terça-feira, dezembro 02, 2008

Xiii... Deu branco!

 

O enfrentamento das provas dos vestibulares mais concorridos do país talvez seja o primeiro grande desafio profissional dos jovens. É fácil mensurarmos esse desafio: a conquista de uma vaga em uma universidade pública no curso de medicina, por exemplo, significa obter um prêmio de cerca de R$ 225.000,00 – preço médio que o aluno pagaria pelo curso em uma universidade particular. Um candidato que não apresentar um grau de excelência nos quesitos técnico (conhecimento do conteúdo programático) e psicológico (administrar a ansiedade no momento da prova) terá sérias dificuldades para obtenção de êxito. Nesse espaço, estou preocupado com o equilíbrio psicológico. Por que tanta gente “derrapa” no momento da prova? O que faz com que candidatos capacitados em termos de conhecimento fiquem tão nervosos que não consigam reverter em pontos o que sabem – têm brancos e sensações físicas como: taquicardia, suor excessivo, tremores, entre outros?
Inicio a reflexão sobre isso com um pensamento:

“Os homens são perturbados não pelas coisas em si, mas pelo que pensam sobre elas”. (Epitectus, 70 a.C.)

Exatamente isso. São os pensamentos que contam. Sempre que você experimenta um estado de ansiedade intensa, existem pensamentos que definem e fortalecem esse estado. Alguns leitores podem estar questionando se é possível os pensamentos produzirem as reações físicas observadas durante o nervosismo. Não é difícil comprovarmos isso: imagine um limão bem suculento. Agora, mentalmente corte esse limão, pegue uma das metades e esprema-a em sua boca. Se você fez esse exercício com concentração, provavelmente salivou. Isso comprova que os pensamentos produzem reações físicas. Mas como isso pode ocorrer durante a prova? Observe:

batimento cardíaco um pouco aumentado
(reação física)

estou ficando nervoso
(pensamento)

respiração superficial e aceleração dos batimentos cardíacos
(reações físicas)

não estou me lembrando de nada, não vou conseguir
(pensamento)

respiração mais superficial e menos oxigênio para o cérebro
(reações físicas)

eu sabia que ia ficar nervoso, me deu branco!
(pensamento)

Observe que uma seqüência de pensamentos intensificou as reações físicas e culminou no famoso branco. Mas como impedir que isso aconteça? É importante que você identifique o que está pensando e verifique a veracidade dos seus pensamentos antes de agir:

batimento cardíaco um pouco aumentado
(reação física)

estou ficando nervoso
(pensamento)

é perfeitamente comum ficar um pouco nervoso no início de uma prova. Tenho certeza de que quem está levando essa prova a sério também está nervoso.
(pensamento compensador)

.............

não estou me lembrando de nada, não vou conseguir
(pensamento)

é impossível se lembrar de tudo. Não me lembrar de alguns assuntos não quer dizer que eu não vou conseguir. Vou dar o máximo de mim.
(pensamento compensador)

Estar vigilante aos pensamentos e considerar o maior número possível de ângulos de um determinado problema pode levar a pessoa a novas conclusões e desfechos. É importante ter em mente que:

  • se para ter paz, você precisa da certeza de que irá passar, então você nunca terá paz, pois essa certeza é impossível;

  • se para ter paz, você precisa lembrar-se de tudo, então você jamais terá paz, pois é impossível se lembrar de tudo;

  • se para ter paz, você acredita ser necessário dar tudo certo no dia da prova, então você não terá paz. É perfeitamente possível que algo dê errado sem que isso o prejudique a ponto de impedir a conquista de sua vaga.

Embora a identificação e a modificação dos pensamentos sejam um ponto central para a diminuição da ansiedade, colocá-las em prática exige treino e vigilância. Treine bastante e boas provas!

Celso Lopes de Souza

  • Médico formado pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP).

  • Membro do grupo de estudos de TDAH (Transtorno do Déficit da Atenção/ Hiperatividade) da UNIAD/UNIFESP.

  • Ministra palestras na área de psiquiatria – incluindo o tabagismo.
  • Autor de artigos técnicos sobre os mecanismos cerebrais de dependência da nicotina, além de dirigir uma clínica antitabagista.
  • Autor do livro
    A Última Tragada, publicado pela editora HARBRA.