Quanto custa evitar isto?
Até o fim do século, o aquecimento global poderá causar a inundação de cidades inteiras. E – por incrível que pareça – só as empresas podem deter a catástrofe
Nelito Fernandes e Elisa Martins
» Como acontece o efeito estufa » Trailer do vídeo de Al Gore sobre o efeito estufa |
A simulação fotográfica mostrada nesta matéria é um exemplo concreto da ameaça que o aquecimento global representa para o planeta. A lenta elevação do nível dos mares, prevista pelos cientistas, poderá tomar conta das cidades litorâneas nas próximas décadas. De acordo com a simulação, elaborada com base em dados fornecidos pelo Instituto Pereira Passos, da Prefeitura do Rio de Janeiro, e nas estimativas de elevação do nível do mar do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), bairros inteiros do Rio, como Leblon, Copacabana e Ipanema, ficariam debaixo d'água na virada do próximo século. O nível do mar já começou a subir. Isso ocorre porque os gases poluentes emitidos nas últimas décadas aprisionam o calor do sol e aquecem a Terra. Com o aumento da temperatura, o volume da água aumenta e cresce ainda mais por causa do derretimento de geleiras na Antártida e na Groenlândia. De acordo com os cientistas, o fenômeno parece irreversível. Os gases já emitidos continuarão na atmosfera por pelo menos 20 anos esquentando o planeta. Mas o pior ainda pode ser evitado. Por ironia, a maior força capaz de deter o aquecimento global não vem da pressão política dos movimentos ecológicos incensados pelos europeus. Vem da economia. 'É difícil medir exatamente como o aquecimento global vai afetar a economia mundial', diz Timothy Herzog, do World Resources Institute, de Washington, uma das principais organizações de estudos ambientais do mundo. 'Mas há um consenso de que os custos serão significativos.' Isso tornou as empresas, antes apontadas como vilãs responsáveis pela emissão de gases poluentes, a maior esperança dos ambientalistas. Diante de imagens como a desta página, elas começam a despertar para o problema e buscar soluções. E não porque sejam apenas boas cidadãs preocupadas com o planeta, mas sobretudo porque descobriram que é um ótimo negócio. Um levantamento feito pelo Climate Group, organização internacional que monitora investimentos e dá consultoria na área ambiental, mostra que as dez empresas que mais avançaram em prevenção da emissão de gases conseguiram uma economia de custos de US$ 45 bilhões em uma década. O movimento dos empresários verdes começou em 1991, quando o industrial suíço Stephan Schmidheiny, dono de empresas como o Swatch Group, criou o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. O instituto começou a pesquisar como fazer negócios que comprometam menos os recursos naturais. Hoje, reúne 175 multinacionais e atraiu a atenção de lideranças, como o ex-vice-presidente americano Al Gore, uma das maiores estrelas do movimento do capitalismo verde. 'Infelizmente, nos Estados Unidos nós vivemos numa bolha fora da realidade. Ninguém se interessa por soluções quando nem sequer se admite que exista um problema. Mas os problemas existem, sim, e por oito anos nos preocupamos somente com o somos-vulneráveis-a-ataques-terroristas', diz Gore. Desde 2000, ele tem feito uma peregrinação a empresas, laptop debaixo do braço, alertando sobre o risco do aquecimento e propondo que todos entrem numa guerra mais importante que a travada contra o terrorismo, a Green War (ou Guerra Verde). 'Muitos cientistas teorizavam sobre o fim do mundo e as previsões mais freqüentes eram sobre meteoros. A ameaça não são os asteróides. Somos nós', afirmou Gore em artigo publicado recentemente na revista Vanity Fair. Sua mensagem ganhará mais força no dia 24 de maio, quando seu documentário sobre o aquecimento global, An Inconvenient Truth (Uma Verdade Inconveniente), estreará nos cinemas americanos.
A entrada em cena do setor privado é fundamental para ajudar a mudar o rumo do desastre anunciado. O ano de 2005 foi o mais quente dos últimos cem anos. O derretimento de glaciares e placas de gelo nunca foi tão acelerado. Já houve redução de 40% da espessura da camada de gelo no Ártico. Se a economia continuar no mesmo rumo, os cientistas do IPCC acreditam que a temperatura da Terra possa subir de 4 a 6 graus Celsius até o fim do século. Parece pouco no termômetro, mas as empresas sabem que as alterações climáticas podem literalmente varrer seus negócios do mapa. O aumento da temperatura está associado a fenômenos climáticos de grande poder de destruição. ä Por isso, grandes empresas estão voluntariamente se antecipando às metas de emissão de gases estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto, acordo celebrado em 1997 e assinado por 163 países que determina que as emissões de gases sejam reduzidas em 29% entre 2008 e 2012. A DuPont, uma das maiores indústrias químicas do mundo, conseguiu diminuir sua cota em 72%. O efeito colateral foi redução nos custos operacionais. 'Desde 1991, conseguimos poupar US$ 2 bilhões, US$ 1,5 bilhão só nos EUA', diz Ed Mongan, diretor de energia da DuPont. A estratégia da Dupont foi somar os custos de energia em cada etapa da produção. Como a maior parte da energia usada pela empresa vem da queima de carvão, essa redução implica menor emissão de poluentes. Mensalmente, um grupo mede o consumo de energia por quilo de produto fabricado e propõe ações para diminuir os excessos. Apesar do aumento de 35% na produção, o consumo tem-se mantido estável desde 1990. 'A meta é chegar a 2010 com o mesmo uso de energia de hoje', afirma Mongan. A americana Alcoa, uma das maiores produtoras de alumínio do mundo, já cortou US$ 100 milhões anuais em custos graças ao programa de economia de energia. Casos como o da DuPont e o da Alcoa desmentem a tese de que o corte nas emissões de poluentes reduz o desempenho econômico das companhias, como afirma o governo americano. Além de economizar, as empresas passaram a explorar novas oportunidades de mercado geradas pela demanda por tecnologias limpas de consumo energético. A DuPont desenvolveu o Tyvek, isolante térmico que, aplicado no telhado das casas, permite uma economia de 10% em gastos com energia no aquecimento ou na refrigeração. |
AINDA NESTA MATÉRIA
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário