quinta-feira, julho 31, 2008

4ª Frota é afronta à integração soberana da América do Sul

 

Reunidos em Montevidéo, os parlamentares do Mercosul consideraram “inoportuna” a reativação da frota de guerra e contestaram o argumento de “combate ao narcotráfico”

A reativação da Quarta Frota da Marinha de Guerra dos EUA é inteiramente inoportuna e desnecessária, dadas as atuais circunstâncias mundiais e regionais que conformam a América do Sul como uma região pacífica e democrática”, afirma a declaração aprovada no Parlamento do Mercosul (Parlasul) na sessão do dia 29.

Ao aprovar a moção, de autoria do senador Aloísio Mercadante e da deputada uruguaia Adriana Peña, o Parlasul contestou as falsas alegações de “combate ao tráfico” utilizadas pelo governo norte-americano para justificar a reinstalação da frota, que havia sido desativada em 1950.

“O imprescindível combate ao narcotráfico pode e deve ser feito dentro dos parâmetros já estabelecidos em inúmeros acordos bilaterais e multilaterais, num ambiente de cooperação diplomática pacífica e em estrita observância à soberania de todos os países”, destaca a declaração aprovada em Montevidéu, que atenta para a inconsistência do surrado argumento. O “combate ao narcotráfico” foi o apelo central usado para instalar bases pelo continente afora, como ocorreu no famigerado Plano Colômbia ou no acordo para a utilização - por tropas norte-americanas - da base de Manta, em vias de revogação pelo novo governo do Equador (ver matéria nesta página).

A Quarta Frota foi constituída em 1943 com a finalidade de unir esforços dos países aliados da região na guerra contra o nazi-fascismo. Tanto assim, que a mesma foi desativada pouco tempo depois do final da Segunda Guerra Mundial.

PROVOCAÇÃO

O Parlasul reúne parlamentares do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A sessão que rejeitou a recriação da frota ianque teve o senador brasileiro Dr. Rosinha (PT) como presidente. O parlamentar destacou: “Entendemos que a reativação da Quarta Frota é uma agressão à soberania dos países da América do Sul. É uma provocação militar”.

O parlamentar argentino Roberto Godoy afirmou que a aprovação da proposta atende a motivos baseados na História. “Já ocorreram no nosso continente intervenções diretas, que resultaram em ditaduras militares e depois intervenções indiretas”. O parlamentar Saúl Ortega, da Venezuela, também apoiou a declaração, considerando a reativação da Quarta Frota “uma provocação e uma ameaça à paz regional”.

Os parlamentares alertaram que a reativação da frota implica em “militarização de conflitos e problemas regionais” e pode gerar “uma insegurança hemisférica”, além de afrontar os “esforços de integração soberana da América do Sul”.

A 4ª Frota conta hoje com os 11 navios de guerra que integravam o Comando Sul, comandados pelo porta-aviões nuclear George Washington. O governo dos EUA anunciou que as manobras de seus navios de guerra iniciam este mês.

PETRÓLEO

Na 35ª Reunião de Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada de 30 de junho em Tucumán, Argentina, diversos chefes de Estado se pronunciaram contra esta ação provocativa. O presidente Lula informou que o governo brasileiro está acompanhando esses desdobramentos e de que dera instruções ao Itamaraty e ao Ministério da Defesa para que exigissem explicações, por parte do governo dos EUA, a respeito do relançamento da frota. “Descobrimos petróleo em toda a costa marítima brasileira. Queremos que os EUA expliquem isto, porque vivemos numa região totalmente pacífica. Nossa única guerra é contra a pobreza e a fome”, afirmou Lula.

“Devemos questionar, em bloco, o governo dos EUA por estar mandando a Quarta Frota à nossa região”, enfatizou o presidente da Venezuela, alertando para os “objetivos dos EUA de apropriar-se dos recursos naturais dos países da região”.

“Isso é uma ameaça para todos os países da região, temos que ficar atentos”, acrescentou Hugo Chávez.

A anfitriã do encontro, a presidente Cristina Kirchner, destacou a importância de que os países da região preservem e defendam seus recursos naturais, “hoje na mira das grandes potências mundiais”. O presidente da Bolívia, Evo Morales, declarou: “A iniciativa dos EUA é intervencionista”.

Para demonstrar o “caráter humanitário” (como afirmou Condollezza Rice sobre a iniciativa), a frota, sediada em Mayport, na Flórida, terá como comandante o almirante Joseph Kernan, que antes chefiava o Comando de Táticas Especiais de Guerra Naval.

Entre as tropas sob comando de Joseph Kernan, antes de assumir a Quarta Frota, estavam as Navy SEALs, unidades que, assim como os Boinas Verdes, “eram envolvidas nas ações diretas e encobertas da CIA com o entendimento de que as Convenções de Genebra e outras Leis Internacionais sobre Guerra deveriam ser postas de lado como necessidade para operações de sucesso”, afirma o tenente-coronel Daniel Marvin em seu texto “A jornada de um soldado dentro da guerra encoberta”.

O almirante James Stevenson, comandante das Forças Navais do Comando do Sul, declarou que “o restabelecimento da Quarta Frota mandará uma mensagem para toda a região, não apenas à Venezuela”.

“É uma frota de guerra”, alerta a ministra da Defesa da Argentina

A ministra da Defesa da Argentina, Nilda Garré, afirmou que é “inexplicável” que os Estados Unidos ativem sua “frota de guerra” em “uma região de paz”, como o continente americano.

“É inexplicável que tenhamos esse anúncio”, afirmou a ministra, “porque esta é uma região de paz e nos chama a atenção que um país extra-regional envie sua frota de guerra”.

A ministra se referiu à frota, que o governo dos EUA quer fazer navegar nas águas da Américas do Sul e do Caribe, rejeitando a enganosa manobra de encobrir as ameaças sob o argumento de que só será “usada para tarefas humanitárias”.

“Para nós, é uma frota de guerra”, reiterou a ministra Nilda Garré.

Hugo Chávez passa a limpo pendência com rei Juan Carlos

 

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi recebido pelo rei espanhol Juan Carlos, na sexta-feira 25, para discutir projetos de cooperação energética e para reconciliarem-se publicamente. O incidente em que o monarca perdeu a calma e pediu que Chávez se calasse ocorreu na Cúpula Ibero-Americana, em novembro do ano passado.

Durante a visita ao Palácio Marivent, em Mallorca, Chávez foi recebido por um sorridente Juan Carlos e ambos trocaram um forte aperto de mãos – fazendo questão de mostrar que colocaram um fim às desavenças.

“O rei e eu, Juan Carlos e eu, sempre fomos bons amigos, sempre, todos estes anos que levamos compartilhando funções de chefe de Estado”, afirmou Chávez em entrevista à televisão espanhola.

Chávez descreveu que durante o encontro foram discutidos “assuntos muito importantes, o tema energético e o da diretiva de retorno”, [a orientação aprovada no Parlamento Europeu para restringir a imigração].

“O rei é um senhor muito brincalhão, faz travessuras, e então me disse que ia me dar um presente”, explicou Chávez sobre a camisa que recebeu do rei espanhol com a frase “Por qué no te callas?”. Depois do encontro com Juan Carlos, o presidente venezuelano voou até Madri para reunir-se com o primeiro-ministro Zapatero, onde debateram a colaboração em áreas como imigração e energia. “Obrigado pelo carinho com que vocês nos receberam”, afirmou Chávez ao lado de Zapatero.

terça-feira, julho 15, 2008

Emergentes entram no jogo: BRICs X G8

A crise mundial está produzindo dois fenômenos envolvendo, de um lado, países desenvolvidos; e de outro, os emergentes (Brasil, China, Índia e Rússia).
O primeiro é sobre quem paga a conta da crise atual. O segundo, sobre como será o mundo daqui para diante, qual o novo perfil da economia mundial com uma crise que permitirá a emergência de novos atores globais.
projetobr.ig.com.br - Artigo

Rússia e China barram sanções contra Zimbábue no CS da ONU

 

“A situação no Zimbábue não ameaça a paz nem a segurança regional, muito menos a internacional”, afirmou o embaixador russo

A tentativa dos Estados Unidos de ampliar as sanções contra o Zimbábue, com base em não reconhecimento do processo eleitoral vivido recentemente pelo país africano que reelegeu o líder da libertação nacional, Robert Mugabe, foi barrada através do veto da Rússia e da China no Conselho de Segurança da ONU.

“A ONU teria criado um precedente perigoso, abrindo caminho para a interferência do Conselho de Segurança nos assuntos internos de Estados em conexão com eventos políticos em grosseira violação da Carta de Fundação da ONU”, destacou a delegação russa ao justificar sua decisão, tomada na reunião do dia 11 de julho, na sede da ONU em Nova Iorque.

“A situação no Zimbábue não ameaça a paz nem a segurança regional, muito menos a internacional”, acrescentou o embaixador da Rússia, Vitaly Churkin. “Estamos convencidos que os problemas internos do Zimbábue devam ser solucionados através do diálogo político entre o governo do Zimbábue e a oposição”, acrescentou Churkin.

G8

Depois de ter frustrada sua tentativa de aprovar críticas ao Zimbábue, sem obter aval da África do Sul e outros países do continente - chamados ao G8 para lhe fazer coro - e após colher nova derrota na ONU, o embaixador de Bush no organismo declarou que a posição Russa era “perturbadora” e tentou ameaçar:  “A posição da Rússia questiona sua confiabilidade como parceiro do G8”.

“As críticas dos EUA e da Inglaterra é que são inaceitáveis”, afirmou o embaixador russo. “Os representantes destes países declararam que o nosso voto traiu os acordos do G8 em Tóquio. É a representação dos EUA e Inglaterra de uma proposta de resolução inadequada, que fere a abordagem coletiva expressa no Japão, e que não menciona nenhum movimento como o que eles realizaram no Conselho de Segurança da ONU”.

A Rússia “está firmemente convencida de que os problemas do Zimbábue não podem ser resolvidos elevando-os à categoria de ameaça à paz e à segurança”, concluiu Churkin.

O veto da Rússia foi acompanhado pela China, cujo embaixador, Guangya Wang, afirmou: “A preocupação do meu governo é que a adoção desta resolução seria contraproducente para as iniciativas e esforços realizados pelos africanos para encontrar uma solução no Zimbábue. Neste momento, há negociações e diálogo na África do Sul que necessitam nossa ajuda, mas não com uma resolução deste tipo”.

A África do Sul, a Líbia e o Vietnã também se opuseram à resolução – que tampouco contou com o apoio da Indonésia, que preferiu se abster. Votaram com a proposta norte-americana, além da Inglaterra, Buskina Fasso, Costa Rica, Panamá, Croácia, Itália, França e Bélgica.

Com a proposta, os EUA queriam que as sanções impostas ao Zimbábue desde 2001 se ampliassem, que os ativos zimbabuanos fora do país fossem congelados e que o presidente Mugabe e outras 13 lideranças nacionais fossem impedidos de viajar para fora das fronteiras de seu país.

O embaixador do Zimbábue, Boniface Chidyausiku, destacou que a situação do país não representa uma ameaça à paz nem à segurança e portanto não compete sua discussão no Conselho de Segurança da ONU.

UNIDADE

Os governos dos EUA e da Inglaterra queriam anular a vitória da unidade do povo obtida no segundo turno das eleições presidenciais no Zimbábue, quando mais de 2 milhões votaram em Robert Mugabe, contra pouco mais de 200 mil a favor do candidato das duas potências imperiais, Morgan Tsvangirai. Pressentindo a derrota acachapante que o esperava, Tsvangirai retirou sua candidatura dias antes.

EUA e Inglaterra queriam expandir e legitimar através da resolução na ONU sua agressão ao Zimbábue com a imposição de sanções desde 2001, quando Mugabe comandou uma ampla reforma agrária distribuindo terras dos ex-colonos aos que compõem a maioria no campo.

Aliás, foram os próprios integrantes do partido de Tsvangirai que assumiram que a reforma seria desfeita uma vez conquistado o governo pelo MDC, seu partido. Declarações estas que serviram para alertar o povo para os riscos de volta do país à condição de colônia.

O intento de destruir a reforma agrária de Mugabe ficou evidente quando a própria resolução apresentada pelos EUA na ONU – cujo pretexto era a contraposição à violência governamental no processo eleitoral – destaca, no entanto, acusações ao ministro da Agricultura (no período em que ocorreu a reforma), Joseph Made, por supostamente “destruir o setor agrícola e o comércio rural”, acusação injusta e sem nenhuma relação com a alegada violência eleitoral que teria ocorrido durante o pleito recente.

O analista político zimbabuano, Maxwell Hove, em entrevista à revista Sunday Mail, publicada no país, defendeu a reforma e apontou as reais intenções dos que propuseram a resolução contra o país: “O que eles chamam de destruição da agricultura do Zimbábue foi o poder entregue ao povo. Assim sendo, as sanções são para atingir a reforma agrária e reverter suas conquistas”.

 

 

Governo Mugabe denuncia objetivo das sanções contra o país:

“Os EUA e a Inglaterra queriam usar a ONU para instalar um regime de marionetes em nosso país”

O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, afirmou estar “feliz” com o veto da China e da Rússia à tentativa de imposição de mais sanções ao país.

O ministro da Informação do Zimbábue, Sikhanysio Ndlovu, transmitiu em nome do governo o reconhecimento ao veto dos dois países no Conselho de Segurança.

“Gostaríamos de agradecer aos países que nos apoiaram nas Nações Unidas, e gostaríamos de dizer a estes países que não vamos desapontá-los no encaminhamento para uma solução própria de nossos problemas” afirmou o ministro.

“O veto de ontem nas Nações Unidas foi uma vitória diplomática internacional, não apenas para o Zimbábue, mas para toda a África, a Comunidade para o Desenvolvimento do Sul da África e os países em desenvolvimento”, acrescentou.

Ndlovu também transmitiu o agradecimento “ao presidente sul-africano Thabo Mbeki, que se mostrou um líder por excelência ao não se curvar às pressões internacionais e às maquinações lideradas pelos EUA e Inglaterra”.

O ministro disse que a vitória foi “bem-vinda, pois EUA e Inglaterra queriam usar a ONU com a finalidade de abrir espaço para instalar um regime de marionetes a seu serviço em nosso país. Queriam praticar o racismo internacional na ONU e a entidade se recusou a isso. Não somos uma colônia britânica, estamos felizes de que a razão prevaleceu, e esperamos que tais coisas nunca aconteçam novamente”.

A África do Sul também saudou o veto da Rússia e China. Ronnie Mamoepa, porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores da África do Sul, declarou que seu país votou contra a proposta dos EUA em acordo com a recente decisão da cúpula da União Africana de “encorajar o presidente Robert Mugabe e líderes do MDC a iniciarem o diálogo para a estabilidade e reconciliação do povo do Zimbábue”.

 

Alfabetização chega a 95% no Zimbábue

“Não foram a ONU, os Estados Unidos, a Grã Bretanha nem o G-8 os que expulsaram a ditadura dos racistas do poder no Zimbábue, mas a luta armada de dois movimentos de libertação; um liderado por Joshua Nkomo e outro por Robert Mugabe, que em 1976 se uniram para criar a Frente Patriótica, proclamando a independência em 1980” afirmou Jorge Gómez Barata, professor, jornalista e pesquisador cubano, se referindo à tentativa fracassada de Washington de aplicar mais sanções contra o país africano.

“O que os EUA e Londres querem não é um Zimbábue mais democrático, eles querem é um Zimbábue servil”, assinalou, mostrando que o verdadeiro motivo dos ataques é que as enormes riquezas minerais que existem na região são defendidas por um governo soberano, que não aceita voltar ao domínio colonial.

O professor cubano lembra que esteve no país em 1980. “Depois de um complicado processo e de uma intensa luta armada, catorze anos antes que Nelson Mandela saísse do cárcere, em meio à guerra em Angola, proclamou-se a independência do Zimbábue e Robert Mugabe, um negro, assumiu a Presidência num dos dois países governados por brancos na África Negra, alma gêmea da África do Sul”, sublinhou.

Ressaltando as dificuldades, o peso na economia e os privilégios dos brancos num país em que o apartheid tinha sido banido, mas ainda o marcava, Gómez apontou “a habilidade e inteligência de Mugabe para aplicar políticas econômicas e sociais apropriadas, com as quais a população negra conquistava impressionantes avanços”.

O governo tornou a educação um direito humano básico, construiu muitas escolas nas áreas rurais e bairros pobres urbanos e, hoje, o Zimbábue é a nação com mais alto índice de educação de toda a África, com o maior nível de alfabetização que atinge cerca de 95%. “Numa década se obtiveram enormes avanços sociais e culturais, se reduziu a mortalidade infantil a 60 por mil nascimentos, se atingiu a maior média de vida de toda a África e se avançou na luta contra a fome e a pobreza”, disse.

O jornalista assinalou que, “agravadas pela desintegração da União Soviética, na década de 90, fortes sanções inglesas e norte-americanas trouxeram tempos difíceis para o povo do Zimbábue, cujo governo reagiu no mesmo espírito revolucionário que o manteve e o levou à vitória durante a luta de libertação nacional. Diante da hostilidade imperialista, tem buscado desenvolver soluções nacionais para fazer com que o país cresça”.

O governo do presidente Mugabe dirigiu um programa acelerado de reforma agrária a partir do ano 2000, vinte anos depois da independência. A demora em iniciar este programa foi provocada pela Constituição imposta sobre o Zimbábue durante as negociações de paz de 1979. Foram negociações que levaram às eleições e à independência do país. Porém, a Constituição continha cláusulas que proibiam a aquisição e redistribuição de terras nos dez primeiros anos depois da independência. Após expirar as cláusulas restritivas nos anos 90, as tentativas do governo de adquirir e redistribuir terra se depararam com uma intransigência dos fazendeiros e do governo inglês, que se recusou a liberar recursos de acordo com seus compromissos firmados. Em 1998, camponeses e veteranos da guerra de libertação deram início à ocupação das terras dos fazendeiros em todo o país.

As dificuldades de contar com sementes, água, fertilizantes, ferramentas, técnicos, máquinas, e créditos, fruto da ingerência externa, atrasaram o desenvolvimento, “circunstância aproveitada por uma oposição oportunista que nunca fez nada pelo país e agora assume os interesses dos descendentes dos colonialistas e acena aos EUA e a Londres”, denunciou o professor cubano, frisando que a política do Zimbábue “concerne só ao seu povo”.

terça-feira, julho 08, 2008

Sistema antimíssil dos EUA na Europa é rejeitado pela Rússia

 

O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, advertiu George W. Bush durante a reunião do G8 que a instalação de um sistema antimísseis dos EUA na Europa é “completamente inaceitável”.

Medvedev expressou “sérias preocupações” sobre a intenção dos EUA de instalar o sistema na República Tcheca e na Polônia, próximos à fronteira com a Rússia. O presidente russo também lamentou “a ausência de progressos reais” nas negociações com o governo norte-americano sobre o assunto.

“O Presidente russo expressou abertamente a suas sérias inquietações a propósito de informações na imprensa sobre as conversações entre os EUA e a Lituânia sobre a possível instalação de bases antimísseis”, segundo destacou o conselheiro diplomático, Sergueï Prikhodko, sobre o encontro dos de Medvedev e Bush, durante a reunião do G8 no Japão.

As negociações entre Polônia e EUA para a instalação do sistema de mísseis apresentaram algumas dificuldades no último período. Diante desta situação, o governo Bush iniciou discussões com a Lituânia. O representante do Departamento de Estado norte-americano, John Rood, esteve na Lituânia em junho.

quarta-feira, julho 02, 2008

Mercosul critica subsídios e especulação financeira

CRISE DOS ALIMENTOS

Reunidos na Argentina, países que integram o bloco sul-americano fizeram duras críticas ao protecionismo de países desenvolvidos, principalmente Estados Unidos, União Européia e Japão, os que mais subsidiam a produção e exportação de produtos agrícolas.

Marcela Valente - IPS

Data: 02/07/2008

SAN MIGUEL DE TUCUMÁN, Argentina – Os presidentes dos países que formam o Mercosul, grandes exportadores agropecuários, responsabilizaram ontem pela carestia alimentar mundial os subsídios do mundo rico e a especulação financeira. Reunidos na capital da província argentina de Tucumán, os mandatários de Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai e Venezuela, junto com chanceleres do Equador, México e Peru, expressaram sua “preocupação pela situação alimentar mundial”.
O Mercosul é formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A Venezuela ainda não completou seu processo de integração e Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru são membros associados, status também desejado pelo México que, enquanto isso, participa na qualidade de observador. O presidente venezuelano Hugo Chávez propôs criar um fundo para emergências alimentares financiado com a contribuição de um dólar para cada barril de petróleo vendido acima dos US$ 100. De acordo com um rápido cálculo que fez, com a colaboração da Venezuela seriam arrecadados US$ 920 milhões por ano, já que este país exporta 2,8 milhões de barris diários, segundo dados oficiais.
Os demais governantes se centraram nas causas da crise dos alimentos e expuseram duras críticas ao protecionismo de países desenvolvidos, principalmente Estados Unidos, União Européia e Japão, os que mais subsidiam a produção e exportação de produtos agrícolas. Várias reuniões paralelas de organizações da sociedade civil também carregaram na tinta quanto à necessidade de garantir a soberania alimentar da região, e propuseram que isso seja feito não apenas com assistência, mas com a criação de emprego decente.
Na declaração de encerramento do encontro os presidentes lamentaram a fome que afeta “quase 900 milhões de pessoas no mundo”, mas, disseram que “a causa principal da crise é estrutural e atende causada pelos subsídios à produção, exportação e outras barreiras” aplicadas pelo Norte industrial. Os governantes se comprometeram a “continuar trabalhando” para obter um “resultado justo e equilibrado” na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio, em busca de um “nível de ambição elevado no acesso aos mercados para a agricultura e os bens industriais”.
A presidente chilena, Michelle Bachelet, garantiu que um final positivo dessa rodada multilateral, destinada a liberalizar os mercados agrícolas, industriais e de serviços, “permitirá aumentar a oferta e baixar os preços dos alimentos”. Sua colega da Argentina, Cristina Fernández, centrou-se em outra causa da crise: a quebra do mercado hipotecário norte-americano, que teve um impacto financeiro nesse país e na Europa, levando os especuladores a “apostarem” em commodities (produtos básicos), afirmou.
A presidente descartou que a América do Sul, exportadora de alimentos, empurre os preços para cima. Tampouco concordou em “culpar” os países em desenvolvimento que aumentaram sua demanda, como China, Índia e outras nações asiáticas. “Parece que o problema é que muita gente que antes não comia, ou comia uma vez por dia, agora come”, ironizou. Fernández recordou que junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, no começo de junho, de uma cúpula alimentar da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), onde se falou dos efeitos perniciosos dos subsídios agrícolas, mas, nas conclusões, “não conseguimos colocar uma frase sobre esse assunto”, ressaltou.
“Temos de nos colocar como região diante destes problemas”, disse Fernández e destacou que os países do bloco regional e seus associados não estão crescendo, mas têm mais consumo interno de alimentos e, entretanto, aumentam o volume de produção e exportações. Lula pediu a criação de um grupo de alto nível para discutir segurança alimentar. Nesse grupo, que deve ter “extrema qualidade cientifica e técnica”, os integrantes podem estimar o impacto dos diferentes biocombustíveis na oferta de alimentos.
O presidente Lula está preocupado em diferenciar o combustível eficiente fabricado no Brasil à base de cana-de-açúcar, o etanol, do que é feito a partir do milho nos Estados Unidos, protegido com subvenções internas e barreiras alfandegárias. A respeito da especulação financeira, ordenou a um grupo de economistas investigar os chamados mercados futuro. “O que há por trás disso?”, perguntou. “Pode ser extremamente grave um produtor vender sem produzir o que vai colher dentro de três anos”, alertou.
O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, também protestou porque “se tenta fazer com que os países que produzem alimentos apareçam como responsáveis pela crise. Nos pedem para abrirmos nossas economias, mas eles fixam objetivos, cotas e fecham seus mercados”, afirmou. Bachelet recordou que a carestia de alimentos ameaça expandir a pobreza e atenta contra a luta para acabar com a fome, a mortalidade infantil e materna, que são parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio com os quais a comunidade internacional se comprometeu em 2000. O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou que a alimentação “é um direito humano básico” e que é obrigação dos governos tornar isso efetivo. “Há grupos que especulam, empresários que só pensam no dinheiro, mas se deve dar uma resposta aos nossos povos”, ressaltou.

Fashion Week, máfias e trabalho escravo

 

ALTAMIRO BORGES*

Nas duas últimas semanas, as elites opulentas e os apreciadores da alta costura se deliciaram com os desfiles de moda no Rio de Janeiro e São Paulo, a paparicada Fashion Week. Jornais gastaram toneladas de papel para comentar cada grife nas passarelas. Já as televisões, com destaque para a TV Globo, ocuparam os espaços nobres com suas reportagens consumistas e hedonistas bem ao gosto dos ricaços. No mesmo período, a mídia burguesa fez de tudo para desqualificar a greve de 230 mil professores paulistas, “que tumultuou o trânsito dos que foram ao desfile na capital”. A visão classista da imprensa ficou escancarada nestas duas coberturas “jornalísticas”.

Sem desprezar a criatividade dos estilistas brasileiros e as peculiaridades desta indústria no país, seria sensato que a mídia não tratasse com tanto glamour este badalado mundo da moda. O livro Camorra, de Roberto Saviano, ajuda a desmistificar este setor altamente lucrativo. Lançado em 2006 na Itália, traduzido em 47 países e com 1 milhão de exemplares vendidos, ele descortina os bastidores deste “negócio”. Para isso, o jornalista italiano se infiltrou na Camorra, a organização criminosa sediada em Nápoles que já suplantou a máfia siciliana em movimentações financeiras. Após sofrer um atentado a bomba, hoje ele vive sob escolta policial e utiliza carros blindados.

Valentino, Versace, Prada e Armani

Na sua corajosa pesquisa, Saviano descobriu que um dos braços da máfia camorrista se estende à indústria da moda. Ele comprova que famosas grifes terceirizam a sua produção junto ao sistema fabril controlado pela Camorra. Muitas confecções inclusive utilizam mão-de-obra de imigrantes ilegais, com base no trabalho escravo. Como aponta Walter Maierovitch, numa resenha do livro para a revista Carta Capital, a obra “acertou em cheio grandes grifes mundiais, como Valentino, Versace, Prada e Armani. Essas empresas desfrutaram deste esquema ilegal, protegendo-se da responsabilidade criminal por meio do ridículo argumento do ‘terceirizei e basta’”.

Somente após a repercussão do livro e as denúncias da Procuradoria Antimáfia da Itália, algumas destas bilionárias empresas começaram a criticar o mercado pirata da moda. A omissão, segundo Saviano, teria os seus motivos. “Denunciar o grande mercado significava renunciar para sempre à mão-de-obra a baixo custo que utilizavam. Os clãs teriam, em represália, fechado os canais de acesso às confecções que controlam no país e as do Leste Europeu e Oriente”. O livro revela como uma empresa legal se compõe com milhares de confecções do “sistema Camorra”. Cita os leilões de modelos em escolas de Nápoles com a presença de compradores das grifes mundiais.

Ao destrinchar como funciona a Camorra, hoje uma poderosa “multinacional” com ramificações em vários setores – alta costura, drogas, contrabando e mercado financeiro –, Saviano mostra as precárias condições de trabalho dos imigrantes ilegais e dos milhares de jovens desempregados, recrutados nas periferias napolitanas. No tráfico de drogas, os jovens fazem entregas com motocicletas fornecidas pelos clãs mafiosos. Depois de várias entregas, eles ganham a moto de presente e realizam um “grande sonho, sem perceber que os capi lucraram muito mais”.

* Jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro recém-lançado “Sindicalismo, resistência e alternativas”