quarta-feira, agosto 06, 2008

Indianos querem reclassificar casta

 

Piya Kochkar*

17-06-2008

No complexo sistema de castas da Índia, pessoas são tratadas e divididas em classes sociais de acordo com a hierarquia. A casta denominada Gujjar ocupava uma posição inferior na escala social, apesar de não estar em último lugar. No entanto, eles agora lutam pelo direito de reclassificação como cidadãos inferiores, num conflito que já deixou dezenas de mortos.

Esse sistema de castas foi oficialmente abolido e tiveram início ações e programas afirmativos, para favorecer os grupos menos favorecidos. A idéia é de que o tratamento preferencial irá ajudá-los a melhorar economicamente.

castagran

Os Gujjars também querem os benefícios
concedidos às castas menos favorecidas
Foto: Lakshman Anand

Pobreza

O governo indiano afirma que os Gujjars estão numa escala social alta demais para receber esses benefícios. No entanto, os Gujjars dizem que estão na pobreza. No último mês, eles tomaram as ruas das comunidades na província de Rajasthan para exigir o status inferior.
Na semana passada, houve revoltas nas ruas de Nova Délhi e em outras regiões da Índia. Pessoas morreram nas lutas, mas para alguns, foi só mais um inconveniente, atrasando o horário do trabalho. A revolta era de membros da comunidade Gujjar, que tinham tomado as ruas exigindo benefícios do sistema de cotas do governo, uma política afirmativa para castas e etnias esmagadas ou atrasadas.
A revolta não é nova. Trata-se de um grupo de pessoas exigindo direitos fundamentais, como à educação, por empregos e por vida digna. Alguns indianos lamentam pela frustração e desespero da população, que resultaram nessa violência. Outros acham que a violência não é o caminho.
Contribuinte
Avinash Kalla trabalha em Nova Délhi, mas é de Rajasthan. Seu estado-natal abriga a maior população Gujjar da Índia, e a mais pobre também. São os Gujjars em Rajasthan que estão liderando as lutas por mais cotas. E pedem reservas especiais em empregos públicos e universidades estatais.

castamed

A sociedade indiana é
dividida por castas

No entanto, para Avinash Kalla, "eles não trabalham, não vão à escola. Eles só querem acesso fácil a tudo. Então você está degradando o sistema, abaixando a qualidade. Se você tem que protestar, então faça isso direito. Não tem graça fazer agitação e tomar as ruas", queixa-se.
Desespero
A.K. Varma é membro da comunidade Gujjar e é professor aposentado de Ciências Políticas. O professor acha que os membros dessa casta só se tornaram violentos em resposta à violência policial. Ele concorda com seus colegas Gujjars em Rajasthan, a quem foi prometido, nas eleições de 2003, uma grande quantidade de empregos públicos. Mas a promessa nunca foi cumprida. Segundo Varma, a luta é um último recurso, uma luta de desespero.
"Em uma democracia, é nosso direito fundamental lutar por nossas conquistas por meios pacíficos. E é isso que temos feito. Em 1942, Ghandi disse: 'Ingleses, saiam da Índia ou então nós, indianos, faremos algo, faremos ou morreremos'. A mesma idéia é adotada pelos Gujjars. Nós sacrificaremos nossas vidas. Para quê viver se não temos comida? É melhor morrer. Deus ajuda aqueles que se ajudam. Se não lutarmos, quem irá ajudar-nos?"
Eleições
Bina Singh faz trabalho social em favelas de Nova Délhi. Antes, ela trabalhava para o governo na defesa do bem-estar juvenil e social.
"Se os protestos podem fazer a diferença para uma família, uma pessoa, eu acho que vale a pena. Uma família que tem quatro ou cinco crianças, se elas podem ser educadas e a vida delas melhora, vão dar um exemplo para outras pessoas da comunidade. Então, realmente surte efeito. As pessoas pensam: o quê esses poucos Gujjars podem fazer, eles são só cinco por cento da comunidade? Mas eles são cidadãos deste país, e cinco por cento é muita gente".
Cinqüenta pessoas já morreram nas agitações dos Gujjars. Em meados de junho, o governo finalmente resolveu ouvir representantes da casta. Coincidentemente, as eleições estão chegando, fazendo parecer que esse encontro possa ser mais uma tentativa de angariar votos.
*Adaptação: Railda Herrero

Líder maoísta substitui rei no Nepal

 

Lucia de Vries*

30-05-2008

Milhares de pessoas se reuniram em Katmandu, capital do Nepal, para festejar a partida do rei Gyanendra de seu palácio e o fim de uma monarquia de mais de 240 anos, após a proclamação da república no país asiático. O novo governante nepalês é o líder maoísta Prachanda, que assume o cargo de primeiro-ministro.

O rei nepalês, uma figura até pouco tempo intocável, teve que deixar o palácio e renunciar. Em 2001, durante a coroação de Gyanendra, grupos na multidão que assistia à cerimônia gritaram "assassino". Mas sua impopularidade ganhou força em 2004, quando conseguiu mais poder como rei. Em 2006, após inúmeros protestos da população, ele teve que ceder e voltar atrás, o que significou o início de seu fim como monarca.

nepalmed

O rei Gyanendra agora faz parte
do passado político do Nepal

Há meses que os rumores de sua saída correm pelas ruas estreitas de Katmandu. Também foram feitas brincadeiras, tais como a sugestão do jornal Nepali Times: "Porque não transformamos o palácio em museu, com a figura de Gyanendra, atrás de sua mesa, feita de cera?". No entanto, as provocações não alteraram a tranqüilidade do rei. Na semana passada, ele ainda visitou um templo e assistiu ao sacrifício de cinco animais, o que provocou protestos de organização nepalesa de proteção aos animais. A monarquia nepalesa é conhecida por este costume antigo de oferendas de animais sacrificados, realizadas, na maioria das vezes, em público.
Alívio e festa
A maioria dos nepaleses está aliviada. Embora recentes pesquisas apontassem que quase 50% dos habitantes queriam manter a monarquia, Gyanendra não era amado pelos seus súditos, e o seu filho, Paras, um tipo "playboy", era odiado pela população. E no dia 28 de maio, milhares de nepaleses maoístas se dirigiram à Katmandu para festejar a proclamação da república.
A dinastia Shah, em seus 240 anos de existência, não foi um exemplo de monarquia que evitava atos de violência. Em 2001, aconteceu uma tragédia entre os muros do palácio. O adorado rei Birendra e vários membros de sua família foram assassinados. Segundo a versão oficial, eles teriam sido mortos, com uma metralhadora, pelo príncipe herdeiro, Dipendra, que logo depois também se matou. O irmão do rei, Gyanendra, e sua família, foram os únicos sobreviventes deste banho de sangue. Logo depois, o povo tirou sua própria conclusão: a matança teria sido organizada por Gyanendra, já que, na mesma semana, tornou-se rei do Nepal.
Em 2004, a Federação Mundial Hindu corou o rei Gyanendra como o "o único rei hindu do mundo". Durante a cerimônia, o presidente Ashok Singhal disse que "o papel dos 900 milhões de hindus em todo o mundo é oferecer a proteção ao rei hindu. Deus o criou para proteger a nossa religião". No mesmo ano, Gyanendra pegou todo o poder para si, destituindo o parlamento e outros membros do governo. Em princípio, o ato foi bem recebido pelo povo, que pensava que, desta maneira, se colocaria um fim ao longo conflito entre o governo e os rebeldes maoistas. Mas logo o rei nepalês perdeu por completo sua credibilidade junto à população.
Meio século de luta
Durante a assembléia de 601 membros nepaleses, a república foi declarada. "Este é um dia histórico para a nação. Os nepaleses lutaram 50 anos para o fim da monarquia", disse Prachanda, recém-eleito para conduzir a política do país. A partir de agora, comenta o líder maoísta, Gyanendra será um cidadão comum e pagará todos os impostos, além de perder parte de sua fortuna com o pagamento de vários impostos sonegados.
Em diversos sites pela internet, iniciou-se uma discussão sobre a mudança política no Nepal, com opiniões diversas, entre críticas e defesas ao rei. Trata-se de um debate que mostra o contraste entre o velho e o novo Nepal - tema dos maoístas numa das eleições passadas. Apesar de a monarquia ainda ser respeitada pelos hindus tradicionalistas, o líder maoísta Prachanda também é muito querido pelo povo nepalês, que o apoiou em massa nas eleições de abril passado.
E sua gestão dará espaço para as mulheres, que participarão com 33% dos membros do governo "Novo Nepal". Além disso, especialistas garantem que todas as religiões, castas e etnias estarão representadas nesta primeira administração histórica da República Nepalesa.
*Tradução: Luís Henrique de Freitas Pádua

Campos de gás do Zimbábue são os maiores do Sul e do Leste da África

 

Documento do Departamento de Estado, obtido pelo escritor norte-americano William Engdahl, revelou que o Zimbábue tem “os maiores campos de gás até agora conhecidos no Sul e no Leste da África”.

Esses campos de gás, acrescentou o relatório, foram “descobertos recentemente na província de Matabeleland”. O mesmo documento enumera as riquezas minerais do país: ouro, platina, cromo, níquel, cobre e carvão. Distraidamente, esqueceram-se de incluir, como o escritor notou, “reservas de urânio ainda não quantificadas”.

Ucrânia: tropas da Otan são recebidas a pedradas

 

Centenas de manifestantes ucranianos tentaram impedir, com paus e pedras, um exercício militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Criméia, sul do país, no dia 24 do mês passado.

Os cidadãos conseguiram bloquear brevemente três blindados, subindo em cima deles, segundo imagens transmitidas pela rede de TV Canal 5.
Os militares dispararam granadas sôni-cas contra os manifestantes. Duas pessoas ficaram feridas, entre eles um deputado comunista, segundo Canal 5. A Ucrânia não faz parte da Otan, que organizou o exercício apelidado de “Brisa do Mar”.
Os manifestantes estiveram acampados na região das manobras desde antes do início dos exercícios, no dia 14 de julho.
Em um dos dias de protesto, os manifestantes realizaram uma “marcha naval” com uma dezena de barcos e lanchas ao longo da costa exibindo bandeiras e faixas contra a Otan.

O exercício “Brisa do Mar” terminou no dia 26 de julho e foi necessário a aprovação de uma lei especial do Parlamento para autorizar a permanência, durante 25 dias, em território ucraniano de mil militares norte-americanos e de outros países. A Otan vai decidir em dezembro se inclui a Ucrânia.

EUA cobiçam ouro, gás, urânio, cromo e platina do Zimbábue

 

“Essa é a verdadeira razão para a intervenção do governo Bush no país”, assinalou o escritor norte-americano William Engdahl. “Robert Mugabe preside um dos tesouros minerais mais ricos do mundo”

“Robert Mugabe, o presidente do Zimbábue, preside um dos tesouros minerais mais ricos do mundo”, afirmou o escritor norte-americano William Engdahl, autor de “Um Século de Guerra: a Política de Petróleo Anglo-Americana e a Nova Ordem Mundial”, e que mantém na internet uma página sobre “geopolítica do petróleo”.

Essa riqueza está concentrada na região do ‘Great Dyke’, com uma franja geológica que atravessa todo o território, de noroeste a sudeste. Essa é a verdadeira razão para a intervenção do governo Bush no país, assinalou o escritor, que obteve um documento do Departamento de Estado que detalha tais riquezas. Não qualquer “piedosa preocupação” com a situação dos “direitos humanos no Zimbábue”; suposta “fraude eleitoral”; ou, ainda, “a expropriação de fazendas de brancos”, registrou em seu artigo “O grande pecado de Mugabe”.

RIQUEZA MINERAL

Eis o que revela esse documento do Departamento de Estado reproduzido por Engdahl: “O Zimbábue conta com ricos recursos minerais. As exportações de ouro, asbestos, cromo, carvão, platina, níquel e cobre poderiam levar um dia a uma recuperação econômica”. Mais adiante, o documento abre o jogo: “Os bolsões de gás recentemente descobertos na província de Matabeleland são os maiores campos de gás até agora conhecidos no sul e no leste da África”. Admite, ainda, que o Zimbábue “tem abundantes reservas de carvão” e “considerável potencial de energia hidroelétrica”. A essa compilação das riquezas do Zimbábue, Engdahl acrescenta, ainda, “reservas de urânio ainda não quantificadas”. Quanto às reservas de cromo, revelou o artigo mais adiante, “são as segundas maiores do mundo, atrás apenas das da África do Sul”. O cobre vem sendo explorado desde os tempos do aventureiro Rhodes.

Após ironizar as manipulações da Casa Branca e de Londres, para apresentarem Mugabe como “um homem muito, muito mau”, “um ditador” e “merecedor de estar na lista de honra dos vilões”, Engdahl afirmou que “não é essa a razão” que os levou a tornar a “mudança de regime”, isto é, sua derrubada, “a prioridade número 1” de sua política para a África. O suposto pecado de Mugabe, apontou, “tem mais a ver com suas tentativas de escapar da dependência e servidão neocolonial anglo-americana e buscar um desenvolvimento econômico nacional independente do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial”.

O que, no entender do escritor, tem se dado por meio do estreitamento de laços econômicos com a China, que tem oferecido aos países africanos empréstimos e investimentos “em condições muito mais brandas” do que os oferecidos pelos EUA, Inglaterra, FMI e Banco Mundial, e sem os condicionamentos impostos, “ajustes” e cortes de programas sociais. “Ultimamente, ficou muito claro que talvez o tenaz Mugabe controle as coisas, os sócios comerciais preferidos do Zimbábue não são os anglo-americanos, mas sim os chineses. Esse parece ser o pecado maior de Mugabe. Não está seguindo o programa traçado por George W. Bush e seus amigos. Seu pecado real parece ser o de haver-se voltado para o Oriente, ao invés de ao Ocidente, em busca de ajuda econômica e investimentos”.

SANÇÕES

A bem da precisão, as operações de desestabilização e as sanções contra o governo de Mugabe, levadas a cabo pela Casa Branca e por Londres, antecederam em muito esse estreitamento de relações econômicas com a China – pelo menos cinco anos. (Pode-se, inclusive, inferir, que o citado estreitamento é uma conseqüência dessa tentativa, em curso, de estrangulamento da economia zimbabuense).

O próprio Engdahl apontou que “retrocedendo a julho de 2005, enquanto Tony Blair apertava ainda mais as sanções contra o Zimbábue, Mugabe voou a Pequim para reunir-se com altos dirigentes chineses”, onde obteve um empréstimo de emergência de US$ 1 bilhão de dólares. “Em junho de 2006, empresas estatais do Zimbábue firmaram com empresas chinesas uma série de acordos nos campos de energia, mineração e agricultura, no valor de bilhões de dólares”. Também foi formada uma empresa mista no setor de mineração do cromo. A mineração, acrescentou, “já gera metade das receitas de exportação do Zimbábue”, sendo que “as companhias ocidentais com concessões de lavras não as estão explorando”.

ANTONIO PIMENTA

Fim da era Olmert

 

Joop Meijers*

04-08-2008

Não totalmente inesperado, o primeiro-ministro israelense Ehuld Olmert, acusado de corrupção, anunciou a sua renúncia. Num curto pronunciamento pela televisão, Olmert informou que no próximo 17 de setembro estará deixando o seu cargo e a presidência do partido dele, o Kadima. Nesta data será escolhido um novo presidente do partido e, possivelmente, o novo primeiro-ministro de Israel.
olmertEm seu discurso, denominado pela mídia israelense de dramático, Olmert alegou estar convencido de sua inocência. "Devido as acusações e todo o processo, inclusive de funcionários do governo que querem a minha saída, decidi deixar o cargo e me concentrar na defesa de minha inocência", disse.
Olmert está sendo acusado de ter recebido dinheiro ilegal de um filantropo norte-americano. Além disso, o premier teria se deixado comprar por transações imobiliárias e viagens de férias para si e sua família, pagas pelo Estado. Ele é ainda acusado de ter apresentado notas falsas de despesas.
Caos
O anúncio da saída de Olmert veio no final de um dia em que o seu partido, Kadima, sofreu várias derrotas no parlamento. A unidade e a disciplina da fraca coalizão governamental caiu como um castelo de cartas. O ministro da Defesa descreveu a atmosfera no parlamento israelense como caótica.
Segundo as pesquisas de opinião, feitas pela televisão israelense, a popularidade de Olmert, que se tornou premier em abril de 2006, atingiu o mais baixo nível - 77% dos entrevistados se manifestaram descontentes com o seu trabalho.
Se as eleições fossem realizadas agora, o líder da oposição e antigo premier, Benjamin Netanyahu, do partido de direita Likud, receberia 36% dos votos; a vice-premier e atual ministra do exterior, do Kadima, Tzipi Livni, receberia 25%; e o líder do Partido Trabalhista e ministro da Defesa, Ehud Barak, apenas 12%.
Nova luta
A luta pela liderança dentro do partido Kadima ocorre entre a vice-premiere Shaul Mofaz, que em 2006 deixou o partido Likud. Tzipi Livni, que lidera o grupo que negocia a paz com os palestinos, é vista com uma política da nova safra. Já o antigo ministro da Defesa, Shaul Mofaz, tem a reputação de ser um duro da velha guarda. Em princípio, o novo líder do partido Kadima deve formar um novo governo de coalizão após a saída de Olmert. Caso não seja possível, novas eleições serão convocadas em Israel dentro de um prazo de três meses.
O primeiro-ministro Olmert disse que até a sua saída, ele continuará as negociações com os palestinos e a Síria. Devido ao pouco apoio político dentro de Israel, é improvável que essas negociações cheguem a algum ponto de entendimento.
De acordo com muitos políticos, existem grandes chances de que o Kadima, depois de escolher um novo líder, forme uma coalizão com o Partido Trabalhista israelense, para evitar que Netanyahu, do partido Likud, se torne novamente premier do país.
*Tradução: Luís Henrique de Freitas Pádua