quinta-feira, julho 31, 2008

4ª Frota é afronta à integração soberana da América do Sul

 

Reunidos em Montevidéo, os parlamentares do Mercosul consideraram “inoportuna” a reativação da frota de guerra e contestaram o argumento de “combate ao narcotráfico”

A reativação da Quarta Frota da Marinha de Guerra dos EUA é inteiramente inoportuna e desnecessária, dadas as atuais circunstâncias mundiais e regionais que conformam a América do Sul como uma região pacífica e democrática”, afirma a declaração aprovada no Parlamento do Mercosul (Parlasul) na sessão do dia 29.

Ao aprovar a moção, de autoria do senador Aloísio Mercadante e da deputada uruguaia Adriana Peña, o Parlasul contestou as falsas alegações de “combate ao tráfico” utilizadas pelo governo norte-americano para justificar a reinstalação da frota, que havia sido desativada em 1950.

“O imprescindível combate ao narcotráfico pode e deve ser feito dentro dos parâmetros já estabelecidos em inúmeros acordos bilaterais e multilaterais, num ambiente de cooperação diplomática pacífica e em estrita observância à soberania de todos os países”, destaca a declaração aprovada em Montevidéu, que atenta para a inconsistência do surrado argumento. O “combate ao narcotráfico” foi o apelo central usado para instalar bases pelo continente afora, como ocorreu no famigerado Plano Colômbia ou no acordo para a utilização - por tropas norte-americanas - da base de Manta, em vias de revogação pelo novo governo do Equador (ver matéria nesta página).

A Quarta Frota foi constituída em 1943 com a finalidade de unir esforços dos países aliados da região na guerra contra o nazi-fascismo. Tanto assim, que a mesma foi desativada pouco tempo depois do final da Segunda Guerra Mundial.

PROVOCAÇÃO

O Parlasul reúne parlamentares do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A sessão que rejeitou a recriação da frota ianque teve o senador brasileiro Dr. Rosinha (PT) como presidente. O parlamentar destacou: “Entendemos que a reativação da Quarta Frota é uma agressão à soberania dos países da América do Sul. É uma provocação militar”.

O parlamentar argentino Roberto Godoy afirmou que a aprovação da proposta atende a motivos baseados na História. “Já ocorreram no nosso continente intervenções diretas, que resultaram em ditaduras militares e depois intervenções indiretas”. O parlamentar Saúl Ortega, da Venezuela, também apoiou a declaração, considerando a reativação da Quarta Frota “uma provocação e uma ameaça à paz regional”.

Os parlamentares alertaram que a reativação da frota implica em “militarização de conflitos e problemas regionais” e pode gerar “uma insegurança hemisférica”, além de afrontar os “esforços de integração soberana da América do Sul”.

A 4ª Frota conta hoje com os 11 navios de guerra que integravam o Comando Sul, comandados pelo porta-aviões nuclear George Washington. O governo dos EUA anunciou que as manobras de seus navios de guerra iniciam este mês.

PETRÓLEO

Na 35ª Reunião de Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada de 30 de junho em Tucumán, Argentina, diversos chefes de Estado se pronunciaram contra esta ação provocativa. O presidente Lula informou que o governo brasileiro está acompanhando esses desdobramentos e de que dera instruções ao Itamaraty e ao Ministério da Defesa para que exigissem explicações, por parte do governo dos EUA, a respeito do relançamento da frota. “Descobrimos petróleo em toda a costa marítima brasileira. Queremos que os EUA expliquem isto, porque vivemos numa região totalmente pacífica. Nossa única guerra é contra a pobreza e a fome”, afirmou Lula.

“Devemos questionar, em bloco, o governo dos EUA por estar mandando a Quarta Frota à nossa região”, enfatizou o presidente da Venezuela, alertando para os “objetivos dos EUA de apropriar-se dos recursos naturais dos países da região”.

“Isso é uma ameaça para todos os países da região, temos que ficar atentos”, acrescentou Hugo Chávez.

A anfitriã do encontro, a presidente Cristina Kirchner, destacou a importância de que os países da região preservem e defendam seus recursos naturais, “hoje na mira das grandes potências mundiais”. O presidente da Bolívia, Evo Morales, declarou: “A iniciativa dos EUA é intervencionista”.

Para demonstrar o “caráter humanitário” (como afirmou Condollezza Rice sobre a iniciativa), a frota, sediada em Mayport, na Flórida, terá como comandante o almirante Joseph Kernan, que antes chefiava o Comando de Táticas Especiais de Guerra Naval.

Entre as tropas sob comando de Joseph Kernan, antes de assumir a Quarta Frota, estavam as Navy SEALs, unidades que, assim como os Boinas Verdes, “eram envolvidas nas ações diretas e encobertas da CIA com o entendimento de que as Convenções de Genebra e outras Leis Internacionais sobre Guerra deveriam ser postas de lado como necessidade para operações de sucesso”, afirma o tenente-coronel Daniel Marvin em seu texto “A jornada de um soldado dentro da guerra encoberta”.

O almirante James Stevenson, comandante das Forças Navais do Comando do Sul, declarou que “o restabelecimento da Quarta Frota mandará uma mensagem para toda a região, não apenas à Venezuela”.

“É uma frota de guerra”, alerta a ministra da Defesa da Argentina

A ministra da Defesa da Argentina, Nilda Garré, afirmou que é “inexplicável” que os Estados Unidos ativem sua “frota de guerra” em “uma região de paz”, como o continente americano.

“É inexplicável que tenhamos esse anúncio”, afirmou a ministra, “porque esta é uma região de paz e nos chama a atenção que um país extra-regional envie sua frota de guerra”.

A ministra se referiu à frota, que o governo dos EUA quer fazer navegar nas águas da Américas do Sul e do Caribe, rejeitando a enganosa manobra de encobrir as ameaças sob o argumento de que só será “usada para tarefas humanitárias”.

“Para nós, é uma frota de guerra”, reiterou a ministra Nilda Garré.

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