quarta-feira, setembro 17, 2008

O BRASIL TREME

 

O País sofre com terremotos em diversas regiões - e já investe em uma moderna rede de sismógrafos
Cai por terra a velha teoria de que no Brasil, ainda que as coisas nem sempre andem bem, “pelo menos não tem terremoto”. Nos últimos dias, a natureza falou por si. E os cientistas apenas confirmaram: o solo brasileiro treme constantemente. No interior do planeta, na fronteira entre a crosta terrestre e os mantos de magma, há placas tectônicas que se encaixam como peças de um quebra-cabeça. Em algumas áreas do globo, como é o caso do continente sul-americano, essas placas deslizam umas sobre as outras e essa dança gera um atrito tão forte que empurra a crosta terrestre para cima, gerando terremotos. O resultado dessa “dança” espalhou pânico entre moradores de cidades como Sobral, no Ceará, onde em apenas três dias foram registrados 507 tremores de terra. “A intensidade não foi alta (3,9 graus na escala americana Richter, que vai até 9 graus), mas foi o suficiente para destelhar casas e fazer a população ir dormir nas ruas, em barracas e redes improvisadas”, disse à ISTOÉ Lucas Vieira Barros, chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), que controla 300 estações sismológicas do País. Apesar de centenas dessas estações monitorarem o solo brasileiro, a verdade é que os atuais equipamentos precisam ser modernizados para que possam alertar em tempo real a população sobre os possíveis danos que os tremores possam causar – é isso que fez a Petrobras investir R$ 20 milhões no Observatório Nacional para a implantação dos mais modernos equipamentos feitos na Suíça e nos EUA. Serão ao todo 50 estações do Sul ao Nordeste do Brasil. “Entraremos no rol das nações desenvolvidas do ponto de vista de estudos geofísicos”, diz Sérgio Luiz Fontes, diretor do Observatório Nacional.
Nos últimos meses, o Brasil nunca tremeu tanto. O geólogo Barros explica que as falhas geológicas que cruzam o solo do País geraram 30 sismos com magnitude acima de 5 graus. Os primeiros abalos registrados foram no ano de 1955, em Mato Grosso e no Espírito Santo. Depois disso, as maiores incidências estão no Ceará e no Rio Grande do Norte. Para evitar que um terremoto aconteça sem que a população esteja preparada, como ocorreu em dezembro de 2007 na comunidade rural mineira de Caraíbas, onde uma criança morreu e dezenas de casas foram completamente destruídas, o Observatório Nacional irá utilizar um moderno sismógrafo. Trata-se de um aparelho que usa sensores para registrar ondas sísmicas geradas no interior do Planeta, antes mesmo de chegar à superfície. Outra novidade serão os sistemas de posicionamento de satélites que conseguem mapear quaisquer movimentos horizontais da Terra. Por fim, as estações serão equipadas com gravímetros, para medir a aceleração da gravidade do globo terrestre.
A idéia do projeto é que os dados sejam recebidos via satélite, de forma a ter “quase em tempo real” uma medida da atividade sísmica. “Produziremos relatórios quando houver tremores de maior magnitude, acima de 4 pontos na escala Richter”, afirma Fontes. Há, no entanto, uma pedra no meio do caminho. Possivelmente o registro de sismos deverá ser ajustado para detectar abalos de menos de 4 graus de intensidade. “Em locais onde as construções são precárias, 3 graus já serão suficientes para causar rachaduras e queda de telhas”, diz Barros. Esse será um dos detalhes que o Observatório Nacional terá de revisar antes de colocar os equipamentos em operação. Em 2009, as primeiras 11 estações serão instaladas em Linhares (ES), Cananéia (SP), Tubarão (SC), Vassouras e Angra dos Reis (RJ).


Revista Istoé


Edição 2001 - 12 DE MARÇO/2008

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