Líderes africanos x Mugabe
Mario de Freitas
22-03-2007
Diferentes líderes africanos se manifestaram, nesta semana, contra a política do governo do Zimbábue. Na visita que fez nesta terça-feira à Namíbia, o presidente da Zâmbia, Levy Mwanawasa, disse que vê o Zimbábue como um Titanic afundando por causa da atual crise em que o país vive com a repressão empreendida pelo governo de Robert Mugabe, no poder do país desde 1980.
O chefe de Estado da Zâmbia disse que o vizinho Zimbábue "se afundou em dificuldades econômicas" e que, quem pode, pula fora, como fizeram os passageiros do Titanic, numa tentativa de salvar suas vidas.
Os críticos ao regime de Mugabe, de 83 anos, acusam o presidente de repressão e corrupção, além de o incriminarem pela falta de comida e pela alta inflação do país, considerada a maior do mundo. O principal líder da oposição, Morgan Tsvangirai, foi internado com traumatismo craniano depois de ser preso pela polícia na semana passada, quando se preparava para um ato pacífico de protesto contra o governo zimbabuano.
União Africana
O chefe de Estado de Gana e presidente rotativo da União Africana, John Kufuor, disse, em Londres, que o continente estava "envergonhado com as ações de Mugabe e pediu para que o Zimbábue respeite os direitos humanos". Antes, as críticas vinham somente de líderes europeus, principalmente do premier britânico Tony Blair.
Desde que a violência aumentou, com a prisão e repressão de opositores ao regime, diferentes líderes africanos começaram a criticar abertamente o antigo líder anticolonialista Robert Mugabe. Esta foi a primeira vez que a União de Estados Africanos faz uma crítica pública contra o presidente do Zimbábue. No final deste mês, o país é ponto na agenda da SADC, Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral.
O governo da Zâmbia disse claramente que essa organização deve tratar da crise que envolve o país vizinho, o Zimbábue. Mesmo o bispo Desmond Tutu, herói da independência na África do sul e Prêmio Nobel da Paz, disse que os zimbabuanos foram abandonados pelos líderes africanos, pois ficaram adulando Robert Mugabe.
Pressão indireta
De acordo com o diretor do Centro Sul-africano de Estudos Políticos, Chris Landsberg, uma virada política no momento é impensável. "Há um grave problema, todos sabem disso, mas não se tem idéia de como resolver a questão.
Por enquanto, os líderes africanos vão tentar exercer pressão por baixo do pano. Atacar abertamente aos políticos de outros países não faz parte da tradição entre os dirigentes africanos. Ademais, segundo Landsberg, muitos políticos têm dúvidas.
A tática de Mugabe (foto), ao afirmar que o Ocidente quer dividir os africanos, funciona. O fato dele ter iniciado sua carreira política apoiando a luta contra o regime branco de apartheid na África do Sul também tem um peso bastante forte nas considerações acerca do seu regime.
O presidente Mbeki teme ainda que milhões de zimbabuanos se refugiem na África do Sul, caso ele se manifeste contra o regime de Robert Mugabe. De acordo com Chris Landsberg, a África está cansada das promessas quebradas por Mugabe.
Segundo este analista, todas a vezes que o presidente do Zimbábue prometeu realizar eleições livres, faltou com a palavra. Resumindo: "A diplomacia não funcionou na hora de ajudar a solucionar os problemas e o Zimbábue vive o caos", conforme afirmou o presidente da Zâmbia, Levy Mwanawasa.
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