sexta-feira, junho 08, 2007

Putin: “Plano antimíssil dos EUA é pretexto para ameaçar a Rússia”


Em entrevista publicada na revista Der Spiegel, o presidente russo destacou que sistema antimíssil dos EUA é para “defesa contra algo que não existe” e que, de fato, se trata de ameaça nuclear que agride a segurança russa e mundial
Vladimir Putin, em entrevista publicada na revista alemã Der Spiegel esclareceu que o sistema que os EUA estão implantando em torno da Rússia, “é claro que não é em si simplesmente um sistema de defesa contra mísseis. Quando estiver criado e instalado, funcionará no modo automático, conjugado a todo o potencial nuclear dos Estados Unidos. Haverá na Europa elementos do potencial nuclear dos Estados Unidos, o que modifica completamente toda a configuração da segurança internacional”.
Putin contestou os pretextos usados por Bush para instalar o sistema conectado a seus armamentos em países que circundam a Federação Russa: “Eles dizem que o sistema é necessário para a proteção contra os mísseis iranianos. Mas não existem tais mísseis. O Irã não possui mísseis com um alcance de 5.000 a 8.000 quilômetros. Estão nos dizendo que o sistema de defesa antimíssil está sendo instalado para a proteção contra algo que não existe. Assim sendo, acredito que não há motivos nem fundamentos para se montar um sistema antimísseis na Europa Oriental e é claro que teremos que responder a isso”.
Ele alertou ainda: “Não excluímos a possibilidade de os nossos parceiros norte-americanos reavaliarem a sua decisão. Creio que todo mundo possui bom senso. Mas caso isso não aconteça, ninguém poderá nos responsabilizar pelas nossas medidas recíprocas. Isso porque não fomos nós que iniciamos a corrida armamentista que está pendendo sobre a Europa”.
“Tampouco permitiremos que nos culpem caso neste momento aprimorarmos o nosso sistema de armas nucleares estratégicas. Esse sistema de defesa antimíssil cria a ilusão de que se está protegido, mas na verdade ele aumenta a possibilidade de que ocorra um conflito nuclear”.
“Não queremos uma confrontação, queremos cooperação”, enfatizou, “se estamos expressando a nossa oposição de maneira aberta e justa, isso não significa que estejamos procurando uma confrontação. A maior complexidade atual é o fato de alguns dos que participam do diálogo internacional acreditarem que as suas idéias são a verdade absoluta. Isso não facilita a criação de um clima de confiança”.

EUROPA

Putin destacou a trajetória de seu país em favor do desarmamento da Europa: “O que fizemos não foi apenas afirmar que estávamos preparados para acatar esse tratado - nós na realidade o implementa-mos. Transferimos todos os nossos armamentos pesados para além dos Montes Urais, reduzimos o nosso efetivo militar em 300 mil soldados e tomamos outras medidas”.
“Mas o que recebemos em troca? Estamos vendo a Europa Oriental ser abarrotada de novos equipamentos, com novas forças armadas, na Romênia e na Bulgária, assim como a instalação de radares na República Tcheca e sistemas de mísseis na Polônia”.
“O fato”, ressaltou, “é que existe o desarmamento unilateral da Rússia. E esperaríamos que houvesse disposição dos nossos parceiros na Europa para fazer o mesmo, mas em vez disso há uma injeção de novos sistemas bélicos na Europa Oriental”.
Na entrevista, Putin relembrou a posição russa contra a agressão ao Iraque puxada pelos EUA. “Algumas crises com as quais a comunidade internacional teve que se deparar não teriam sido possíveis em tal caso, e elas não teriam sido prejudiciais à situação política interna de alguns países. Até mesmo os acontecimentos no Iraque não teriam dado motivo para tamanha dor de cabeça para os Estados Unidos. Vocês se lembram que nós nos opusemos às ações militares no Iraque”.
O presidente russo também respondeu ao repórter da Der Spiegel sobre as medidas que foram tomadas com relação à petroleira Shell. “Você leu o contrato da Shell? Era um acordo colonial que não tinha nada a ver com os interesses da Federação Russa. Só posso lamentar que no início da década de 1990, autoridades russas tenham feito algo desse tipo, algo pelo qual essas pessoas deveriam ter sido mandadas para a prisão. A implementação desse acordo resultou na permissão para que outros países explorassem as nossas reservas naturais por um período prolongado sem que obtivéssemos nada como retorno”.
Além disso, esclareceu, “foi culpa deles ter violado a nossa legislação ambiental. Esse foi um fato confirmado por dados objetivos, e os nossos parceiros sequer negam isso”.
Sobre as tentativas de afastar o incômodo das posições russas através do seu afastamento do G8 ele destacou que, ao contrário, o fórum deve ser ampliado “isso é outra coisa sem sentido. A nossa importância econômica está crescendo e continuará crescendo. Temos as terceiras maiores reservas do mundo de moeda estrangeira e ouro. No ano passado nos tornamos o primeiro produtor de petróleo do mundo e há muito tempo somos o maior produtor de gás natural. Somos uma potência nuclear e um membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas”.
“Não dá para resolver os problemas da humanidade convertendo o G8 em um clube exclusivo. Ao contrário, houve uma certa reflexão no sentido de expandir o G8 para que o grupo incluísse, por exemplo, China, Índia, Brasil, México e África do Sul”.

DEMOCRACIA

Sobre os esforços do governo atual da Rússia em favor da democratização do país ele ressaltou: “Claro que sou um democrata absolutamente verdadeiro”. Já “os norte-americanos torturam em Guantánamo, e na Europa a polícia utiliza gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Às vezes até manifestantes são mortos nas ruas. Por falar nisso, instituímos uma moratória da pena de morte, que é muitas vezes adotada em certos países do G8”.
“Não sejamos hipócritas no que diz respeito às liberdades e aos direitos humanos. Eu acabei de ler o último relatório da Anistia Internacional, no qual os Estados Unidos, a França, a Inglaterra e a Alemanha são também criticados. Mas não nos esqueçamos de que outros membros do G8 não passaram por transformações tão drásticas quanto as experimentadas pela Rússia”.
“Os historiadores serão os juízes daquilo que meu povo e eu realizamos em oito anos”, disse ainda em suas declarações aos jornalistas, “restabelecemos a integridade territorial da Rússia, fortalecemos o Estado, nos movemos na direção de um sistema multipartidário e recuperamos o potencial das nossas forças armadas”.
“A nossa economia cresceu 7,7% no primeiro trimestre deste ano. Quando me tornei presidente, 30% dos russos viviam abaixo da linha de pobreza. Atualmente esse número caiu para 15%. Quitamos a nossa dívida externa, que era muito elevada. Durante um longo tempo tivemos fugas de capital da ordem de US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões ao ano. No ano passado, pela primeira vez, houve maior entrada do que saída de capital na Rússia - um total de US$ 41 bilhões”.
“Isso nos permite enfrentar problemas sociais existentes e reduzir a desigualdade econômica entre os muito ricos e os muito pobres”.
Questionado sobre a possibilidade de extraditar para a Inglaterra Andrei Lugovoy, suspeito pela morte de Litvinenko, Putin disse que isso demandaria mudanças na Constituição que proíbe extradição de cidadãos russos e “para isso seriam necessários embasamentos muito importantes” e “tal justificativa não foi apresentada pelo lado britânico”. Ele concluiu que “as autoridades britânicas permitiram que muitos ladrões e terroristas vivessem no Reino Unido, e é precisamente este o real perigo para os cidadãos ingleses”.
Hora do Povo

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