quarta-feira, agosto 06, 2008

EUA cobiçam ouro, gás, urânio, cromo e platina do Zimbábue

 

“Essa é a verdadeira razão para a intervenção do governo Bush no país”, assinalou o escritor norte-americano William Engdahl. “Robert Mugabe preside um dos tesouros minerais mais ricos do mundo”

“Robert Mugabe, o presidente do Zimbábue, preside um dos tesouros minerais mais ricos do mundo”, afirmou o escritor norte-americano William Engdahl, autor de “Um Século de Guerra: a Política de Petróleo Anglo-Americana e a Nova Ordem Mundial”, e que mantém na internet uma página sobre “geopolítica do petróleo”.

Essa riqueza está concentrada na região do ‘Great Dyke’, com uma franja geológica que atravessa todo o território, de noroeste a sudeste. Essa é a verdadeira razão para a intervenção do governo Bush no país, assinalou o escritor, que obteve um documento do Departamento de Estado que detalha tais riquezas. Não qualquer “piedosa preocupação” com a situação dos “direitos humanos no Zimbábue”; suposta “fraude eleitoral”; ou, ainda, “a expropriação de fazendas de brancos”, registrou em seu artigo “O grande pecado de Mugabe”.

RIQUEZA MINERAL

Eis o que revela esse documento do Departamento de Estado reproduzido por Engdahl: “O Zimbábue conta com ricos recursos minerais. As exportações de ouro, asbestos, cromo, carvão, platina, níquel e cobre poderiam levar um dia a uma recuperação econômica”. Mais adiante, o documento abre o jogo: “Os bolsões de gás recentemente descobertos na província de Matabeleland são os maiores campos de gás até agora conhecidos no sul e no leste da África”. Admite, ainda, que o Zimbábue “tem abundantes reservas de carvão” e “considerável potencial de energia hidroelétrica”. A essa compilação das riquezas do Zimbábue, Engdahl acrescenta, ainda, “reservas de urânio ainda não quantificadas”. Quanto às reservas de cromo, revelou o artigo mais adiante, “são as segundas maiores do mundo, atrás apenas das da África do Sul”. O cobre vem sendo explorado desde os tempos do aventureiro Rhodes.

Após ironizar as manipulações da Casa Branca e de Londres, para apresentarem Mugabe como “um homem muito, muito mau”, “um ditador” e “merecedor de estar na lista de honra dos vilões”, Engdahl afirmou que “não é essa a razão” que os levou a tornar a “mudança de regime”, isto é, sua derrubada, “a prioridade número 1” de sua política para a África. O suposto pecado de Mugabe, apontou, “tem mais a ver com suas tentativas de escapar da dependência e servidão neocolonial anglo-americana e buscar um desenvolvimento econômico nacional independente do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial”.

O que, no entender do escritor, tem se dado por meio do estreitamento de laços econômicos com a China, que tem oferecido aos países africanos empréstimos e investimentos “em condições muito mais brandas” do que os oferecidos pelos EUA, Inglaterra, FMI e Banco Mundial, e sem os condicionamentos impostos, “ajustes” e cortes de programas sociais. “Ultimamente, ficou muito claro que talvez o tenaz Mugabe controle as coisas, os sócios comerciais preferidos do Zimbábue não são os anglo-americanos, mas sim os chineses. Esse parece ser o pecado maior de Mugabe. Não está seguindo o programa traçado por George W. Bush e seus amigos. Seu pecado real parece ser o de haver-se voltado para o Oriente, ao invés de ao Ocidente, em busca de ajuda econômica e investimentos”.

SANÇÕES

A bem da precisão, as operações de desestabilização e as sanções contra o governo de Mugabe, levadas a cabo pela Casa Branca e por Londres, antecederam em muito esse estreitamento de relações econômicas com a China – pelo menos cinco anos. (Pode-se, inclusive, inferir, que o citado estreitamento é uma conseqüência dessa tentativa, em curso, de estrangulamento da economia zimbabuense).

O próprio Engdahl apontou que “retrocedendo a julho de 2005, enquanto Tony Blair apertava ainda mais as sanções contra o Zimbábue, Mugabe voou a Pequim para reunir-se com altos dirigentes chineses”, onde obteve um empréstimo de emergência de US$ 1 bilhão de dólares. “Em junho de 2006, empresas estatais do Zimbábue firmaram com empresas chinesas uma série de acordos nos campos de energia, mineração e agricultura, no valor de bilhões de dólares”. Também foi formada uma empresa mista no setor de mineração do cromo. A mineração, acrescentou, “já gera metade das receitas de exportação do Zimbábue”, sendo que “as companhias ocidentais com concessões de lavras não as estão explorando”.

ANTONIO PIMENTA

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