quinta-feira, março 23, 2006

EUA - Ocaso de um império

Luiz Alberto Moniz Bandeira

Os Estados Unidos estão a precipitar-se em uma crise tanto econômica quanto política e moral, que só tende a agravar-se no curso dos próximos anos. Muitos políticos americanos, inclusive do Partido Republicano, já admitem publicamente que é impossível vencer a guerra no Afeganistão e no Iraque. Cresce o clamor pela retirada das tropas do Iraque. Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de Jimmy Carter (1977-1981), declarou que Washington deve “morder a bala” (bite the bullet), ou seja, enfrentar o problema e retirar “rapidamente”, no mais tardar até o fim de 2006, as tropas do Iraque (já morreram mais de 2.100 e mais de 15 mil ficaram feridos).

Com suas tropas atoladas no Iraque, George W. Bush e os neoconservadores não poderão levar adiante o Projeto para o Novo Século Americano, atacando a Síria e o Irã e outros países no Oriente Médio, a pretexto de implantar a democracia. O poderio militar dos americanos, como no Vietnã, mostra-se mais uma vez inútil, pois, se tudo pode destruir, não tem condições de estabelecer a paz. Os custos financeiros da guerra no Afeganistão e no Iraque igualmente se tornam cada vez mais elevados. A arrecadação dos EUA foi da ordem de US$ 1,8 trilhão, em 2004, mas suas despesas ultrapassaram o valor de US$ 2,3 trilhões. E a perspectiva é a de que o déficit fiscal e o déficit comercial continuem a crescer, o que deixa a economia americana cada vez mais vulnerável. E daí o enfraquecimento do dólar.

Dárcio de Jesus

De acordo com os dados do Departamento do Tesouro, em 30 junho de 2003, a dívida externa dos EUA em mãos de governos estrangeiros, bancos centrais, bancos privados e outros investidores já era de US$ 6,357 trilhões, o equivalente a 58,8% do PIB, e saltou para US$ 6,946 trilhões, em 31 de dezembro do mesmo ano, e em setembro de 2004 atingiu o montante de US$ 7,869 trilhões. O volume de dólares, em mãos dos bancos estrangeiros e/ou circulando no mercado mundial, é da ordem de US$ 44,2 trilhões, mais de quatro vezes maior do que o PIB americano, da ordem de US$ 11,7 trilhões, e maior do que o total da riqueza familiar, no montante de US$ 39 trilhões, segundo o método de paridade do poder de compra. Se todos esses valores retornassem aos EUA, o resultado seria uma enorme inflação, de conseqüências imprevisíveis para a economia mundial.

O que mais ameaça os EUA, portanto, não é o terrorismo, mas a crise fiscal e suas imensas dificuldades econômicas e financeiras, que, entre outros fatores, tornam cada vez mais difícil a sustentação do império por mais de poucas décadas. São uma superpotência altamente vulnerável, dependente de outros países tanto para o seu abastecimento energético, como petróleo, quanto do influxo de capitais para o financiamento de seus déficits e de sua dívida externa. E possivelmente até o ano 2020, conforme as previsões, serão ultrapassados pela China. Tudo indica que, com ou sem George W. Bush, o declínio americano será tão vertiginoso e violento quanto sua ascensão ao status de potência hegemônica.


Luiz Alberto Vianna Moniz Bandeira é doutor em Ciência Política, autor de vários livros sobre as relações EUA-Brasil. Seu último livro é Formação do Império Americano - da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque (Civilização Brasileira)

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