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domingo, agosto 30, 2009

EUA: com os pés na Colômbia e os olhos no Brasil

 

Os EUA querem manter um papel protagonista no mundo e, para tanto, tentam expulsar a China da África e impedir uma aliança entre Rússia e Europa Ocidental. Essas duas grandes estratégias estão fracassando, daí a necessidade de garantir que a América Latina seja sua zona de influência exclusiva. A presença militar na Colômbia é um passo nesta direção, mas o verdadeiro alvo de Washington na região é o Brasil, país com maior poder relativo da região. A análise é dos cientistas políticos argentinos Marcelo Gullo e Carlos Alberto Pereyra Mele.

Agencia Periodística del Mercosur

Nos centros de planejamento do traçado estratégico dos Estados Unidos sabe-se que passou o tempo da potência única e global. Para enfrentar a União Européia, China e Rússia, Washington quer assegurar o controle da América Latina. Para isso precisa “acabar” com o Brasil. As possibilidades de resistência na região, o papel da Unasul e outras iniciativas de integração – esses pontos foram de uma entrevista exclusiva à Agencia Periodística del Mercosul, concedida pelos cientistas políticos especialistas e geopolítica, Marcelo Gullo (autor dos livros “Argentina-Brasil: a grande oportunidade” e “A insubordinação fundadora. Breve história da construção do poder das nações”) e Carlos Alberto Pereyra Mele, do Centro de Estudos Estratégicos Sulamericanos.
Para Gullo, o interesse geopolítico dos Estados Unidos consiste em atrasar o processo de passagem da condição de potência global para a de uma potência regional. A crise que atingiu o país, acrescenta, não é conjuntural, mas sim estrutural, porque, pela primeira vez desde 1970, ocorreu uma dissociação entre os interesses da alta burguesia norte-americana e os do Estado. A partir da década de 80, as indústrias estadunidenses, buscando pagar salários mais baixos, foram para a Ásia para produzir para o mercado interno norte-americano, alimentando assim um processo de desindustrialização dentro do próprio território. “Isso gerou um enorme processo de desemprego. Esse seria o eixo conceitual da crise financeira global, deixando os EUA desindustrializado, sem empregos suficientes e com 40 milhões de pobres”, diz Gullo.
E acrescenta: “Os EUA querem manter um papel protagonista e, para tanto, tentam expulsar a China da África e impedir a aliança entre Rússia e Europa Ocidental. Essas duas grandes estratégias estão fracassando, daí a necessidade de colocar um pé na Colômbia, um passo para que a América Latina seja sua zona de influência exclusiva”.
Os EUA, lembra, só produzem 15% da energia que consome e a América Latina provê 25% de suas necessidades em matéria de recursos. Pereyra Mele assinala que “a Colômbia é um país bioceânico, é vizinho do país (Venezuela) que vende 15% do petróleo consumido pelos EUA e também do Equador, outro país petroleiro. Desde as bases navais de Málaga e Cartagena de Índias, Washington tem rápido acesso ao maior ponto de comunicação comercial do mundo, o canal do Panamá”. Na mesma direção, Gullo observa que a importância geopolítica da Colômbia para os EUA se expressa tanto no plano tático como no estratégico.
Do ponto de vista tático, ele assinala: “o complexo militar necessita criar focos bélicos para justificar a produção e renovação de material bélico. Sem tal esquema, esse aparato não tem como justificar sua existência”. E do ponto de vista estratégico, “o objetivo é conseguir a capitulação do poder nacional brasileiro; para isso, procura traçar um cerco em volta do Brasil, começando na Colômbia e com a idéia de continuar pela Bolívia e pelo Paraguai”.
Nesse marco, a América Latina é obrigar a reforçar seus acordos regionais, como Unasul, Comunidade Andina de Nações e Mercosul, para evitar fraturas e controlar as turbulências domésticas (como o golpe de Estado em Honduras), que possibilitem a expansão das forças armadas dos EUA na região. Para Pereyra Mele, “a solução ao problema colocado pela ofensiva estadunidense sobre a América do Sul passa pela defesa irrestrita das áreas por onde fluem e se conectam os três sistemas hidrográficos mais importantes: o Orinoco, a Amazônia e o Prata”.
“Para isso devem ser desenvolvidas políticas internacionais coerentes, levando em conta as limitações colocadas pela potência hegemônica. É muito importante aprofundar o Mercosul, aumentar a presença da Unasul e dos organismos de defesa regionais. É necessária a criação de um complexo industrial militar argentino-brasileiro para melhorar nossa capacidade de defesa, sem dependência externa, incorporando outros países”, conclui Pereyra Mele.
Para Marcelo Gullo, a América a conforma uma comunidade cultural única. “Lamentavelmente, do ponto de vista político, a região está dividida em duas. De um lado México, América Central e o Caribe, zona de influência exclusiva dos EUA, e de outro a América do Sul”.
A respeito dessa última reflexão, talvez pudesse se acrescentar que o ódio sistemático dos poderes estadunidenses à Revolução Cubana pode ser explicado pelo fato de esta ter sido a única experiência concreta de freio à hegemonia de Washington sobre as regiões Norte, Central e Caribenha da América Latina. Diante disso, conclui Gullo, “a responsabilidade principal é do Brasil, por ser o país com maior poder relativo da região. O problema é que a classe dirigente brasileira não compreende adequadamente que, para resistir à agressão dos EUA, precisa de sócios fortes e não fracos. Devem compreender que o importante não é sua industrialização isolada, mas sim a industrialização de toda a América do Sul”.
As mudanças de política militares que Barack Obama prometeu em sua campanha presidencial até agora não apareceram. A menos que alguém queira que o caráter identitário passa exclusivamente pela pigmentação da pele, nem que sequer podemos dizer que um afroamericano chegou à presidência. Para além do discurso, Obama solicitou ao Congresso dos EUA a aprovação de 83,4 bilhões de dólares em fundos extras para financiar as aventuras bélicas no Iraque e no Afeganistão, avança com a instalação de novas bases militares na Colômbia e manteve uma posição mais do que ambígua em relação ao golpe de Estado em Honduras.
O orçamento do Pentágono é 50 vezes superior ao total de gastos militares do conjunto de países do sistema internacional. Além disso, realiza os maiores investimentos, em nível mundial, em pesquisas militares e espaciais. Essa disponibilidade de recursos permite aos EUA agir de forma simultânea com ingerências bélicas em diferentes áreas do planeta.
Tradução: Katarina Peixoto

sábado, março 14, 2009

Encontro do Conselho de Defesa da Unasul


Conselho condiciona presença dos EUA ao fim
do bloqueio a Cuba

Os ministros de Defesa dos 12 países da União de Nações Sul-americanas, Unasul, puseram oficialmente em funcionamento o Conselho de Defesa do organismo regional, para promover a cooperação entre as distintas forças armadas, gerar operações de paz conjuntas e dar transparência aos gastos militares.

Em declaração anexa acordaram impulsionar uma luta coordenada contra o narcotráfico. Observadores assinalaram que, desta forma, se coloca uma barreira à política intervencionista dos EUA, que usam o pretexto de combate ao narcotráfico para manter tropas e bases em alguns países e realizar ações de espionagem.

Os ministros da Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela foram recebidos no palácio de La Moneda pela presidente Michelle Bachelet, cujo país exerce a presidência pro-tempore da Unasul.

Ao inaugurar o primeiro Conselho, o ministro chileno de Defesa, José Goñi, precisou que se trata de “um mecanismo para gerar nossas opiniões, nossas visões e nosso próprio plano de ação em assuntos de defesa”. Esclareceu, ainda, que o CDS não quer nenhuma semelhança com a OTAN, mas tem como objetivo “dar vida a uma aliança que fortaleça a confiança mútua mediante a integração, o diálogo e a cooperação em matéria de defesa. É uma zona de paz, base para a estabilidade democrática e o desenvolvimento integral dos povos”.

Em sua primeira declaração, o Conselho de Defesa Sul-americano condicionou a possibilidade de que os Estados Unidos ingressem como observadores a esta instância a que Washington mude sua relação com Cuba.

A posição, aprovada pelos 12 ministros participantes, foi apresentada pelo ministro de Defesa do Brasil, Nelson Jobim, que afirmou que “a mudança das relações dos EUA com Cuba é uma condição para uma nova apresentação desse país na região”, assegurando que assim o expressou ao chefe do Estado Maior Conjunto norte-americano, Mike Mullen, que visitou o Brasil, Chile e Colômbia, na semana passada.
A ministra argentina, Nilda Garré, coincidiu em que “Cuba é um tema pendente para a região” e acrescentou que a nova administração americana “tem uma oportunidade para acabar com essa situação injusta e discriminatória”.

Walter San Miguel, ministro boliviano de Defesa, perguntado sobre o bloqueio norte-americano, assinalou que se trata de medidas contra o povo cubano e sublinhou que “nós não concordamos com medidas hegemônicas”.

Os 12 ministros da área reiteraram que os EUA não poderão mudar “sua carta de apresentação” ante a região, enquanto mantenham o bloqueio econômico a Cuba.

quarta-feira, março 11, 2009

Evo expulsa golpista da embaixada dos EUA

 

O presidente da Bolívia, Evo Morales, ordenou, na segunda-feira, dia 9, a expulsão do país do mexicano-estadunidense Francisco Martínez, funcionário da Embaixada dos Estados Unidos em La Paz. O presidente denunciou Martínez por suas ações em conjunto com a oposição separatista num plano golpista contra seu governo entre agosto e setembro passados.

“Francisco Martínez era o contato com o grupo de opositores durante todo o processo de conspiração”, argumentou Morales durante o ato de posse do novo comandante da Polícia boliviana, general Víctor Hugo Escobar, acrescentando que “tentaram de tudo para impedir a nova Constituição, buscaram insuflar a população contra o governo, e dividir o país. São setores fascistas e não vamos permitir que agentes estrangeiros atuem no nosso país”.

Depois de explicar os contatos de Martínez com os governadores de oposição, “hoje decidi declará-lo persona non grata e peço ao chanceler (David Choquehuanca) comunicar a decisão ao escritório da Secretaria de Estado dos Estados Unidos em La Paz”, disse Morales.

Martínez, que deverá abandonar o país andino no prazo de 48 horas, é o segundo funcionário expulso da embaixada americana na capital boliviana, depois do embaixador Philip Goldberg, em setembro último.

O agente foi também acusado de manter relação com Rodrigo Carrasco, um ex-policial boliviano formado em centros estadunidenses em inteligência, segurança, comunicações e política, infiltrado na estatal petroleira da Bolívia (YPFB).

Carrasco, destituído da YPFB, “é um impostor. Ingressou com um título de engenheiro comercial quando não era nada disso, trabalhou no esquema norte-americano no Iraque, fez mais de 20 viagens aos EUA. Não sei como contratam essa classe de pessoas. Ele penetrou nos altos mandos da estatal, mantendo contatos permanentes com a embaixada dos EUA para realizar operações encobertas, sabotagem. Manteve-se lá durante muito tempo, roubou documentos, armou contra a empresa e contra o governo”, afirmou Evo.

O presidente disse que ficou claro, só agora, à luz dessas informações, a escassez de combustíveis que ocorreu no país entre agosto e setembro últimos, quando grupos de separatistas estouraram gasodutos, tomaram aeroportos e escritórios do Estado nas cidades de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando, cujas autoridades se opõem ao governo nacional.

No final de janeiro, o presidente da YPFB, Santos Ramírez, foi destituído da sua função na presidência da YPFB por conciliar com a corrupção e com ações de sabotagem.

quinta-feira, julho 31, 2008

4ª Frota é afronta à integração soberana da América do Sul

 

Reunidos em Montevidéo, os parlamentares do Mercosul consideraram “inoportuna” a reativação da frota de guerra e contestaram o argumento de “combate ao narcotráfico”

A reativação da Quarta Frota da Marinha de Guerra dos EUA é inteiramente inoportuna e desnecessária, dadas as atuais circunstâncias mundiais e regionais que conformam a América do Sul como uma região pacífica e democrática”, afirma a declaração aprovada no Parlamento do Mercosul (Parlasul) na sessão do dia 29.

Ao aprovar a moção, de autoria do senador Aloísio Mercadante e da deputada uruguaia Adriana Peña, o Parlasul contestou as falsas alegações de “combate ao tráfico” utilizadas pelo governo norte-americano para justificar a reinstalação da frota, que havia sido desativada em 1950.

“O imprescindível combate ao narcotráfico pode e deve ser feito dentro dos parâmetros já estabelecidos em inúmeros acordos bilaterais e multilaterais, num ambiente de cooperação diplomática pacífica e em estrita observância à soberania de todos os países”, destaca a declaração aprovada em Montevidéu, que atenta para a inconsistência do surrado argumento. O “combate ao narcotráfico” foi o apelo central usado para instalar bases pelo continente afora, como ocorreu no famigerado Plano Colômbia ou no acordo para a utilização - por tropas norte-americanas - da base de Manta, em vias de revogação pelo novo governo do Equador (ver matéria nesta página).

A Quarta Frota foi constituída em 1943 com a finalidade de unir esforços dos países aliados da região na guerra contra o nazi-fascismo. Tanto assim, que a mesma foi desativada pouco tempo depois do final da Segunda Guerra Mundial.

PROVOCAÇÃO

O Parlasul reúne parlamentares do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A sessão que rejeitou a recriação da frota ianque teve o senador brasileiro Dr. Rosinha (PT) como presidente. O parlamentar destacou: “Entendemos que a reativação da Quarta Frota é uma agressão à soberania dos países da América do Sul. É uma provocação militar”.

O parlamentar argentino Roberto Godoy afirmou que a aprovação da proposta atende a motivos baseados na História. “Já ocorreram no nosso continente intervenções diretas, que resultaram em ditaduras militares e depois intervenções indiretas”. O parlamentar Saúl Ortega, da Venezuela, também apoiou a declaração, considerando a reativação da Quarta Frota “uma provocação e uma ameaça à paz regional”.

Os parlamentares alertaram que a reativação da frota implica em “militarização de conflitos e problemas regionais” e pode gerar “uma insegurança hemisférica”, além de afrontar os “esforços de integração soberana da América do Sul”.

A 4ª Frota conta hoje com os 11 navios de guerra que integravam o Comando Sul, comandados pelo porta-aviões nuclear George Washington. O governo dos EUA anunciou que as manobras de seus navios de guerra iniciam este mês.

PETRÓLEO

Na 35ª Reunião de Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada de 30 de junho em Tucumán, Argentina, diversos chefes de Estado se pronunciaram contra esta ação provocativa. O presidente Lula informou que o governo brasileiro está acompanhando esses desdobramentos e de que dera instruções ao Itamaraty e ao Ministério da Defesa para que exigissem explicações, por parte do governo dos EUA, a respeito do relançamento da frota. “Descobrimos petróleo em toda a costa marítima brasileira. Queremos que os EUA expliquem isto, porque vivemos numa região totalmente pacífica. Nossa única guerra é contra a pobreza e a fome”, afirmou Lula.

“Devemos questionar, em bloco, o governo dos EUA por estar mandando a Quarta Frota à nossa região”, enfatizou o presidente da Venezuela, alertando para os “objetivos dos EUA de apropriar-se dos recursos naturais dos países da região”.

“Isso é uma ameaça para todos os países da região, temos que ficar atentos”, acrescentou Hugo Chávez.

A anfitriã do encontro, a presidente Cristina Kirchner, destacou a importância de que os países da região preservem e defendam seus recursos naturais, “hoje na mira das grandes potências mundiais”. O presidente da Bolívia, Evo Morales, declarou: “A iniciativa dos EUA é intervencionista”.

Para demonstrar o “caráter humanitário” (como afirmou Condollezza Rice sobre a iniciativa), a frota, sediada em Mayport, na Flórida, terá como comandante o almirante Joseph Kernan, que antes chefiava o Comando de Táticas Especiais de Guerra Naval.

Entre as tropas sob comando de Joseph Kernan, antes de assumir a Quarta Frota, estavam as Navy SEALs, unidades que, assim como os Boinas Verdes, “eram envolvidas nas ações diretas e encobertas da CIA com o entendimento de que as Convenções de Genebra e outras Leis Internacionais sobre Guerra deveriam ser postas de lado como necessidade para operações de sucesso”, afirma o tenente-coronel Daniel Marvin em seu texto “A jornada de um soldado dentro da guerra encoberta”.

O almirante James Stevenson, comandante das Forças Navais do Comando do Sul, declarou que “o restabelecimento da Quarta Frota mandará uma mensagem para toda a região, não apenas à Venezuela”.

“É uma frota de guerra”, alerta a ministra da Defesa da Argentina

A ministra da Defesa da Argentina, Nilda Garré, afirmou que é “inexplicável” que os Estados Unidos ativem sua “frota de guerra” em “uma região de paz”, como o continente americano.

“É inexplicável que tenhamos esse anúncio”, afirmou a ministra, “porque esta é uma região de paz e nos chama a atenção que um país extra-regional envie sua frota de guerra”.

A ministra se referiu à frota, que o governo dos EUA quer fazer navegar nas águas da Américas do Sul e do Caribe, rejeitando a enganosa manobra de encobrir as ameaças sob o argumento de que só será “usada para tarefas humanitárias”.

“Para nós, é uma frota de guerra”, reiterou a ministra Nilda Garré.

Hugo Chávez passa a limpo pendência com rei Juan Carlos

 

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi recebido pelo rei espanhol Juan Carlos, na sexta-feira 25, para discutir projetos de cooperação energética e para reconciliarem-se publicamente. O incidente em que o monarca perdeu a calma e pediu que Chávez se calasse ocorreu na Cúpula Ibero-Americana, em novembro do ano passado.

Durante a visita ao Palácio Marivent, em Mallorca, Chávez foi recebido por um sorridente Juan Carlos e ambos trocaram um forte aperto de mãos – fazendo questão de mostrar que colocaram um fim às desavenças.

“O rei e eu, Juan Carlos e eu, sempre fomos bons amigos, sempre, todos estes anos que levamos compartilhando funções de chefe de Estado”, afirmou Chávez em entrevista à televisão espanhola.

Chávez descreveu que durante o encontro foram discutidos “assuntos muito importantes, o tema energético e o da diretiva de retorno”, [a orientação aprovada no Parlamento Europeu para restringir a imigração].

“O rei é um senhor muito brincalhão, faz travessuras, e então me disse que ia me dar um presente”, explicou Chávez sobre a camisa que recebeu do rei espanhol com a frase “Por qué no te callas?”. Depois do encontro com Juan Carlos, o presidente venezuelano voou até Madri para reunir-se com o primeiro-ministro Zapatero, onde debateram a colaboração em áreas como imigração e energia. “Obrigado pelo carinho com que vocês nos receberam”, afirmou Chávez ao lado de Zapatero.

quarta-feira, julho 02, 2008

Mercosul critica subsídios e especulação financeira

CRISE DOS ALIMENTOS

Reunidos na Argentina, países que integram o bloco sul-americano fizeram duras críticas ao protecionismo de países desenvolvidos, principalmente Estados Unidos, União Européia e Japão, os que mais subsidiam a produção e exportação de produtos agrícolas.

Marcela Valente - IPS

Data: 02/07/2008

SAN MIGUEL DE TUCUMÁN, Argentina – Os presidentes dos países que formam o Mercosul, grandes exportadores agropecuários, responsabilizaram ontem pela carestia alimentar mundial os subsídios do mundo rico e a especulação financeira. Reunidos na capital da província argentina de Tucumán, os mandatários de Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai e Venezuela, junto com chanceleres do Equador, México e Peru, expressaram sua “preocupação pela situação alimentar mundial”.
O Mercosul é formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A Venezuela ainda não completou seu processo de integração e Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru são membros associados, status também desejado pelo México que, enquanto isso, participa na qualidade de observador. O presidente venezuelano Hugo Chávez propôs criar um fundo para emergências alimentares financiado com a contribuição de um dólar para cada barril de petróleo vendido acima dos US$ 100. De acordo com um rápido cálculo que fez, com a colaboração da Venezuela seriam arrecadados US$ 920 milhões por ano, já que este país exporta 2,8 milhões de barris diários, segundo dados oficiais.
Os demais governantes se centraram nas causas da crise dos alimentos e expuseram duras críticas ao protecionismo de países desenvolvidos, principalmente Estados Unidos, União Européia e Japão, os que mais subsidiam a produção e exportação de produtos agrícolas. Várias reuniões paralelas de organizações da sociedade civil também carregaram na tinta quanto à necessidade de garantir a soberania alimentar da região, e propuseram que isso seja feito não apenas com assistência, mas com a criação de emprego decente.
Na declaração de encerramento do encontro os presidentes lamentaram a fome que afeta “quase 900 milhões de pessoas no mundo”, mas, disseram que “a causa principal da crise é estrutural e atende causada pelos subsídios à produção, exportação e outras barreiras” aplicadas pelo Norte industrial. Os governantes se comprometeram a “continuar trabalhando” para obter um “resultado justo e equilibrado” na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio, em busca de um “nível de ambição elevado no acesso aos mercados para a agricultura e os bens industriais”.
A presidente chilena, Michelle Bachelet, garantiu que um final positivo dessa rodada multilateral, destinada a liberalizar os mercados agrícolas, industriais e de serviços, “permitirá aumentar a oferta e baixar os preços dos alimentos”. Sua colega da Argentina, Cristina Fernández, centrou-se em outra causa da crise: a quebra do mercado hipotecário norte-americano, que teve um impacto financeiro nesse país e na Europa, levando os especuladores a “apostarem” em commodities (produtos básicos), afirmou.
A presidente descartou que a América do Sul, exportadora de alimentos, empurre os preços para cima. Tampouco concordou em “culpar” os países em desenvolvimento que aumentaram sua demanda, como China, Índia e outras nações asiáticas. “Parece que o problema é que muita gente que antes não comia, ou comia uma vez por dia, agora come”, ironizou. Fernández recordou que junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, no começo de junho, de uma cúpula alimentar da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), onde se falou dos efeitos perniciosos dos subsídios agrícolas, mas, nas conclusões, “não conseguimos colocar uma frase sobre esse assunto”, ressaltou.
“Temos de nos colocar como região diante destes problemas”, disse Fernández e destacou que os países do bloco regional e seus associados não estão crescendo, mas têm mais consumo interno de alimentos e, entretanto, aumentam o volume de produção e exportações. Lula pediu a criação de um grupo de alto nível para discutir segurança alimentar. Nesse grupo, que deve ter “extrema qualidade cientifica e técnica”, os integrantes podem estimar o impacto dos diferentes biocombustíveis na oferta de alimentos.
O presidente Lula está preocupado em diferenciar o combustível eficiente fabricado no Brasil à base de cana-de-açúcar, o etanol, do que é feito a partir do milho nos Estados Unidos, protegido com subvenções internas e barreiras alfandegárias. A respeito da especulação financeira, ordenou a um grupo de economistas investigar os chamados mercados futuro. “O que há por trás disso?”, perguntou. “Pode ser extremamente grave um produtor vender sem produzir o que vai colher dentro de três anos”, alertou.
O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, também protestou porque “se tenta fazer com que os países que produzem alimentos apareçam como responsáveis pela crise. Nos pedem para abrirmos nossas economias, mas eles fixam objetivos, cotas e fecham seus mercados”, afirmou. Bachelet recordou que a carestia de alimentos ameaça expandir a pobreza e atenta contra a luta para acabar com a fome, a mortalidade infantil e materna, que são parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio com os quais a comunidade internacional se comprometeu em 2000. O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou que a alimentação “é um direito humano básico” e que é obrigação dos governos tornar isso efetivo. “Há grupos que especulam, empresários que só pensam no dinheiro, mas se deve dar uma resposta aos nossos povos”, ressaltou.