eles determinavam uma reunificação pacífica, com respeito mútuo, e também para o desenvolvimento cooperativo de relações econômicas. Isso foi um momento muito importante para dissolver um período de tensão e conflito passar para uma relação de amizade e cooperação. Depois dessa declaração, nós pudemos desenvolver o complexo industrial de Kaesong. Os sul-coreanos costumavam pensar na Coreia do Norte como um país extremamente hostil antes dessa cúpula, mas depois disso, passaram a adotar uma posição diferente. Agora, estamos entrando em uma nova fase porque, com o novo governo, isso está sendo revertido, e a população da Coreia do Sul começa a ver novamente a Coreia do Norte como um país hostil, com quem eles não podem ter nenhuma relação de amizade. Isso é construído pelo governo dos Estados Unidos e também pela mídia local. A declaração de 15 de junho foi assinada pelos dois líderes das duas Coreias e, por isso, nós temos que lutar para manter e respeitar essa declaração. Mas o que o atual governo está fazendo é ignorá-la. E a Coreia do Norte pensa: “se você ignora a declaração assinada pelo antigo governo, então também não vamos poder respeitar a sua posição”. Isso significa que a Coreia do Norte começa a ver a Coreia do Sul como uma ameaça. O objetivo principal das pessoas agora é o movimento de reunificação, mas os Estados Unidos e o governo sul-coreano ignoram esse desejo. Por isso, temos que lutar contra os governos estadunidense e sul-coreano, porque eles são o principal obstáculo para a reunificação.

domingo, agosto 30, 2009

EUA: com os pés na Colômbia e os olhos no Brasil

 

Os EUA querem manter um papel protagonista no mundo e, para tanto, tentam expulsar a China da África e impedir uma aliança entre Rússia e Europa Ocidental. Essas duas grandes estratégias estão fracassando, daí a necessidade de garantir que a América Latina seja sua zona de influência exclusiva. A presença militar na Colômbia é um passo nesta direção, mas o verdadeiro alvo de Washington na região é o Brasil, país com maior poder relativo da região. A análise é dos cientistas políticos argentinos Marcelo Gullo e Carlos Alberto Pereyra Mele.

Agencia Periodística del Mercosur

Nos centros de planejamento do traçado estratégico dos Estados Unidos sabe-se que passou o tempo da potência única e global. Para enfrentar a União Européia, China e Rússia, Washington quer assegurar o controle da América Latina. Para isso precisa “acabar” com o Brasil. As possibilidades de resistência na região, o papel da Unasul e outras iniciativas de integração – esses pontos foram de uma entrevista exclusiva à Agencia Periodística del Mercosul, concedida pelos cientistas políticos especialistas e geopolítica, Marcelo Gullo (autor dos livros “Argentina-Brasil: a grande oportunidade” e “A insubordinação fundadora. Breve história da construção do poder das nações”) e Carlos Alberto Pereyra Mele, do Centro de Estudos Estratégicos Sulamericanos.
Para Gullo, o interesse geopolítico dos Estados Unidos consiste em atrasar o processo de passagem da condição de potência global para a de uma potência regional. A crise que atingiu o país, acrescenta, não é conjuntural, mas sim estrutural, porque, pela primeira vez desde 1970, ocorreu uma dissociação entre os interesses da alta burguesia norte-americana e os do Estado. A partir da década de 80, as indústrias estadunidenses, buscando pagar salários mais baixos, foram para a Ásia para produzir para o mercado interno norte-americano, alimentando assim um processo de desindustrialização dentro do próprio território. “Isso gerou um enorme processo de desemprego. Esse seria o eixo conceitual da crise financeira global, deixando os EUA desindustrializado, sem empregos suficientes e com 40 milhões de pobres”, diz Gullo.
E acrescenta: “Os EUA querem manter um papel protagonista e, para tanto, tentam expulsar a China da África e impedir a aliança entre Rússia e Europa Ocidental. Essas duas grandes estratégias estão fracassando, daí a necessidade de colocar um pé na Colômbia, um passo para que a América Latina seja sua zona de influência exclusiva”.
Os EUA, lembra, só produzem 15% da energia que consome e a América Latina provê 25% de suas necessidades em matéria de recursos. Pereyra Mele assinala que “a Colômbia é um país bioceânico, é vizinho do país (Venezuela) que vende 15% do petróleo consumido pelos EUA e também do Equador, outro país petroleiro. Desde as bases navais de Málaga e Cartagena de Índias, Washington tem rápido acesso ao maior ponto de comunicação comercial do mundo, o canal do Panamá”. Na mesma direção, Gullo observa que a importância geopolítica da Colômbia para os EUA se expressa tanto no plano tático como no estratégico.
Do ponto de vista tático, ele assinala: “o complexo militar necessita criar focos bélicos para justificar a produção e renovação de material bélico. Sem tal esquema, esse aparato não tem como justificar sua existência”. E do ponto de vista estratégico, “o objetivo é conseguir a capitulação do poder nacional brasileiro; para isso, procura traçar um cerco em volta do Brasil, começando na Colômbia e com a idéia de continuar pela Bolívia e pelo Paraguai”.
Nesse marco, a América Latina é obrigar a reforçar seus acordos regionais, como Unasul, Comunidade Andina de Nações e Mercosul, para evitar fraturas e controlar as turbulências domésticas (como o golpe de Estado em Honduras), que possibilitem a expansão das forças armadas dos EUA na região. Para Pereyra Mele, “a solução ao problema colocado pela ofensiva estadunidense sobre a América do Sul passa pela defesa irrestrita das áreas por onde fluem e se conectam os três sistemas hidrográficos mais importantes: o Orinoco, a Amazônia e o Prata”.
“Para isso devem ser desenvolvidas políticas internacionais coerentes, levando em conta as limitações colocadas pela potência hegemônica. É muito importante aprofundar o Mercosul, aumentar a presença da Unasul e dos organismos de defesa regionais. É necessária a criação de um complexo industrial militar argentino-brasileiro para melhorar nossa capacidade de defesa, sem dependência externa, incorporando outros países”, conclui Pereyra Mele.
Para Marcelo Gullo, a América a conforma uma comunidade cultural única. “Lamentavelmente, do ponto de vista político, a região está dividida em duas. De um lado México, América Central e o Caribe, zona de influência exclusiva dos EUA, e de outro a América do Sul”.
A respeito dessa última reflexão, talvez pudesse se acrescentar que o ódio sistemático dos poderes estadunidenses à Revolução Cubana pode ser explicado pelo fato de esta ter sido a única experiência concreta de freio à hegemonia de Washington sobre as regiões Norte, Central e Caribenha da América Latina. Diante disso, conclui Gullo, “a responsabilidade principal é do Brasil, por ser o país com maior poder relativo da região. O problema é que a classe dirigente brasileira não compreende adequadamente que, para resistir à agressão dos EUA, precisa de sócios fortes e não fracos. Devem compreender que o importante não é sua industrialização isolada, mas sim a industrialização de toda a América do Sul”.
As mudanças de política militares que Barack Obama prometeu em sua campanha presidencial até agora não apareceram. A menos que alguém queira que o caráter identitário passa exclusivamente pela pigmentação da pele, nem que sequer podemos dizer que um afroamericano chegou à presidência. Para além do discurso, Obama solicitou ao Congresso dos EUA a aprovação de 83,4 bilhões de dólares em fundos extras para financiar as aventuras bélicas no Iraque e no Afeganistão, avança com a instalação de novas bases militares na Colômbia e manteve uma posição mais do que ambígua em relação ao golpe de Estado em Honduras.
O orçamento do Pentágono é 50 vezes superior ao total de gastos militares do conjunto de países do sistema internacional. Além disso, realiza os maiores investimentos, em nível mundial, em pesquisas militares e espaciais. Essa disponibilidade de recursos permite aos EUA agir de forma simultânea com ingerências bélicas em diferentes áreas do planeta.
Tradução: Katarina Peixoto

quarta-feira, agosto 26, 2009

Quem quer tomar o pré-sal do Brasil e os seus lobbies

 

FERNANDO SIQUEIRA*

A primeira fonte de pressão sobre o pré-sal são os Estados Unidos, com 29 bilhões de barris de reservas e consumo anual de 10 bilhões. A segunda fonte é o cartel das Sete Irmãs, que já teve controle de 90% das reservas mundiais e hoje tem em torno de 3 a 6% dessas reservas. E nessa condição estão fadadas a desaparecer.

Quem dominou o setor durante 150 anos, com todo tipo de atitude, como subornar, destituir ou assassinar presidentes que nacionalizaram o petróleo, como Jayme Roldós do Equador, que foi assassinado, Enrico Mattei da Itália, que foi assassinado, Mohamad Mossadeg do Irã, que foi deposto. Foram assassinados oito poetas da Nigéria porque eles gritavam ao mundo que a Shell estava destruindo as terras agricultáveis do povo Ogani e agora a Shell está sendo processada, 20 anos depois. A Exxon está sendo processada por causa do derrame no Alasca. Enfim, essas empresas dominaram o setor com mão de ferro e não vão vender barato a sua derrota, sua extinção.

A primeira providência da Exxon foi se fundir para sobreviver. A Exxon e a Móbil se fundiram e criaram a ExxonMobil, a maior empresa de petróleo do mundo e não tem reservas. Mas tem um faturamento brutal, o maior faturamento do mundo.

A Chevron se fundiu com a Texaco e com a Gulf (todas americanas). A British Petroleum da Inglaterra se fundiu com a Amoco dos Estados Unidos. Essas empresas estão se fundindo para não desaparecer. Mas só a fusão não é suficiente. É preciso reservas. Então elas querem o pré-sal, até porque três delas são americanas e uma é anglo-saxônica.

A Total, européia, se fundiu com a Fina. Uma francesa com uma belga. E a Totalfina com outra francesa, a Elf. Essas empresas formam o novo cartel denominado “BIG OIL” e se fundem para sobreviver. Estão atuando fortemente nos três Poderes brasileiros. Nós tivemos esse ano, quatro audiências públicas no Senado. Cada audiência pública com cinco meses de exposição, debate; cada mesa com dois lobistas de peso. No dia 3 de junho, foi feita a primeira na Câmara. Coincidentemente, os lobistas defensores da atual legislação são os mesmos. É o presidente do IBP, João Carlos de Luca, que também é presidente da Repsol, que é uma empresa espanhola comprada pelo Royal Bank of Scotland, que também é dono do Santander, que comprou o Banespa numa condição absolutamente indefensável. Enfim, a Repsol é uma empresa anglo-saxônica, braço das Sete Irmãs.

Comprou a YPF da Argentina e a ENI da Itália. Ela está na Argentina, na Colômbia, na Bolívia, no México, enfim, essas empresas estão fazendo todo o possível para que não mude o marco regulatório brasileiro, para que elas mantenham as vantagens nele contidas. Em contrapartida, “as novas irmãs” são oito estatais que detêm 65% das reservas: Saudi Aramco, Gazprom (Rússia), Inoc (Irã), Petronas (Malásia), PDVSA (Venezuela), Pemex (México), Petrochina e Petrobrás. Além dessas, tem a Nigeriana NNPC e a NIOC do Iraque.

Estão nas mãos das empresas estatais cerca de 80% das reservas, com tendência a aumentar essa posse porque as empresas e os governos se deram conta do alto valor estratégico que o petróleo representa. As chances das irmãs privadas conseguirem novas reservas são muito complicadas. O pré-sal é uma das alternativas que está mais à mão delas, se nós brasileiros não reagirmos, claro.

* Presidente da AEPET.

Texto extraído do livro  “O  pré-sal é nosso - pelo retorno da Lei 2004”.

quinta-feira, junho 25, 2009

Imagens únicas da Coreia do Norte

Data de publicação : 24 Junho 2009 - 12:32pm | Por RNW RNW

Assuntos relacionados:

Turistas podem visitar a Coreia do Norte, apesar dos lançamentos de mísseis, dos testes nucleares subterrâneos e dos discursos com ameaças de guerra do regime de Pyongyang. A correspondente da Rádio Nederland acompanhou uma destas visitas, como turista, já que jornalistas não são bem-vindos.

por Jin Lin

Mesmo para os turistas a liberdade de ir e vir no ‘paraíso dos trabalhadores’ é muito pequena. As viagens pelo país são feitas de ônibus e os pernoites são em bons hotéis, bem longe das pessoas comuns. Quase não há contato com cidadãos coreanos, embora dois guias fiquem à disposição dos turistas. Eles falam de seus ideais e da luta contra o imperialismo norte-americano.

Durante a visita à Coreia do Norte os turistas podem ver o melhor do melhor do ‘paraíso dos trabalhadores’. Tudo o que não se encaixa nesta imagem é creditado aos ‘belicosos’ norte-americanos, que tentam destruir a Coreia do Norte com suas sanções. Por causa do ‘inimigo’ norte-americano, a nação sofre com a falta de energia elétrica, pobreza e escassez de alimentos. É a grande desculpa para o empobrecimento do país.

Após a Guerra da Coreia, em 1953, nunca foi assinado um acordo de paz com a Coreia do Sul e os Estados Unidos. Apenas um cessar-fogo foi assinado e vigora até hoje. Mais de sessenta anos depois, o país continua em guerra. Mas desde então, amigos e inimigos continuaram a se desenvolver. Já a Coreia do Norte, sem conexão de internet ou telefones celulares, ficou para trás em uma luta solitária.


http://www.rnw.nl/pt-pt/português/article/imagens-únicas-da-coreia-do-norte