Estudantes franceses vão às ruas e entram em choque com a polícia para protestar contra lei do governo que flexibiliza o trabalho dos jovens
Por Fernando F. Kadaoka
A França está em convulsão. Conflitos entre a polícia e estudantes universitários, passeatas de sindicatos de trabalhadores e muitas bombas de gás lacrimogêneo tomaram conta das ruas nos últimos dias. O ápice da crise pode se dar nesta terça-feira 28 se for concretizada a ameaça das organizações estudantis e das centrais sindicais – juntas, elas prometem paralisar o país com uma gigantesca greve geral. O mundo já assistiu a semelhante filme em maio de 1968, quando das barricadas de Paris se irradiou a utopia socialista sob o lema “exigir o impossível”. Na crise atual, porém, esqueça-se a utopia. A revolta é essencialmente conservadora e pleiteia apenas a manutenção de direitos sociais já adquiridos. Os estudantes franceses brigam contra o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), lei recém-aprovada pelo governo do primeiro-ministro Dominique de Villepin. Ela determina que as empresas que contratarem jovens com menos de 26 anos poderão demiti-los sem aviso prévio ou pagamento de indenizações dentro de um prazo de até dois anos – para os trabalhadores em geral esse período de teste no emprego se limita a três meses. A lei faz parte do processo de desmonte do pesado estado de bem-estar social francês. O problema é que não apenas os estudantes, mas também a maioria dos franceses não deseja nenhuma mudança nesse status quo. No caso do CPE, cerca de 70% dos franceses são contrários a sua vigência.
Os estudantes fazem muito barulho como sempre. Na semana passada, mais da metade das 84 universidades do país parou. Cerca de 1,5 milhão de pessoas participaram dos atos de protesto – entre elas havia estudantes, professores, trabalhadores, aposentados, opositores do governo, neonazistas e baderneiros. O déjà vu de maio de 1968 ficou por conta somente da invasão da Sorbonne, a mais tradicional universidade francesa: com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, a polícia retirou de seu campus cerca de 200 universitários. “Nossa revolta não é para conseguir mais, é para não perder o que temos”, diz o estudante Nadjet Boubakeur. Um dos grandes líderes do movimento é o universitário Bruno Julliard. Ele ameaça: “Se até a noite de sábado (dia 25) o governo não tiver anulado essa lei, continuaremos com os protestos.” O primeiro-ministro, De Villepin, continua intransigente e admite apenas pequenas mudanças no texto da lei, mas não a sua extinção.
O CPE surgiu no esteio dos conflitos nos subúrbios franceses, quando o descontentamento dos jovens descendentes de imigrantes eclodiu numa enorme onda de violência e queima de automóveis. Enquanto a taxa de desemprego no país é de 9,6%, entre os menores de 26 anos ela alcança 23%. Em subúrbios das grandes cidades, o desemprego entre os jovens bate os 40%. “Para a esquerda, essa lei é o fim dos direitos trabalhistas. Para a direita, uma solução pragmática para o desemprego. Para mim, é o fim do sonho dos estudantes de classe média que esperavam ter as mesmas condições de trabalho dos pais”, disse a ISTOÉ Kalypso Nicolaidis, professora da Oxford University. O governo francês diz que a rigorosa legislação trabalhista desestimula a contratação de jovens, uma vez que as empresas têm de arcar com altos custos para funcionários ainda inexperientes. Faz sentido. Ocorre, porém, que benefícios sociais são um vespeiro difícil de mexer. Basta lembrar que até mesmo a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a “dama de ferro”, suou o tailleur para esmagar os sindicatos e implementar mudanças na área trabalhista.
Entenda o conflito
Quem são eles?
Estudantes universitários franceses, filhos da classe média, liderados por organizações estudantis como a União Nacional dos Estudantes da França (Unef)
O que querem?
Para iniciar o diálogo, os estudantes exigem a revogação do Contrato do Primeiro Emprego (CPE) – uma lei proposta pelo governo que dá aos empregadores o direito de demitir jovens com menos de 26 anos no prazo de dois anos sem indenização ou aviso prévio. Para os outros trabalhadores, esse prazo é de no máximo três meses
Quantos são?
Metade das 84 universidades públicas francesas parou total ou parcialmente. No protesto de sábado 18, 1,5 milhão de pessoas foram às ruas em mais de 150 passeatas por todo o país
Quem os apóia?
As principais centrais sindicais de esquerda, que controlam grande parte dos serviços públicos – entre eles os transportes coletivos –, como a CGT e a CFTC. Professores e aposentados também apóiam os estudantes
O que pode acontecer?
O primeiro-ministro De Villepin mostra-se irredutível em revogar a lei; aceita apenas fazer pequenas alterações que não modifiquem a estrutura. Os estudantes e os sindicatos prometem greve geral para o dia 28
Por Fernando F. Kadaoka
A França está em convulsão. Conflitos entre a polícia e estudantes universitários, passeatas de sindicatos de trabalhadores e muitas bombas de gás lacrimogêneo tomaram conta das ruas nos últimos dias. O ápice da crise pode se dar nesta terça-feira 28 se for concretizada a ameaça das organizações estudantis e das centrais sindicais – juntas, elas prometem paralisar o país com uma gigantesca greve geral. O mundo já assistiu a semelhante filme em maio de 1968, quando das barricadas de Paris se irradiou a utopia socialista sob o lema “exigir o impossível”. Na crise atual, porém, esqueça-se a utopia. A revolta é essencialmente conservadora e pleiteia apenas a manutenção de direitos sociais já adquiridos. Os estudantes franceses brigam contra o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), lei recém-aprovada pelo governo do primeiro-ministro Dominique de Villepin. Ela determina que as empresas que contratarem jovens com menos de 26 anos poderão demiti-los sem aviso prévio ou pagamento de indenizações dentro de um prazo de até dois anos – para os trabalhadores em geral esse período de teste no emprego se limita a três meses. A lei faz parte do processo de desmonte do pesado estado de bem-estar social francês. O problema é que não apenas os estudantes, mas também a maioria dos franceses não deseja nenhuma mudança nesse status quo. No caso do CPE, cerca de 70% dos franceses são contrários a sua vigência.
Os estudantes fazem muito barulho como sempre. Na semana passada, mais da metade das 84 universidades do país parou. Cerca de 1,5 milhão de pessoas participaram dos atos de protesto – entre elas havia estudantes, professores, trabalhadores, aposentados, opositores do governo, neonazistas e baderneiros. O déjà vu de maio de 1968 ficou por conta somente da invasão da Sorbonne, a mais tradicional universidade francesa: com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, a polícia retirou de seu campus cerca de 200 universitários. “Nossa revolta não é para conseguir mais, é para não perder o que temos”, diz o estudante Nadjet Boubakeur. Um dos grandes líderes do movimento é o universitário Bruno Julliard. Ele ameaça: “Se até a noite de sábado (dia 25) o governo não tiver anulado essa lei, continuaremos com os protestos.” O primeiro-ministro, De Villepin, continua intransigente e admite apenas pequenas mudanças no texto da lei, mas não a sua extinção.
O CPE surgiu no esteio dos conflitos nos subúrbios franceses, quando o descontentamento dos jovens descendentes de imigrantes eclodiu numa enorme onda de violência e queima de automóveis. Enquanto a taxa de desemprego no país é de 9,6%, entre os menores de 26 anos ela alcança 23%. Em subúrbios das grandes cidades, o desemprego entre os jovens bate os 40%. “Para a esquerda, essa lei é o fim dos direitos trabalhistas. Para a direita, uma solução pragmática para o desemprego. Para mim, é o fim do sonho dos estudantes de classe média que esperavam ter as mesmas condições de trabalho dos pais”, disse a ISTOÉ Kalypso Nicolaidis, professora da Oxford University. O governo francês diz que a rigorosa legislação trabalhista desestimula a contratação de jovens, uma vez que as empresas têm de arcar com altos custos para funcionários ainda inexperientes. Faz sentido. Ocorre, porém, que benefícios sociais são um vespeiro difícil de mexer. Basta lembrar que até mesmo a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a “dama de ferro”, suou o tailleur para esmagar os sindicatos e implementar mudanças na área trabalhista.
Entenda o conflito
Quem são eles?
Estudantes universitários franceses, filhos da classe média, liderados por organizações estudantis como a União Nacional dos Estudantes da França (Unef)
O que querem?
Para iniciar o diálogo, os estudantes exigem a revogação do Contrato do Primeiro Emprego (CPE) – uma lei proposta pelo governo que dá aos empregadores o direito de demitir jovens com menos de 26 anos no prazo de dois anos sem indenização ou aviso prévio. Para os outros trabalhadores, esse prazo é de no máximo três meses
Quantos são?
Metade das 84 universidades públicas francesas parou total ou parcialmente. No protesto de sábado 18, 1,5 milhão de pessoas foram às ruas em mais de 150 passeatas por todo o país
Quem os apóia?
As principais centrais sindicais de esquerda, que controlam grande parte dos serviços públicos – entre eles os transportes coletivos –, como a CGT e a CFTC. Professores e aposentados também apóiam os estudantes
O que pode acontecer?
O primeiro-ministro De Villepin mostra-se irredutível em revogar a lei; aceita apenas fazer pequenas alterações que não modifiquem a estrutura. Os estudantes e os sindicatos prometem greve geral para o dia 28
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